SOFRIMENTO

Nas mãos de irresponsáveis

''Se a necessidade de permanência de um bebê na UTI já é um sofrimento para toda a família, o que dizer do drama de Manaus, onde pais não sabiam se seus bebês prematuros teriam o básico para sobreviver: o oxigênio?''

Cida Barbosa
postado em 21/01/2021 06:00 / atualizado em 21/01/2021 08:51

Quem já acompanhou um bebê internado numa unidade de terapia intensiva (UTI) sabe como é a agonia, a preocupação, os muitos temores. Vemos a criança ali, pequenina e indefesa, tão dependente dos equipamentos, da medicação, dos profissionais que a atendem. Ficamos à espera de um alento, que o médico dê uma boa notícia, que alguém nos diga que vai ficar tudo bem. E vem o abatimento, a aflição quando o quadro não evolui como o esperado! Nós nos agarramos à fé, à esperança de que a levaremos para casa, sim, mas sempre paira uma sombra de que o pior pode acontecer. É uma angústia impossível de explicar.

Se a necessidade de permanência de um bebê na UTI já é um sofrimento para toda a família, o que dizer do drama de Manaus, onde pais não sabiam se seus bebês prematuros teriam o básico para sobreviver: o oxigênio? Foram horas de desespero, na semana passada, até que medidas emergenciais evitaram que os recém-nascidos ficassem sem o insumo ou tivessem de ser transferidos para estados próximos. Mas outra tragédia se concretizou na cidade. Como o oxigênio não era suficiente para todas as pessoas que dele precisavam, pacientes com covid-19 perderam a vida às dezenas. O mesmo está acontecendo no Pará. Doentes morrendo asfixiados dentro de hospitais! A que ponto chegamos neste país!

A impressão é de que o Brasil está à deriva, entregue à própria sorte em meio à pandemia implacável. Já são mais de 212 mil mortos, e contando... Para acelerar a tragédia, ainda surgiu uma nova cepa do vírus, espalhando-se com agilidade. E as vacinas, que tanto esperamos, que comemoramos a cada etapa bem-sucedida, que foram tão festejadas quando da aprovação pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), no domingo, parecem, agora, mais distantes. Faltam insumos para produzi-las. Dependemos do envio deles por países que nosso governo desprezou, ridicularizou.

A população contribuiu para o caos que vivemos com o novo coronavírus? Parte dela, com certeza. Ao ignorar as medidas de segurança, ao se aglomerar, ao agir como se a doença não fosse mais uma ameaça. Mas o exemplo vem de cima. Os que deveriam comandar, impor regras, frear os inconsequentes são os primeiros a dar o péssimo exemplo.

O Brasil está entregue a autoridades tão incompetentes quanto irresponsáveis, omissas, sem nenhum cuidado com a vida humana. Que destino o nosso, de passar por um dos momentos mais sombrios da história com os piores governantes, os mais negligentes, os mais repulsivos. Estamos vivendo numa roleta-russa, na expectativa de quem vai conseguir se salvar.

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