OPINIÃO

A vergonha dos fura-filas

''Denúncias de que políticos, apadrinhados, empresários e servidores públicos da área administrativa furam a fila da vacina brotam a todo instante nas redes sociais''

Roberto Fonseca
postado em 22/01/2021 06:00 / atualizado em 22/01/2021 08:42
 (crédito: Marcelo Ferreira/CB/D.A Press)
(crédito: Marcelo Ferreira/CB/D.A Press)

Em 10 meses, a pandemia do novo coronovírus tem nos deixado várias lições. Ao mesmo tempo que aflorou uma série de sentimentos nobres em grande parcela da população, como a solidariedade, o cuidado com o próximo e a compaixão, trouxe à tona o lado mais sombrio do ser humano. Falo do egoísmo, da propagação de mentiras e da falta de preocupação com o bem comum da sociedade. E, agora, com o início da vacinação, temos visto o retrato do Brasil do privilégio e da impunidade: o desrespeito à fila.

Denúncias de que políticos, apadrinhados, empresários e servidores públicos da área administrativa furam a fila da vacina brotam a todo instante nas redes sociais. Está disseminado pelo país. Ocorre simultaneamente em várias cidades. O Ministério Público promete investigar, mas independentemente de punições — serão raras, quando existirem — é a prova da falência moral de uma parcela da sociedade. É uma elite que faz tudo para manter seus privilégios.

O escárnio torna-se ainda maior quando aliado a tudo isso tem-se a escassez de doses. É sabido que a quantidade existente, hoje, não é suficiente para vacinar todos os grupos prioritários. Ou seja, o desvio de finalidade fará falta. Corre-se o risco de não ter o número suficiente para a segunda dose, o que anularia os efeitos da vacinação. Diante disso, gostaria de saber como se sentem os fura-filas cientes de que estão tomando o lugar de profissionais da saúde que atuam na linha de frente no combate à covid-19, de indígenas, de deficientes e de pessoas idosas? Pelo visto, não se importam. Afinal, fazem questão de postar a imunização nas redes sociais.

O desrespeito aos grupos prioritários da vacinação é mais um capítulo das cenas de falta de civilidade que presenciamos no dia a dia das cidades brasileiras. Furar a fila do banco, da lotérica, do trânsito (em que muitas vezes a manobra coloca outras pessoas em risco), do supermercado é praxe. E fico pensando o que tem que se fazer para mudar o quadro. Que tal aulas de ética em todos os anos do ensino infantil, médio e fundamental? Os maus exemplos precisam ser expostos e condenados. Nunca imitados ou copiados. Compartilhe essa ideia, pelo nosso bem comum.

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