Escrevi em 12 de setembro do ano passado no meu blog no site do Correio que Alexi Stival, o Cuca, faz o melhor trabalho da temporada entre os técnicos brasileiros. Até agora, ele não me fez passar vergonha. É finalista da Libertadores. Pode tornar o Santos o primeiro time do país tetracampeão continental. Tem a chance de ganhar o segundo título do torneio na carreira. O primeiro foi há sete edições, em 2013, na conquista do Atlético-MG. Supersticioso, Cuca disputará a final contra o Palmeiras no estádio em que festejou o primeiro troféu como treinador — o Maracanã. Era o comandante do Flamengo, em 2009, na campanha do tri carioca. Exorcizou a fama de pé-frio.
Falo sobre Cuca a propósito de uma ambição do paranaense de 57 anos. Em tempos de cobrança pela presença de treinador brasileiro em algum time de ponta da Europa, ele prefere a América do Sul. Trabalhar em um país vizinho. “O Boca Juniors é gigante, nunca vai deixar de sê-lo porque perdeu o jogo. O Boca é muito grande para mim, e vou treiná-lo, se Deus quiser, gostaria de fazer, mas nunca me chamaram”, afirmou em entrevista ao site argentino Infobae depois de eliminar o time xeneize na semifinal da Libertadores no placar agregado: 3 x 0.
Cuca não seria o primeiro brasileiro a assumir o Boca. Vicente Feola teve a honra em 1961, três anos depois de levar a Seleção ao primeiro dos cinco títulos na Copa do Mundo. Dino Sani passou por lá, em 1984.
O Boca precisa de Cuca? Sim! Poucas vezes vimos o time hexacampeão da América apresentar repertório tão pobre. Cuca precisa do Boca? Agora, não. O Brasil ainda necessita dele. Torço pelo sucesso do Cuca na final da Libertadores por causa de uma palavra-chave: humildade.
Atribuo parte do sucesso dele no Santos ao reconhecimento, respeito pelo trabalho dos colegas estrangeiros no Brasil. Em vez de gastar saliva menosprezando ou relativizando os feitos recentes de Jorge Jesus e Jorge Sampaoli no país, rendeu-se, no fim de 2019, ao trabalho do português no campeão brasieliro Flamengo e do argentino no Peixe.
O Santos finalista da Libertadores mostra que Cuca estudou, assimilou e colocou em prática — com êxito — um pouquinho dos temperos de Jesus e Sampaoli. Pode até fechar a temporada sem conquistar nada, mas provou aos técnicos brasileiros que, sim, é possível reinventar-se engolindo nem que seja a seco um tiquinho dos conceitos vindos de fora.
Pois assim é o Santos. Assim pode ser o Boca se, um dia, render-se às ideias, conceitos, superstições e mania de jogar bonito do competentíssimo “lelé”do Cuca. Na Argentina, ele seria rebatizado de “El loco” Cuca.
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