Os consumidores sentem no bolso e as empresas, no caixa, a escalada dos preços em meio à pandemia da covid-19. É preciso lembrar que o Brasil precisou de cinco planos econômicos mal-sucedidos para combater um dos maiores males da economia nacional: a inflação. É certo que os índices de hoje nem de longe lembram os 84,3% registrados em março de 1990. Mas, ainda que o Índice Nacional de Preços ao Consumidor (IPCA), medida oficial para apurar os aumentos de preços de produtos e serviços, esteja, hoje, bem-comportado e dentro da meta fixada pelo Conselho Monetário Nacional (CMN), o Brasil parece flertar, vez ou outra, com reajustes que deixam nos cidadãos a sensação de que o dinheiro que carregam no bolso está perdendo valor.
O mesmo vale para empresas, que diante de um quadro de crise, com mais de 14 milhões de desempregados e o fim do auxílio emergencial, ficam pressionadas a segurar aumentos mesmo diante da alta nos custos. Para elas, a despesa cresce, mas, como as vendas não decolam, os repasses são adiados, e a margem de lucro é sacrificada. Se o IPCA, em 2020, ficou em 4,52%, o Índice Geral de Preços — Mercado (IGP-M), que mede a variação no atacado, chegou a 23,14%. Detalhe: o indicador é usado para reajustar grande parte dos contratos de prestação de serviços e aluguéis. Já para a indústria, o Índice de Preços ao Produtor (IPP), que mede os reajustes nas portas das fábricas, teve alta de 18,92% até novembro e de 19,69% no acumulado de 12 meses anteriores.
Embora a relação não seja direta, há, nesses indicadores, a percepção de que os aumentos de preços estão muito acima do registrado, na média, pelo IPCA. E o grande temor é que se venha a reindexar a economia, num processo não necessariamente oficial de realimentação de reajustes. Por hora, o consumo inibido pela segunda onda do coronavírus barra esse processo, embora repasses estejam ocorrendo de forma pontual, principalmente em setores como alimentos e bebidas. A inflação está aí e, embora não esteja fora de controle, é mais um fator que mina a confiança de consumidores e empresários e interfere na possibilidade de recuperação da economia.
A inflação, ainda que dentro de metas, se persistente, corrói a renda dos trabalhadores, que não conseguem correção dos salários com ganho real por causa da crise e do alto desemprego. Esse processo interfere diretamente na capacidade de consumo das famílias que, nos anos recentes, foi, ao lado da agropecuária, uma das alavancas do crescimento econômico.
A equipe econômica do governo parece ter submergido em meio à segunda onda da covid-19 e às limitações do teto de gastos, enquanto o consumidor se depara com aumentos expressivos de preços nos supermercados e as empresas veem os custos dilapidarem a rentabilidade dos negócios. Não se trata de cobrar interferência na economia para controlar preços, mas é preciso que o ministro Paulo Guedes indique efetivamente que as reformas para modernizar as relações econômicas, reduzir o peso dos impostos e equacionar o tamanho do estado, com privatizações e cortes de despesas, serão implementadas, entre outras medidas. A inflação gera desconfiança, e o que se precisa para sair de uma crise é exatamente confiança.
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