Rumo a Marte

Se tudo der certo, daqui a três anos, vamos testemunhar um fato que nossos pais e avós, há mais de 50 anos, acompanharam ao vivo (mas não em cores, porque as TVs eram em preto e branco). Veremos o homem pisar na Lua. Agora, aliás, veremos também uma mulher. Pela primeira vez, uma astronauta do sexo feminino desbravará o satélite natural da Terra.
Para isso acontecer, o cronograma da Agência Espacial Norte-Americana (Nasa) não poderá sofrer atrasos, e o Congresso dos EUA terá de aprovar um orçamento bilionário. A pressão para que isso ocorra é grande. Afinal, outras nações também têm planos de alunar ainda nesta década. Assim como na Guerra Fria, os norte-americanos não aceitarão ficar atrás. Querem, inclusive, construir uma espécie de hotel de trânsito na Lua — a base da qual, futuramente, os astronautas sairão rumo a Marte.
Há quem ache tudo isso uma perda de tempo e de dinheiro. Tanta gente sofrendo na Terra, para quê explorar o espaço? (Há, inclusive, quem acredite que o homem jamais saiu daqui. E há os “terraplanistas”. Mas essa é outra história…).
A corrida espacial começou quando os Estados Unidos e a antiga União Soviética (URSS) decidiram disputar o Universo. A Rússia saiu à frente, mas não saiu da órbita. Quem o fez foram os EUA, que chegaram à Lua em 1969. O mundo assistiu, abismado e orgulhoso, àquele feito. O céu já não era mais o limite.
Os EUA ganharam a corrida. Mas, para o resto do planeta, esse foi só um detalhe. A viagem à Lua resultou em inúmeros avanços tecnológicos aplicados aqui na Terra. Computadores de bordo, câmeras de celulares, cobertores térmicos de uso hospitalar, sistema de segurança alimentar e outra infinidade de ganhos que tornaram a vida mais fácil têm origem nas missões Apollo.
Na década de 1970, ocorreu o último voo tripulado à Lua. O público já havia perdido o interesse, a URSS dava sinais de desmoronamento, e a tecnologia da época não permitia explorar mais do que foi possível. Com os conhecimentos e dispositivos que temos, hoje, o retorno ao satélite sem dúvidas vai não só trazer mais benefícios práticos para a Terra — a Nokia, por exemplo, desenvolverá um sistema de telecomunicações a 380,4 mil quilômetros daqui — como abrirá um novo horizonte científico.
Durante três dias — de sexta-feira passada a domingo—-, o Correio publicou uma série de reportagens sobre a nova corrida extraterrestre. Dessa vez, disputada por mais atores. China, Índia, Israel, Japão, União Europeia e Emirados Árabes também estão de olho na Lua e em Marte e têm seus próprios cronogramas. Ainda há razões políticas por trás. Mas, agora, a ciência é a verdadeira protagonista dos novos programas espaciais — muitos deles, inclusive, de cooperação internacional, como a futura base lunar.
Como a lição deixada por cientistas que se desdobraram para desenvolver uma vacina para o Sars-CoV-2 em tempo recorde, apesar de patéticas disputas políticas, espera-se o mesmo da nova fase de exploração espacial. Vencerão, no fim, a ciência e a humanidade.