VIOLÊNCIA CONTRA CRIANÇAS

Tortura e descaso

''O Brasil é violento contra crianças e adolescentes e não há uma mobilização nacional para combater essa chaga''

Cida Barbosa
postado em 04/02/2021 06:00 / atualizado em 04/02/2021 08:48
 (crédito: Ilustração / Correio Braziliense)
(crédito: Ilustração / Correio Braziliense)

A tortura do menino de 11 anos, em Campinas (SP), é mais uma prova da hedionda combinação entre a perversidade humana e o descaso do poder público com a infância. Como sofreu aquele garotinho! Era mantido dentro de um barril, acorrentado por cintura, pés e mãos e alimentado com casca de banana e fubá cru. Ao ser socorrido por PMs, no sábado — graças a denúncias de vizinhos —, mal conseguia se mexer. A imagem do corpinho desnutrido e machucado dele é de doer na alma.

O miserável que o martirizou foi o próprio pai, com a conivência da namorada e da filha dela. Três seres deploráveis, abjetos, desprezíveis. Agora, eu perguntou: como chegou a esse ponto? E o restante da família dele, por que nada fez? Por que os órgãos de proteção não agiram para retirar esse menino da guarda do monstro?

A Prefeitura da cidade anunciou a abertura de investigação para saber se houve falha de órgãos protetivos. É óbvio que sim, ou a vida do menino não teria chegado ao patamar da barbárie. Resta saber se haverá responsabilização.

O Conselho Tutelar de Campinas disse que acompanhava a família há pelo menos um ano, por causa da situação de vulnerabilidade social. Segundo relatou, informações obtidas em dezembro de 2020 e janeiro de 2021 mostravam que “a situação da criança e da família vinha evoluindo bem e positivamente”. Dá para acreditar numa declaração dessa?! Vizinhos contaram que os maus-tratos ocorriam havia anos, apesar das denúncias ao órgão.

O Ministério da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos assegurou o acompanhamento psicológico da criança e analisará como se dará o acolhimento dela, se por parentes ou por uma instituição. Não fará mais do que a obrigação, claro. É preciso mais ação das autoridades públicas para garantir a segurança de meninos e meninas e não apenas atuar na redução de danos. O Brasil é violento contra crianças e adolescentes e não há uma mobilização nacional para combater essa chaga.

Imprescindível ressaltar, ainda, o poder da denúncia. O martírio do menino de Campinas só foi interrompido porque moradores da região notaram que ele havia deixado de ir à escola e de brincar com outras crianças e acionaram a polícia. Essas pessoas fizeram a diferença na vida do garotinho. Todos nós podemos fazer o mesmo, denunciando as violações por meio de plataformas e canais, como new.safernet.org.br/denuncie, Disque 100 e Proteja Brasil, com anonimato garantido. Enquanto o Estado é falho na prevenção, cabe a cada um de nós agir, urgentemente, no socorro aos inocentes.

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