Na década de 1980, Brasília entrou para o mapa da música popular brasileira em função do boom do rock na cidade, com o surgimento de bandas como Legião Urbana, Capital Inicial, Plebe Rude e Detrito Federal. Mas, paralelamente a este movimento havia um ou outro de grande destaque, protagonizado por grupos instrumentais, que, até hoje, se mantêm no imaginário de muita gente, entre eles, Artimanha, Chakras e Instrumental e Tal. Os dois primeiros tinham entre os integrantes Toninho Maya, guitarrista, violonista e arranjador virtuosíssimo, dono de técnica exponencial e de reverenciada performance cênica.
Já famoso, quando voltava a Brasília, Renato Russo, líder da Legião, costumava ir ao Concerto Cabeças, na rampa acústica do Parque da Cidade, só para curtir Toninho tocar. Embora pertencentes a diferentes universos — um era roqueiro e o outro jazzista —, os dois tinham a música como elo, responsável, também, pela amizade e a admiração mútua que os uniam. Certa vez, o autor de Eduardo e Mônica, durante entrevista que me concedeu, disse ver em Toninho um dos mais brilhantes discípulos de Jimi Hendrix.
Aliás, não por acaso, Toninho foi um dos primeiros convidados de Gustavo Vasconcellos para participar de um megashow, em tributo a Hendrix, ao lado de outros oito guitarristas, no UK Brasil, na 411 Sul, intitulado Guitarras do Cerrado, que gerou álbum homônimo, lançado pelo selo GRV. Mas era na praia do jazz que o talento dele se esparramava. No Artimanha, tinha a companhia de Jorge Helder, Rênio Quintas e Ademar Alves. O quarteto brilhou na noite oitentista brasiliense. Ontem, pesaroso ao receber, por telefone, a notícia da morte do amigo, Jorge Helder (radicado no Rio de Janeiro, onde é baixista das bandas de Chico Buarque e Maria Bethânia), emocionado, recordou-se das apresentações que fizeram com o Artimanha. Pena que não haja registro em disco daquele som sofisticado.
A última vez que estive com Toninho foi há dois anos, quando, por acaso, nos encontramos no projeto Buraco do Jazz, na área externa do Complexo Cultural da Funarte. Sem ele, fica um gigantesco vácuo na cena musical de Brasília.
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