Sim, as doses de vacina injetaram um ânimo de esperança que enche nossos corações de alegria. Ver os idosos vacinados e imaginar que muito em breve sairão da clausura forçada imposta pela covid-19 é um grande alento, uma trégua na tristeza e no isolamento, que privou tantos da alegria genuína da convivência com os seus. A liberdade e o direito de ir e vir assegurados pelo enorme esforço da comunidade científica mundial são o maravilhoso recado do universo neste momento. Devemos honrá-lo e sermos gratos. Mas a guerra não é finda, nem ganha.
A pandemia do coronavírus legou a nós a dor extrema das despedidas sem abraço e sem consolo. Ao luto dolorido das famílias destroçadas, somam-se a exaustão dos profissionais da linha de frente, a depressão e o pânico de muitos, a falência de tantos mais. Continuam a espera angustiante por leitos de UTI, corredores lotados de doentes sem toda a assistência que mereciam, micro e pequenos empresários respirando por aparelhos, pessoas passando fome sem auxílio, desempregados sem oportunidades reais, pequenos produtores sem conseguir vender a colheita. Quantos mais? A lista de perdas é enorme e continua a crescer.
Havemos de recuperar a consciência de que não se brinca com a vida, de resgatar a empatia com as dores e as necessidades do outro, a irmandade com os mais necessitados. Nosso cenário ainda é feito de esqueletos de uma guerra cruel, há escombros por toda a parte e muitos órfãos e sobreviventes precisando de uma mão para apoiar, para puxar dos vazios profundos, do escuro, do poço que parece não ter fundo. Precisamos oferecer colo, solidariedade, generosidade, gentileza. Ninguém solta a mão de ninguém. E todo mundo mantendo o uso de máscara e todas as medidas preventivas.
Há muito a ser feito. A vacina é o caminho da reconstrução. Pavimentar esse caminho, oferecendo esse insumo, que hoje é o único capaz de salvar vidas, é obrigação das autoridades, do Estado, dos governos. Não há desculpas para o que deixou de ser feito. Não há espaço para o negacionismo, para a incompetência, para a politização ridícula. Quem errou a mão, quem reverberou as vozes da ignorância, foi autor e cúmplice de uma imensa tragédia humanitária.
Sou uma pessoa de fé e acredito na única redenção possível: o compromisso público e diário, o trabalho exaustivo e constante, para poupar vidas e para evitar ainda mais sofrimento. Ou faz isso ou inscreve seu nome como vilão da história. Aos políticos e demais autoridades de todos os poderes constituídos, digo: salvem sua biografia e trabalhem pelo bem. Em algum momento, a conta será cobrada. A população já pagou a sua.
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