Estava tomando café da manhã na padaria, quando um senhor bem-vestido e com largo sorriso, perceptível até sob a máscara, sentou-se na mesa ao lado. Logo contou ao garçom o motivo da felicidade: tinha acabado de ser vacinado contra a covid-19. Em seguida, iniciou uma conversa ao telefone, avisou ao interlocutor que enviaria uma foto e que ele entenderia do que se tratava.
Não vi o que o senhor mandou pelo celular, mas posso apostar que era uma imagem similar às que, nos últimos dias, vêm viralizando nos noticiários e nas redes sociais e que tanto têm me emocionado: idosos, por todo o país, sendo imunizados contra esse vírus infernal. Assistir a pais e avós de amigos, além de celebridades que tanto admiro, recebendo a vacina me enche de esperança.
Ainda não vencemos a guerra contra o novo coronavírus, mas, aos poucos, vamos ganhando algumas batalhas. E nada mais justo que os idosos tenham sido, logo depois dos profissionais de saúde que então na linha de frente, os escolhidos para serem os primeiros beneficiados em mais essa etapa da luta — justamente eles, que saíram tão fragilizados dessa pandemia.
Não têm sido raros os casos de pessoas que passaram dos 60 — e que sempre foram ativas e independentes — relatarem medo de sair de casa, de voltar ao convívio social. Não é para menos. Privadas da convivência com familiares e amigos durante meses viram-se sob constante ameaça de morte pelo simples fato de terem mais idade.
Não à toa, passamos a ouvir com frequência a expressão síndrome da cabana. Não se trata exatamente de uma doença ou de um transtorno mental, mas de um estresse muito forte provocado quando alguém precisa sair do longo isolamento doméstico para voltar a uma rotina presencial.
Ganhou este nome, no início do século 20, em referência às pessoas que ficavam isoladas durante períodos de nevasca, no Hemisfério Norte e, depois, tinham de retomar o convívio social. É razoável esperar que haja um forte crescimento no número desses casos em consultórios psiquiátricos.
Eu, que ainda tenho alguns anos até entrar no grupo dos idosos, confesso que já não sei muito bem como agir em público. Nada me parece natural. Por isso, minha esperança se renova a cada dose de vacina injetada. É como se estivéssemos caminhando de volta à normalidade. Aquele senhor da padaria tem mesmo muito a festejar.
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