Fome
Um dos grandes nomes do Modernismo brasileiro, o poeta Manuel Bandeira (1886-1968) já chamava a atenção pública para tão grave e inaceitável problema: “Vi ontem um bicho/Na imundície do pátio/Catando comida entre os detritos./Quando achava alguma coisa,/Não examinava nem cheirava:/Engolia com voracidade./O bicho não era um cão,/Não era um gato,/Não era um rato./O bicho, meu Deus, era um homem” (O Bicho, 1947). Relatório da Organização das Nações Unidas (ONU) frisa que, em 2019, mais 10 milhões de pessoas no mundo ingressaram no inferno da fome, que hoje abriga 690 milhões, 8,9% da população mundial. Dois bilhões de pessoas sofrem de insegurança alimentar, ou seja, não têm acesso regular a alimentos nutritivos em qualidade e quantidade suficientes. Cerca de três bilhões não têm meios para manter uma dieta considerada equilibrada, com ingestão suficiente de frutas e legumes. Se as tendências se mantiverem, o número de pessoas afetadas pela fome ultrapassaria 840 milhões até 2030. Fica o intolerável pelo desconcertante: “No frio inclemente/Na rua do abandono/Embrulhei a fome no papel de pão”. Assim, o poeta e músico Joel de Oliveira aponta muito bem para o “x” do problema: justiça e solidariedade ausentes, fome permanente!
» Marcos Fabrício Lopes da Silva, Asa Norte
Direitos humanos
Entramos no túnel do tempo. Mas o destino não é o futuro, onde os carros serão substituídos por pequenas aeronaves. O caminho é oposto. Vamos ao encontro de séculos passados, marcados por uma desigualdade alucinante, quando alguns, pela cor da pele, não tinham alma e eram tratados como mercadorias, não merecendo a consideração dada aos animais.Vamos ao encontro do lado mais obscuro da força. A ministra Damares Alves editou portaria, apartando definitivamente a participação de representantes da sociedade civil, para revisar a política de direitos humanos. Não se pode esperar nenhum avanço, mas só retrocessos e mais retrocessos. Hoje, as crianças e adolescentes não contam mais com o Conselho Nacional dos Direitos da Criança e do Adolescente (Conanda) — não têm voz, pois devem ser servis aos adultos, que não lhes consegue dar educação, conforto nem têm compreensão de suas inquietudes. Devem, como ensinou o atual ministro da Educação, serem educados sob vara. Não é preciso ser adivinho ou ter bola de cristal. A intervenção de Damares nas regras de direitos humanos será a perda de conquistas sociais e humanas duramente alcançadas. Será a sublimação do conservadorismo no que ele tem de pior, em que negros, os LGBTQI+, indígenas, mulheres e menos aquinhoados terão seus direitos açoitados até a morte. Prevalecerá o atraso descabido no século 21.
Giovanna Gouveia,
Águas Claras
Vacinação logo
Li no jornal que o GDF está esperando uma nova remessa de vacinas para aplicar nos brasilienses. Enquanto isso, Brasília continua sendo uma das cidades com maior percentual de mortos por população. Acho que faltou um planejamento maior por parte da Secretaria de Saúde e uma postura mais arrojada do governador em procurar os laboratórios para comprar vacinas independentemente do governo federal. Porque não compra a vacina russa Sputnik que será produzida aqui? Não seria mais fácil de usar? O certo é que precisamos logo de mais vacinas.
» João Carlos Costa, Samambaia
» Está na hora de as instituições privadas adquirirem no exterior vacinas para os seus funcionários e, se possível, estender a imunização aos familiares. O governo federal se revela, a cada dia, mais incapaz de prover saúde para os brasileiros. As (im)providências do Ministério da Saúde são vergonhosas, mas não deixam dúvida quanto ao desprezo que o governo bolsonarista tem em relação à vida da população. As informações e as declarações do general, subalterno do capitão, a cada dia, se distanciam da verdade. Os fatos mostram isso com muita clareza. A sociedade brasileira está largada ao deus-dará, apesar de a crise se agravar a cada momento. Hoje, sabe-se que o vírus sofreu mutações e tem uma variante brasileira, mais aterradora do que a primeira versão que chegou ao país um ano atrás. Muito oba-oba na chegada das primeiras doses de vacinas. Mas cadê mais doses para completar o ciclo — a segunda dose. O que se constata é uma total irresponsabilidade das autoridades, principalmente do Ministério da Saúde em meio à maior crise sanitária dos últimos 100 anos.
» Gilberto Borba, Sudoeste
Grupo de risco
Tenho quase 70 anos, sou portador de duas comorbidades — tive câncer e sou diabético do tipo “B” — mas ainda estou na fila esperando a minha vez de ser chamado para vacinar. Enquanto isso leio nos jornais os erros do governo federal que esperou muito tempo para comprar vacinas no exterior e o governo local que não procurou ninguém. Os governos da Bahia e do Paraná compraram a vacina russa e nós aqui em Brasília nada. A Anvisa também não ajuda. Exige um monte de regras, mas imagino que não deva ter nem pessoal em quantidade suficiente para analisar os pedidos de registros da vacina. O melhor a fazer é autorizar todas as vacinas que outros países já estão usando.
» Ângela Alcântara Silva, Asa Sul
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