“A realidade é apenas
uma ilusão, embora
muito persistente”
Albert Einstein
Os objetos são percebidos via órgãos dos sentidos, mas nenhum desses órgãos percebe o objeto realmente. Cada propriedade é “interpretada” por uma região cerebral associada a um dado órgão sensorial. Assim, a visão detecta a cor e a forma, o tato a temperatura e a textura e a mente interpreta essa informação e “assigna” um nome, forma e propriedade, de modo que úmido, frio e azul se tornam “água”, e quente, amarelo e tremeluzente se tornam “fogo”. A conclusão lógica é que fogo, água e todos os objetos são apenas interpretações mentais, pensamentos, e sua localização não está “lá fora”, mas na mente. Por outro lado, sob o ponto de vista estritamente físico, nunca entramos em contato com os objetos, dada repulsão entre elétrons, e a ausência de real “solidez”, desde que 99,99% do átomo é vazio, conhecido como “vácuo quântico”.
Então, a sensação de contato com objetos é dada pela mente, logo não vivemos em um universo de objetos, mas, sim, num universo de pensamentos! Consequentemente, a chamada “realidade” é construída pela mente a partir de estímulos sensoriais, e só existe na mente, o que vem ao encontro do princípio antrópico da física, o qual estabelece que qualquer teoria válida sobre o universo só é consistente com a existência de um observador.
Essas novas ideias sobre a realidade, um tanto revolucionárias e disruptivas, têm atraído cada vez mais seguidores entre cientistas de diversas áreas, tais como física, biologia e neurociência, os quais têm abordado mais seriamente um antigo problema, ainda sem resposta, “o problema da consciência”. Conclusões convergentes e revolucionárias apontam para a existência de uma “consciência”, fora do espaço-tempo, como sendo a natureza fundamental da realidade. Segundo este modelo, a “realidade objetável” surge na interface espaço-tempo a partir da consciência. De fato, o que percebemos como realidade por meio de nossos sentidos está muito longe de ser a verdadeira realidade.
Tudo isso não é percebido, porque a maioria da humanidade é programada para ver o mundo como “lá fora”, e não como uma criação mental. É como se vivêssemos em um jogo de realidade virtual. Esse programa de realidade virtual é chamado de “Maya” pelo Vedanta, e, recentemente, de “Matrix”, no ocidente, e é o poder que tanto vela quanto projeta, escondendo a verdadeira realidade de nós. Assim, como o axioma da ciência que estabelece que “só porque algo parece ser uma coisa, não significa que realmente seja” os objetos existem, mas não são reais.
Quando sonhamos, somos tanto o sujeito quanto os objetos, a casa, as pessoas, as árvores ... Toda a criação! Isso nos leva à pergunta: como um sonho difere do mundo que vivenciamos acordados? Um sonho parece real enquanto se está nele, e, só ao acordar, percebe-se que era sonho. Da mesma forma, os objetos experienciados no estado de vigília são apenas um pensamento. De fato, não há diferença entre os estados de vigília e sonho. O mundo e o universo são como um sonho, porque não duram, nem são o que parecem ser. Então, todas as formas, das grosseiras às sutis, isto é, objetos, pensamentos, sentimentos e emoções são criações mentais, não são reais. Isto nos leva a seguinte pergunta: se tudo é “aparentemente real”, que é real?
Parmênides, filósofo grego, definiu assim o “real”: “Para que algo seja real, deve ser permanente, imóvel, imutável e indivisível”. Baseado neste axioma, para algo ser real não pode estar sujeito ao tempo e ao espaço, isto é, tem que estar fora de Maya, o que nos conduz à seguinte questão: o que poderia estar fora do espaço-tempo e, assim, ser verdadeiramente real?
Para responder a questão, torna-se prioritário acessar o conhecimento contido em tradições antigas de sabedoria, como budismo, hinduísmo, sufismo, taoísmo, cristianismo e judaísmo, onde essa e outras questões foram abordadas e caminhos sinalizados. Curiosamente, todas elas concordam que a verdadeira realidade é não dual, completa e indivisível, ao contrário do que percebemos, intuímos. Nesse nível de realidade, mais profundo, não existe separação, portanto, eu, você, o mundo e o próprio universo, não teríamos uma real existência e não passaríamos de construções mentais. Sendo assim, todos os objetos do mundo fenomênico surgiriam dessa realidade mais profunda, o substrato de toda a existência.
Fazendo uma analogia com a miragem e o deserto, a miragem — Maya depende da existência do deserto — consciência, mas o deserto não depende da miragem para existir e não é afetado por ela. Um paralelo encontrado na ciência vem da mecânica quântica que descreve os dois níveis de realidade como a alternância entre onda — partícula, ou no Zen Budismo como a alternância entre a forma — não forma. Este conhecimento encontra-se resumido na enigmática frase: “Os objetos sou eu, mas eu não sou os objetos”. Maya inverte a relação entre existência — objeto, dando ao objeto uma aparente existência independente. Finalmente esse conhecimento nos leva à questão mais importante da existência humana: que sou eu? Se eu estou presente antes e depois do aparecimento dos objetos, dos pensamentos, dos sentimentos, eu não posso ser eles. Em suma não posso ser nada do que percebo. Sendo assim, eu só posso ser a própria existência, a pura consciência, sempre presente, livre de atributos.
Agora você pode estar se perguntando qual é a utilidade de saber que o mundo não é real, na verdade, pode parecer um pouco perturbador que nada seja real. Se os objetos não são reais, a vida é apenas uma existência de sonho, certo? A resposta é sim, mas não se desespere, esse conhecimento pode conduzi-lo a atingir o mais importante desejo humano, a “felicidade”. Tomar consciência de que os objetos não são reais, pode mudar completamente sua percepção de mundo, e, assim, compreender que a felicidade que tanto procura não está nos objetos, uma vez que eles não são reais, apenas acontecem — aparecem em você, consciência, então o único problema, obstáculo para a felicidade é a ignorância, que ignorância? A ignorância de sua verdadeira natureza. Uma vez que elimine essa ignorância fundamental, terá encontrado a verdadeira “liberdade”, a verdadeira “felicidade”.
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