Visão do Correio

Um tiro no escuro

Correio Braziliense
postado em 16/02/2021 21:19

É compreensível que o presidente Jair Bolsonaro queira agradar parcela de seu eleitorado editando decretos que ampliam o porte e a posse de armas de fogo no Brasil. Era uma promessa de campanha. Nada mais natural que busque meios de cumpri-la – mesmo que esteja na contramão das necessidades mais urgentes do país, que são vacina, emprego e educação. O que o presidente não pode é dar um tiro no escuro, atropelar as leis do país com canetadas que terão um efeito desastroso a médio e longo prazo.
Nesse sentido, foi certeiro o 1º vice-presidente da Câmara, Marcelo Ramos (PL-AM), ao criticar as medidas de Bolsonaro: “Mais grave que o conteúdo dos decretos relacionados a armas editados pelo presidente é o fato de ele exacerbar o seu poder regulamentar e adentrar numa competência que é exclusiva do Poder Legislativo”, escreveu o deputado em sua conta no Twitter.
Já o presidente da Casa, Arthur Lira (PP-AL) – que se elegeu com o apoio escancarado do Planalto – entende de maneira diferente, acha que Bolsonaro não invadiu competências nem extrapolou limites, apenas modificou decretos já existentes. Em outras palavras, isso significa que dificilmente será aprovado na Câmara algum projeto de decreto legislativo que anule as medidas tomadas pelo chefe do Executivo. Resumindo: a polêmica vai acabar mesmo no Supremo Tribunal Federal.
O fato é que a discussão sobre flexibilização de armas de fogo neste momento é sem cabimento. A quem interessa ampliar o número de armas num país marcado por uma epidemia de mortes violentas? Quem, além dos fabricantes de armas, vai se beneficiar com esses decretos? Bolsonaro diz que “o povo está vibrando” com as medidas. Mas é de se perguntar: que povão é esse? Um revólver custa, por baixo, de R$ 3 mil a R$ 4 mil. Que assalariado tem dinheiro para comprar?
O governo deveria estar totalmente voltado para resolver o problema número 1 do país, que é a falta de vacinas para imunizar a população. Sem vacinação em massa, os casos de covid-19 se multiplicam, a economia não anda, os trabalhadores ficam sem emprego, as empresas fecham e o governo não arrecada.
Enquanto no Brasil se perde tempo com decretos sobre armas, os números da pandemia só aumentam. No caminho contrário, vacinação e medidas para deter o avanço do coronavírus parecem fazer efeito em outros países, onde os gráficos mostram uma queda de casos e mortes. Bolsonaro quer mais armas; o Brasil precisa de mais vacinas.

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