Desde 1960

Visto, lido e ouvido

A fantasia do samba

Circe Cunha (interina) // circecunha.df@dabr.com.br
postado em 16/02/2021 21:23

Foi-se o tempo em que o samba e, principalmente, os sambistas eram alvos constantes das batidas policiais nos subúrbios cariocas. Na verdade, toda a cultura oriunda da classe trabalhadora e, até mesmo, seus credos eram olhados com desconfiança e, não raro, reprimidos com violência a mando das elites nas primeiras décadas do século 20.
Conhecedora das agruras que vinha sofrendo desde que foi trazida à força para este continente, a população negra continuava marginalizada e perseguida, mesmo com o fim oficial da escravidão no século anterior. Talvez, por isso mesmo, pressentia que a preservação de elementos de sua cultura, como um elo a fortalecê-la, seria mais do que uma forma de resistir contra a opressão. Era a própria confirmação de que essas eram as verdadeiras raízes que iriam fixar, fortemente, essas populações perseguidas em solo brasileiro. Além do mais, era através do samba, do candomblé, da capoeira e de outras manifestações de arte próprias que esses brasileiros encontravam um refúgio e um bálsamo contra as hostilidades do mundo, pretensamente civilizado. Era necessária essa catarse para suportar uma vida tão adversa.
Por outro lado, era no samba e nos ritmos desse gênero que muitos encontravam um meio de ridicularizar as elites, que, em pleno clima tropical, sob o calor escaldante do sol de verão, desfilava de fraque, cartola e outras indumentárias, buscando imitar os costumes e trajes europeus. De fato, se havia algum grau de autenticidade e de cultura genuína, essa não seria uma marca das elites, e sim da população negra.
No samba Pra que discutir com madame, de Janet de Almeida e Haroldo Barbosa, interpretada magistralmente por João Gilberto, fica claro esse antagonismo entre o mundo que se crê grã-fino e sofisticado e o samba e sua gente humilde. “Madame diz que a raça não melhora/Que a vida piora por causa do samba / Madame diz o que samba tem pecado/Que o samba, coitado, devia acabar/Madame diz que o samba tem cachaça/Mistura de raça, mistura de cor/ Madame diz que o samba democrata/É música barata sem nenhum valor/Vamos acabar com o samba/Madame não gosta que ninguém sambe/Vive dizendo que samba é vexame/Pra que discutir com madame?/Vamos acabar com o samba/Madame não gosta que ninguém sambe/Vive dizendo que samba é vexame/Pra que discutir com madame?/No carnaval que vem também concorro/ Meu bloco de morro vai cantar ópera/E na avenida, entre mil apertos/Vocês vão ver gente cantando concerto/Madame tem um parafuso a menos/Só fala veneno, meu Deus, que horror/O samba brasileiro democrata/Brasileiro na batata é que tem valor”.
Houve um tempo em que ser sambista era contravenção e dava cadeia. Isso nos idos de 1920 em diante. Mas como a contravenção não escolhe classe social, sendo aperfeiçoada pelas elites, que fez desse modo de vida imensas fortunas, sem ser importunada pela lei, o samba também encontrou um meio de se fantasiar e entrar disfarçado nos salões chiques, de onde não mais saiu e hoje entretém seus antigos algozes.

 

A frase que não foi pronunciada

“Com o WhatsApp foi possível separar os internautas em dois tipos: os que querem impor a própria vontade, desobedecendo as regras do grupo com assuntos impertinentes, e os que obedecem e são obrigados a aguentar o discurso da tolerância.”

Alguém do grupo Fale com o Administrador do Lago Norte

 

Tolera-se?

» Falando em regras, há operadoras de cartão de crédito que não respeitam a lei do telemarketing e telefonam para residências do DF em horários impróprios para vender produtos.

Arte

» Escola de Música de Brasília recebe inscrições até o dia 20 deste mês para o Curso Internacional de Verão versão online. Tudo de graça.

Lupa

» Um passeio de metrô para Águas Claras é uma boa referência para traçar no mapa do DF algumas novas invasões brotando da terra.

Caridade

» Moradores da Asa Sul e igrejas se mobilizam para ajudar os mendigos da cidade que se concentram atrás da UDF, no Centro de Acolhimento.

Crise?

» Quem quis passear e comprar no feriado em Brasília só encontrou shopping aberto. A maioria das lojas nas entrequadras e W3 fecharam as portas.

 

História de Brasília

Pois bem, o IAPC fixou a taxa de limpeza em 1,2% sobre o valor do imóvel. Sendo assim, haverá por mês, para a limpeza e conservação de cada bloco, a importância de mais ou menos 4 mil cruzeiros. Com o salário mínimo a Cr$ 13.400,00, está visto que nem faxineiros os prédios possuirão.
(Publicado em 26/01/1962)

 

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