Opinião

Excelência em covardia

Ana Dubeux
postado em 21/02/2021 06:00 / atualizado em 21/02/2021 10:12
 (crédito: Lucas Pacífico/CB/D.A Press)
(crédito: Lucas Pacífico/CB/D.A Press)

Acho realmente muita graça quando as pessoas invocam a liberdade de expressão para desferir golpes contra a Constituição, destilar veneno e soprar patifarias, preconceitos, discriminação e animosidade pelas redes sociais. Já virou piada pronta. Será que de fato pensam que estão somente exercendo o direito de se manifestar livremente? Talvez essas almas atormentadas pelo ódio de fato imaginem que está tudo certo, afinal estão “apenas” dizendo o que pensam. A questão é mais complexa do que parece. Ignorância dá cria e há zilhões de filhotes por aí.

O recente caso do deputado Daniel Silveira (PSL-RJ) não é único, mas já é emblemático. Ataques aos ministros do Supremo Tribunal Federal e a defesa inconteste do mais perverso instrumento da ditadura, o AI-5, não passaram em branco, como normalmente passam tantos absurdos. Mas o rugido de leão virou miado de gatinho. Preso, mantido preso pelos pares, pode ter o mandato cassado por quebra de decoro. Serve de exemplo.
Escoltados por mandatos, muitos parlamentares acreditam que podem tudo, inclusive, fazer discursos absolutamente antidemocráticos. Ainda que haja discussão jurídica e entendimentos distintos sobre a prisão em flagrante neste caso, a questão abre um precedente importante. Talvez, agora, muitos outros guardem lembrança do infortúnio que pode significar abrir a boca para atentar contra a Constituição ou cometer crime de qualquer outra natureza.

Não bastasse a desonra diária ao voto do brasileiro, temos de lidar com integrantes do Congresso que não sabem sequer a distinção entre certo e errado; entre liberdade e selvageria; entre democracia e ditadura; entre direito e dever. Muitos só entendem a importância do seu próprio querer e levam adiante a lei do “eu quero, eu posso”. Feito adulto mimado pelo próprio ego e extasiado pela imagem de um líder que cresceu no obscurantismo.

Liberdade de expressão é um valor sem preço, mas com limites. Não se pode, com o pretexto de exercer esse direito, incitar a violência, ameaçar, difamar, entre outros. A fala do deputado Daniel Silveira atenta contra a democracia, estimula a justiça com as próprias mãos e não serve a mais nada que não seja externar o ódio que lhe pertence. Diga-se de passagem, um ódio coletivo que nutre uma turba de discípulos animados pela ignorância e pela estupidez.

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