Especialistas em urbanismo, uma ciência que engloba ampla variedade de técnicos em todas as áreas relativas à vida em grandes cidades vêm, desde sempre, alertando para os riscos que representam para toda a população as construções feitas de maneira açodada, tanto de edifícios quanto de quadras residenciais, praças e toda e qualquer obra que implique em impermeabilização do solo, movimentação de terra, escavação e outras modificações no solo.
Para tanto, torna-se necessário um estudo prévio e minucioso de impacto que esses empreendimentos podem causar. Não é por outro motivo que os alertas feitos por especialistas quase sempre encontram dificuldades em ser aceitos tanto por parte dos empreendedores quanto por parte daqueles que vão se beneficiar com essas obras. Sem esse conjunto de estudos de impacto, toda e qualquer obra é um risco potencial.
O poderoso lobby dos construtores junto à classe política, principalmente aquela com assento na Câmara Distrital, tem sido, desde a emancipação política do Distrito Federal, um entrave, quase intransponível, para a aceitação dos pareceres dos técnicos. São constantes os embates entre especialistas em urbanismo, tanto dos que cuidam do Patrimônio Histórico quanto dos que lidam diariamente com as questões urbanas.
Contra essa turma poderosa, os técnicos pouco podem decidir. Em Brasília, o preço das projeções dos poucos lotes que ainda restam no Plano Piloto torna essa questão uma luta de Golias contra o Gigante. A intervenção política nas questões urbanas transformou os pareceres técnicos em meros instrumentos burocráticos, ao mesmo tempo em que deu aos grandes empresários o poder de decisão sobre o que vai ser construído e de que forma.
Com isso, quem padece é o cidadão de bem, que paga seus impostos e quer uma cidade segura e com seus espaços livres respeitados, conforme projeto de seus idealizadores. Trata-se, aqui, de uma questão que afeta a vida de todos e que passou a ser resolvida pelo poder da grana e não da razão. O prejuízo trazido por essas obras, tocadas sob a batuta dos políticos vem, pouco a pouco, não apenas desvirtuando o projeto original da capital, um dos mais admirados do mundo, como causando grandes prejuízos a vidas e patrimônio.
As enchentes, que nessa semana, alagaram as quadras residenciais no começo da L2 Norte, com prejuízos para todos os moradores, tem sua origem em megaconstruções erguidas naquela área, como resultado ainda da famigerada construção do Estádio Mané Garrincha. São obras feitas a toque de caixa, que desmataram o local, impermeabilizaram o solo e, pelo visto, não apresentaram bons estudos de impacto prévio. Com as chuvas copiosas deste mês, tanto esses moradores quanto outros, no final da Asa Norte, estão padecendo com os alagamentos.
No final da Asa Norte, o problema é o mesmo e resulta das obras de construções do Noroeste e se repetem a cada ano. A questão é quem indenizará os prejuízos sofridos por esses moradores? Quem será responsabilizado por essas obras? Quando essa coluna insiste em dizer que políticos não deveriam decidir ou legislar sobre questões urbanas, é por que sabe que esse é o pior caminho e aqueles que só conduz ao que estamos presenciando agora. Aí, quando as águas barrentas da chuva passam a invadir as casas, cobrindo carros nas garagens, os empreendedores jogam a culpa no governo, que, por sua vez, joga a culpa nos técnicos, que nada mais podem fazer.
A frase que foi pronunciada
“No Brasil do século 21, não importa o que diz a lei, mas QUEM diz a lei.”
Jornalista Caio Coppola
Memória
» Na 705 Norte, não há uma vez que passando por aquela castanheira não me lembre de Edgardo Ericsen. O que estaria falando da política atual? A Globo tinha um escritório ali.
Pix
» Clientes de bancos sempre reclamam do limite imposto pela instituição para pagamento de contas, transferências etc. O argumento furado é a segurança do cliente. O que não é verdade, porque uma pessoa sequestrada que não pode entregar o ouro ao bandido é morta na hora. Para isso, veio o PIX, que facilita a vida do ladrão. Os sequestros aumentam. A sugestão é que seja passado um código aos clientes para que em momentos de perigo, como transferir dinheiro para bandidos, possam digitar um número pedindo socorro. Não é para isso que o seguro é cobrado?
Livre, leve e solto
» Andando pelo DF é possível acompanhar várias invasões legalizadas. O procedimento é o seguinte: um grileiro invade a terra, vende para o cidadão e mais tarde, na legalização, é o cidadão quem paga duas vezes. O grileiro, que todos sabem nome e endereço, sai tranquilo da história. Sem dívidas, sem débitos a pagar.
Trocados
» No Big Box do Lago Norte um cartaz quase como um pedido de socorro. O supermercado oferece uma caixa de bombom para quem trocar R$ 100 de moedas por cédula. Essa imagem ainda vai virar história. (...)No tempo em que havia dinheiro.
História de Brasília
Um telegrama que nos chega com 124 palavras vem assinado pelo sr. Afonso Almino, a propósito de nossa denúncia sobre o ministério da Fazenda. Há a ressaltar que o telegrama foi taxado no dia 25, em Brasília e, nessa data, o remetente estava no Rio. Mantida nossa tese. (Publicado em 27/1/1962)
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