Visão do Correio

A incógnita da volta às aulas

Correio Braziliense
postado em 27/02/2021 19:59 / atualizado em 27/02/2021 20:00

Transcorrido um ano de enfrentamento à pandemia do novo coronavírus no Brasil, a retomada das aulas presenciais se mostra uma equação de resultado desconhecido, por cuja solução se empenham — e muitas vezes se enfrentam — governos, pais e trabalhadores do setor, além de uma maioria ainda silenciosa, mas diretamente interessada: os alunos. Autoridades organizam protocolos para a volta às salas de aula, cuja aplicação e resultados práticos são postos em dúvida inclusive por escolas, enquanto famílias se dividem entre as que defendem o retorno e as que temem seus resultados. E não parece haver consenso nem mesmo entre especialistas.

O momento de colocar de volta estudantes em pátios, salas e bibliotecas — mas também no transporte público, no transporte escolar, em restaurantes e lanchonetes e no comércio como um todo — vem opondo autoridades de diferentes níveis de governo, e às vezes dentro da mesma administração. Um debate tão mais importante e acalorado quando se constata que o país enfrenta, no momento, quadro pior que o instalado quando as aulas foram suspensas.

Redes de saúde perto do colapso em todas as regiões, prefeitos e governadores decretando lockdown e toques de recolher são situações que não parecem contribuir para que uma decisão seja tomada, e aceita, com a necessária tranquilidade. Entre os que defendem a possibilidade de volta às aulas presenciais, apontam-se experiências internacionais, em países como Austrália, Inglaterra, Estados Unidos e Israel, que indicariam a baixa vulnerabilidade a infecção no ambiente escolar. Quem teme pelas consequências tende a argumentar que a realidade brasileira é bem diferente da vivida por esses países.

Por trás da busca de resultado para uma conta que envolve interesses, dúvidas e temores está uma incógnita que é comum a toda a população brasileira: a vacina. O país convive com taxa de imunização próxima de 3% — e ainda assim considerada apenas a primeira dose do imunizante. Por esse motivo, a proteção ainda parece longe de chegar ao pessoal da educação, que figura em 14º lugar na escala de prioridades do Programa Nacional de Imunizações. À frente estão grupos como o pessoal da saúde, idosos em diferentes faixas etárias, indígenas, pessoas com deficiência e comorbidades, quilombolas e forças de segurança.

Sindicatos dos professores, como de Minas e o do Distrito Federal, deixam claro que não estão dispostos a aceitar retorno sem proteção. No caso dos educadores mineiros, inclusive, uma liminar impede a volta na rede estadual, embora o governo tenha sinalizado que não pretende vincular o retorno à vacinação dos trabalhadores e tenha liberado a retomada presencial escalonada a partir de 1º de março nos municípios que estiverem em fases menos restritivas do programa de flexibilização da atividade econômica.

Mesmo que garantida a imunização aos trabalhadores da área, coloca-se imediatamente outra questão: e a proteção aos próprios estudantes e àqueles com os quais têm contato? Bom lembrar que nessa lista, além dos familiares próximos, está toda uma cadeia produtiva que gira em torno do ambiente educação e que voltará a ser movimentada com a retomada das aulas.

São tantas as questões em aberto que, apesar da aproximação do mês de março, apontado por alguns governos como marco para a retomada do modelo presencial de ensino, uma solução parece ainda distante de ser alcançada. E, ainda que a volta à rotina por parte dos estudantes seja vista como urgente até mesmo por profissionais de saúde, a delicadeza do tema exige debate sereno, embasamento na ciência e moderação — tanto dos mais afoitos pelo retorno quanto dos mais avessos ao tema. Variáveis que parecem indicar que essa é uma equação longe de ser solucionada, como a própria pandemia.

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Meu Brasil cativeiro

A pergunta que mais faço a mim mesma nos últimos tempos, sobretudo desde sexta-feira, é: quando foi que o ser humano se tornou tão desumano? Imagino que seja um processo histórico, uma caminhada longa e contínua em direção ao desprezo pelo outro, levando como cajado o individualismo, o egoísmo, a ignorância. A partir de hoje, Brasília e boa parte do Brasil começa um lockdown doloroso e sem data para acabar. E não se engane: a culpa não é do vírus; é das pessoas.

São as irresponsabilidades diversas que deram força a um vírus muito transmissível e letal. São as desculpas esfarrapadas, o dinheiro roubado na pandemia, os péssimos exemplos de governantes, a falta de uma política única e de uma diretriz de combate que fosse nacional, a demora injustificável para comprar vacinas, o negacionismo cruel e por aí vai. Por trás de tudo isso, não há um vírus; há pessoas.

Pessoas tomam decisões todos os dias. Dentro de casa ou dentro de palácios e sedes de governos. Pessoas escolhem se vão mandar os escrúpulos às favas e festejar o gol do time como uma horda de irresponsáveis ou se vão proteger a si mesmas e aos outros, como é de sua obrigação como cidadão e como ser humano de fato.

Foram as más escolhas e as decisões imbecis que mataram mais de 250 mil pessoas no Brasil. Não só dos cidadãos cansados, tristes, desolados, isolados, irresponsáveis, ignorantes, permissivos, egoístas e cruéis. Foram essencialmente as decisões infelizes e criminosas daqueles que nos governam.

O que veremos a seguir é mais um capítulo de como se agrava a miséria humana; como se cava mais fundo o abismo da desigualdade social; como se conduz pequenos comerciantes à falência e os mais pobres à fome e ao desemprego; como se leva mais famílias ao pior luto — aquele de ver um familiar morrer por falta de ar sem a possibilidade de ser socorrido. A degradação da espécie humana segue seu curso.

O Brasil não entrou em colapso de uma hora para outra. E também não seguiu essa jornada por falta de aviso. Houve renitentes apelos, alertas, explicações da comunidade científica do mundo inteiro e dos médicos, enfermeiros e demais profissionais de saúde. Houve exemplos bons e maus vindos de outros países. Houve relatos, artigos, depoimentos, reportagens na imprensa mostrando que havia um caminho menos letal a seguir.

Mas o Brasil, ainda assim, escolheu deliberadamente o caos. Sabíamos que não seria fácil para ninguém atravessar uma pandemia, mas tínhamos sempre a esperança do “vai passar” — se todos fizessem a lição de casa. Como pessoa de fé, acredito de verdade que a vacina nos salvará. Até lá, precisamos manter a sanidade mental e evitar o adoecimento.

O custo das escolhas que o Brasil fez recairá sobre nós mesmos e, o que é pior, sobre a parcela mais vulnerável da população. O que temos a fazer agora é respirar fundo, viver um dia de cada vez e dar a mão ao próximo. Viver num país-cativeiro pode até ser suportável, mas ser refém de genocidas é morrer um pouco a cada dia.

>> Sr. Redator

Tragédia

Há um ano que a tragédia da covid-19 apavora o Brasil. Dilacera famílias. Carregamos na alma a marca brutal e estarrecedora de 260 mil mortos. O sistema de saúde está em vias de entregar os pontos. A dor passou a morar na vida da população. A escalada cruel da pandemia maltrata e penaliza. É sangrenta e tormentosa. Desgraça pouca é bobagem. Quem sobrevive, geralmente ainda enfrenta sequelas. A covid caiu no colo de Bolsonaro. O chefe da nação desprezou a fúria assassina do coronavirus. Chamou a covid de “gripezinha”. Debocha do uso da máscara. Não cumpre as normas sanitárias. A vida de seres humanos não tem preço. Governantes precisam acabar com o clichê “depois que a porta cai, coloca-se a fechadura”. Leis e normas devem ser severas e enérgicas. A devastadora covid-19 cobre de humilhação, tristeza e indignação o coração dos brasileiros. Pelo andar da carruagem Bolsonaro será lembrado como omisso e irresponsável.
Vicente Limongi Netto, Lago Norte


Reação

Eu, meu tio Genaro e um seu neto adolescente assistíamos pela TV Câmara à discussão da PEC da imunidade parlamentar, que pode ser considerada uma ofensa à sociedade brasileira, principalmente nesse momento em que milhares de famílias choram a perda de seus entes queridos, vítimas da covid-19, 250 mil vidas ceifadas, muitas ocasionadas pela precariedade na saúde pública, quando o adolescente disse que no futuro, iria tentar a carreira política, gostaria de ser um deputado federal. A coisa ficou feia. Tio Genaro falou poucas e boas reprovando o desejo do garoto e se justificando porque não queria vê-lo um dia no parlamento. Foi claro. O adolescente após escutar o avô disse: “Eu quero estar lá exatamente para unir-me àqueles que colocam os interesses do Brasil acima dos interesses deles, a gente pode mudar essa situação”. Tio Genaro esbravejou: que força terá meia dúzia contra 507? Pare com isso meu filho! O adolescente entendeu as explicações do avô e prometeu que seguirá outro caminho.
Jeovah Ferreira, Taquari


Lago Oeste

Para quem não conhece, o Lago Oeste, que fica ao lado do Parque Nacional de Brasília e é separado pela rodovia DF-001, vem sofrendo muito apagão de energia. Basta cair uma chuva, que falta luz. Depois que a gente liga para a CEB, a demora e se estende até 12h para retornar, e isso vem causando prejuízo a todos os moradores. Trata-se de uma rede elétrica antiga. Todos os transformadores estão obsoletos e precisam ser trocados. Como sabemos, a CEB, ao longo do tempo, vem sendo gerenciada por pessoas indicadas por políticos e que não entendem nada de gestão. Resultado: a empresa está na UTI. Por outro lado, os motoristas e motociclistas que trafegam naquela área estão abusando da velocidade permitida na via, que é de 60km/h. Por causa dessa imprudência, vários animais silvestres morrem ao atravessar a pista. O DER, por sua vez, não faz a poda do mato, que melhoraria a visão dos condutores de veículos. Parece-me que os pardais existentes estão desligados, e é necessário a instalação de mais quebra-molas estendendo-os até o fim do asfalto lateral, porque as motos usam o acostamento para evitar passar sobre o obstáculo.
Sebastião Machado Aragão, Asa Sul


Lava-Jato

Os sete anos de sucesso de bilheteria da Lava-Jato não resistiram à ação crítica por meio de deputados e senadores inescrupulosos envolvidos em corrupção. Hoje, a onda virou e a operação Lava-Jato “deixou de existir”, embora não tão completa e irremediavelmente como seria conveniente aos que se aproveitaram do ambiente adverso para pôr a culpa em quem desvendou crimes e desnudou culpados pela dilapidação de patrimônio público. Condenados e investigados continuam encalacrados com a lei. Os bilhões devolvidos por pessoas físicas e jurídicas, as quase três centenas de sentenças condenatórias, as inúmeras prisões efetuadas, as decisões de primeira instância em colegiados superiores e principalmente o ainda sólido apoio social ao novo paradigma inaugurado no processo do mensalão estão aí a desafiar a versão de que o desmonte se avizinha e tudo voltará a ser como dantes no país da impunidade. Houve falhas detectadas aqui e ali na conduta de investigadores e julgadores que assumiram a face do Leviatã da ilegalidade no caldeirão das posições radicalmente simplificadoras da realidade. Como se não tivéssemos assistido, nos últimos sete anos, a todo um conjunto de ações que demonstraram de forma inequívoca o cometimento de crimes contra o Estado por parte de agentes públicos e privados detentores de poder político e econômico. A existência de correções, ajustes e mesmo revisões pontuais, ao contrário do que se empenha em fazer crer uma aliança tácita entre malandros e precipitados contumazes arautos do fim do mundo, não significa condenação do trabalho feito. Na realidade fortalece a observância aos devidos processos legais que, quando grassava a roubalheira, aí, sim, eram desrespeitados.
Renato Mendes Prestes, Águas Claras

Desabafo

Slogan do presidente Jair Messias Bolsonaro para o Brasil: “Enterrem seus mortos”.
Eduardo Pereira — Jardim Botânico


Um ano de pandemia, quase 300 mil mortos. Só agora o ministro da Saúde percebeu que há um agravamento da praga. Que percepção aguçada! É de causar inveja.
Joaquim Honório — Asa Sul


Diante do dilema entre a pandemia e a economia, por que o GDF não adota o sistema que fez sucesso na Venezuela? Sete dias de abertura do comércio e sete dias de quarentena rigorosa com punições severas?
Waldivino Francisco Souto — Brasília


A Amazônia está fadada a ser eterna colônia do Brasil e os amazônidas a comer folha de árvore?
Ray Cunha — Brasília


Os bandidos do Congresso brasileiro querem um habeas corpus preventivo.
Francisco Pessanha Filho — Guará II

Direito constitucional do magistrado ao aperfeiçoamento funcional

Na linha determinante da garantia constitucional assegurada aos magistrados, no sentido de que a aferição de seu merecimento opera-se em função do desempenho e pelos critérios objetivos de produtividade e presteza no exercício da jurisdição e pela frequência e aproveitamento em cursos oficiais ou reconhecidos de aperfeiçoamento (CF, art. 93, inciso II, alínea c), afigura-se legítimo o afastamento temporário do juiz de suas atividades judicantes para participar de cursos de reconhecido aperfeiçoamento, como instrumentos indispensáveis à formação de seu merecimento, que se afere por seu bom desempenho nas atividades judicantes, através de sua produtividade nos atos de julgar, como resultante de sua presteza no exercício da jurisdição, o que se determina somente por sua frequência e aproveitamento em cursos oficiais ou reconhecidos como de aperfeiçoamento no Brasil ou no exterior, como assim também determinam os comandos normativos do artigo 73, inciso I, da Lei Complementar nº 35, de 14/03/79 (Loman), no sentido de que “conceder-se-á afastamento ao magistrado, sem prejuízo de seus vencimentos e vantagens, para frequência a cursos ou seminários de aperfeiçoamento e estudos, a critério do Tribunal ou de seu órgão especial, pelo prazo máximo de 2 (dois) anos”.

Nesse formato constitucional, a Carta Magna da República Federativa do Brasil ofertou ao juiz um círculo objetivamente virtuoso, para sua promoção por merecimento, condicionando sua atividade judicante ao aperfeiçoamento permanente, por meio do acesso aos saberes obtidos em cursos de reconhecida credibilidade acadêmica, na configuração da deontologia da magistratura, no propósito ético funcional de que “o magistrado deve facilitar e promover, na medida do possível, a formação dos outros membros do órgão judicial, devendo manter um ambiente de colaboração ativa em todas as atividades que conduzem a formação judicial” (arts. 33 e 34 do Código de Ética da Magistratura).

Nesse contexto, a Constituição traçou o perfil do juiz luminoso e de luz própria, apto a ser produtivo, com segurança e presteza no ato de julgar, para a melhor distribuição de justiça, na realização de processos justos.

A produtividade do juiz não se mede por resultantes estatísticas, mas por razoáveis soluções de justiça no tempo oportuno. O juiz sem saberes não se torna um solucionador de lides, mas um hábil extintor de processos, para a limpeza estéril de gabinetes. Não é isto que se espera de um bom juiz, no perfil constitucional da promoção por merecimento, que do Diploma Fundamental resulta expressamente prevista.

A função da magistratura não está conceituada, literalmente, nem no texto da Carta Política Federal nem no texto da Lei Orgânica da Magistratura Nacional. Contudo, a Constituição da República Federativa do Brasil, de 5 de outubro de 1988, traça o perfil do magistrado no contexto das tutelas fundamentais estabelecidas no capítulo dos direitos e garantias postas na Constituição. Destaco especificamente a norma do art. 5º, inciso XXXV, na dicção de que a lei não excluirá da apreciação do Poder Judiciário qualquer ameaça ou lesão a direito.

Leia-se, nessa determinação constitucional, a definição da magistratura como sendo aquela vocacionada à proteção dos direitos estabelecidos na própria Constituição. Se alguém pensa que é juiz pelo simples fato de ser aprovado no difícil concurso da magistratura está completamente enganado. Nós nos habilitamos à nobre função da magistratura quando somos aprovados nesse difícil concurso e passamos a exercer a magistratura, com senso de justiça, buscando, a cada dia, a necessária habilitação de ser juiz compromissado com decisões justas, para implementar a prova final da magistratura, que não depende de uma comissão examinadora restrita, mas sim de uma banca examinadora difusa, que é a sociedade destinatária de nossas decisões no exercício da magistratura. Esta é a prova que denomino de legitimação popular do juiz, no contexto da República Federativa do Brasil, em que a vontade soberana é a do povo, e não dos órgãos estatais.

O juiz que não estuda jamais será um bom juiz. Somente o acesso aos saberes cientificamente adquiridos torná-lo-á apto na arte de bem julgar e de distribuir a todos a melhor justiça em tempo razoável. O juiz que não estuda logo se torna um inábil prepotente, sem a aptidão necessária para a realização dos singelos propósitos da Justiça. Afinal, o juiz que não estuda toma posse do cargo público como um deus, para negar justiça no trono de sua ignorância.

Nesse visor constitucional de efeitos liberatórios da atividade judicante, mediante a frequência a cursos de aperfeiçoamento pelo magistrado vocacionado aos propósitos da justiça, não há como aprisioná-lo nas amarras infralegais de estrutura normativa anã, sem âncoras constitucionais e plenamente desgarradas do legítimo diálogo das fontes normativas válidas, por autorizada exegese da norma fundamental, mormente em face da expectativa maior que dali resulta em termos de futuro retorno intelectual e moral do magistrado, em proveito de uma melhor atividade jurisdicional a serviço da Justiça, que há de prevalecer sobre formalismos secantes, sempre inibidores e desestimulantes do potencial científico, de que é portador o autêntico juiz, constitucionalmente sonhado pelo povo do Brasil.

A inflação vem aí

 (crédito: Caio Gomez/CB/D.A Press)
crédito: Caio Gomez/CB/D.A Press

Com a lenta vacinação — tomara que outras cepas não cresçam — seria a hora de tentar tirar o país da recessão econômica. Salva-nos o agronegócio, pois somos o segundo maior exportador de carnes e grãos (os melhores: soja, milho e sorgo). Mas a maldita inflação, essa megera que conhecemos de sobra, volta a insinuar-se por vários motivos: aumentos no preço do barril de petróleo, dólar sobrevalorizado, queda da indústria e serviços no Brasil, má condução econômica por Guedes, que estranhamente é uma figura absentista, que recusa interferir no mercado como um todo (Escola de Chicago). Mas, como o nível da atividade é baixo e grande o desemprego, o consumo não pressiona e, portanto, é uma força contra inflacionária.

O epicentro da nova crise bolsonariana está no seu pendor, agora revelado, populista e nada liberal. É a Dilma de calças e quer controlar os preços públicos: petróleo, energia elétrica, fertilizantes agrícolas, “et caterva”, para agradar o povão e se reeleger, quebrando a promessa de acabar a reeleição (votei nele, por apresentar-se liberal na economia e na política, para saneá-las). Eu me iludi ou me iludiram mais uma vez!

Privatizações? Pois sim. Uma coisa é o discurso e outra, a realidade. Bolsonaro é igual a Costa e Silva e Médici e Geisel, os generais-presidentes eleitos indiretamente, com as baionetas apontadas para o lombo dos congressistas.

Se houver privatizações — é necessário que haja — será em parte do setor elétrico, sob pena de colapso, desde que o governo não fique segurando os preços, em função do custo-benefício e das condições do mercado, como é do nosso ideário liberal. O perigo é o viés estatizante. Para Bolsonaro, socialismo é ideologia (algo que sequer existe mais, depois que China e Rússia se converteram ao capitalismo). No entanto, na prática, ele é socialista. Não quer abrir mão das estatais. Tem gente cega que é bolsonarista (nos costumes e só).

Os analistas estão descrentes, também, com o controle da inflação. “Estamos mais preocupados do que a média do mercado com o cenário inflacionário”, diz o economista-chefe da Truxt Investimentos, Arthur Carvalho, cuja projeção aponta para IPCA em 3,8% no fim deste ano, ligeiramente acima do centro da meta. “O que aprendemos com a inflação recente é que o processo está um pouco mais forte do que o esperado, e isso tem implicações relevantes para a política monetária”, afirma o economista, que projeta a Selic chegando a 4,5% no fim do ano.

O economista-chefe da JG, Fernando Rocha, defende que o início do ciclo de elevação de juros tenha início somente em maio para que o BC possa avaliar o desempenho da atividade neste início de ano. Ele, contudo, acredita que o encontro de março pode ser o escolhido para o começo do aperto monetário, a depender do cenário fiscal, por exemplo. De acordo com Rocha, o retorno do auxílio emergencial pode ser um dos fatores considerados pelo BC para elevar a Selic em março.

“De qualquer forma, o segundo auxílio será muito mais contido, o valor será menor... Tudo está bem nebuloso ainda. Ainda trabalho com quatro altas de 0,50 ponto na Selic a partir de maio”, afirma.

Cenário semelhante é defendido por André Loes, sócio e economista da Kairós Capital, que também vê o início das altas de juros em maio, com a Selic em 4% no fim do ano. Ele argumenta que o avanço dos preços das commodities tem sido um fator determinante para a pressão inflacionária, até mais do que a depreciação cambial, cujos efeitos ainda esbarram na ociosidade elevada da economia brasileira.

A intervenção estúpida do presidente na Petrobras, contudo, chocou o pessoal do mercado financeiro, cuja confiança no liberalismo do dito cujo sofreu uma evaporação bruta aqui e nos investidores estrangeiros. Ninguém mais sabe o que vai nos acontecer depois disso. Lira e Rodrigo Pacheco, apavorados, vão tentar a privatização da Eletrobras. A pergunta que os angustia é compreensível. Os leilões e concessões terão êxito? Diante do viés intervencionista de Bolsonaro na Petrobras, ter-se-á investidores dispostos a investir no setor elétrico?

Nos países democráticos, as regras estabelecidas são cumpridas à risca, daí a confiança no governo. Como Bolsonaro disse que ia mexer também nos preços da energia, o mercado entrou em polvorosa...

O despreparo do capitão é de impressionar. A intervenção na Petrobras foi um terremoto, mas o que mais está apavorando o mercado financeiro e o empresariado em geral é a difamação de Castelo Branco, nomeado pelo próprio Bolsonaro, nas redes sociais. Uma luz amarela intensa brilha nos corações e mentes dos seus apoiadores de feitio liberal. Fé e votos dependem dos atos do santo de devoção!

Visto, lido e ouvido

Desde 1960

Você é rebelde e eu pago o pato

Cada crise que atravessamos ao longo deste longo e tortuoso caminho que teve seu princípio em 1889, com o golpe que instaurou a República e decretou o fim da monarquia, vem embalada por novas expressões do idioma, que traduzem e resumem cada momento e que logo são assimiladas por grande parte dos brasileiros.

Acostumados já aos desvarios de um Estado institucionalmente mal ajambrado e capturado, desde cedo, por uma elite política mal intencionada, a sociedade já não se espanta com medidas tomadas em cima do laço e sem aviso prévio. Foi assim também no confisco das poupanças e em outras medidas, que, em última análise, têm os brasileiros como alvo principal, e não as elites, a quem tudo é facultado.

Depois das expressões, inflação, deficit, impeachment, peculato, corporativismo, ativismo político, rábulas e outras do gênero, estamos diante agora do estrangeirismo lockdown. Para aqueles que vão, pouco a pouco, se familiarizando com a palavra, que parece ter vindo para ficar, depois de uma pandemia, que se dizia breve como uma gripe, trata-se aqui de uma interrupção rigorosa e com critérios diversos, imposta pelo Estado, bloqueando total ou parcialmente a vida nas cidades.

Acostumados à pandemia que já se prolonga por mais de um ano, eis que agora é imposto um isolamento rígido, físico e social entre as pessoas, mesmo da mesma família, a fim de se obter uma desaceleração na propagação do coronavírus e de suas várias e rápidas mutações. Pelo menos é o que acreditam as autoridades sanitárias, diante da anunciada superlotação dos hospitais em todo o país.

Esse bloqueio total, anunciado agora pelo GDF, vem na esteira de outros que estão sendo decretados país afora e que têm, como uma das causas principais, a pouca adesão e respeito da população aos protocolos sanitários exigidos e que podem ser observados no simples ato de usar as máscaras. É preciso salientar que no Brasil, ao contrário do que ocorre em países como o Reino Unido — onde até a rainha Elizabeth II aparece em vídeos institucionais apelando para que todos sigam as orientações das autoridades sanitárias e mantenham a disciplina durante a pandemia —, algumas autoridades fingem usar esse equipamento, só ostentando, quando são flagrados por jornalistas.

Não se vê, em parte alguma, vídeos e outros meios de comunicação de autoridades, apelando para que a população siga as normas de higiene e de distanciamento. Com isso, não surpreende que parte da população simplesmente despreze essas medidas e passe a se comportar como se nada disso estivesse acontecendo. As reuniões em bares e restaurantes seguem noite adentro. Em toda parte, é possível ver brasileiros infringindo as orientações de médicos e especialistas. Se, até em um simples grupo de WhatsApp, as pessoas se acham no direito de infringir as regras, nesse exemplo diário vemos como pensam esses rebeldes que desconhecem o bem comum.

De fato, a população repete o comportamento das elites e da maioria dos dirigentes do Estado. Infelizmente, nessa falta de respeito geral, quem mais sofre são justamente aqueles que têm se resguardado em casa, os idosos, os comerciantes que seguem as normas e a maioria dos profissionais liberais, que ganham o sustento no dia a dia de trabalho.


A frase que foi pronunciada

“Governar não foi feito para covardes. Foi feito para quem tem coragem de buscar as soluções, por mais difíceis que elas pareçam”
Ibaneis Rocha, governador do Distrito Federal


Nomeia, Sedes
» Tudo pronto para as nomeações na Secretaria da Mulher e na Secretaria de Justiça. Concursados que estudaram durante anos para garantir a aprovação nessas provas aguardam ansiosos. Para a Sejus, são 100 vagas de Especialista em Assistência Social (EAS) e 100 de Técnico em Assistência Social (TAS). Já na Secretaria da Mulher, são 25 em cada uma dessas especialidades.

Legislação
» Até um projeto de lei, o de nº 1726/2021, indica alterações na Lei de Diretrizes Orçamentárias para que tudo aconteça. Agora é acompanhar se a primeira-dama, Mayara Noronha, e as secretárias Marcela Passami (SEJUS) e Ericka Filippelli (Secretaria da Mulher), vão obter o aval do governador para primar no atendimento social no DF.

Sem servidores
» Para se ter uma ideia, só na Secretaria da Mulher, há a necessidade de 16 administradores, conforme ofício publicado pela própria pasta. Mayara Noronha tem mostrado boa vontade nesse processo, já que a defasagem de servidores no órgão é prejudicial.

Poder Executivo x Poder Legislativo
» Uma discussão na rede social expôs o lento andamento desse processo: o imbróglio vai completar três anos.

História de Brasília

Veio, depois, a prorrogação da “dobradinha” para os que já a recebiam. Houve regozijo, porque a vida já aumentara demais, e as diárias fariam falta, certamente. (Publicado em 27/01/1962)

Charge

 (crédito: Quinho/EM)
crédito: Quinho/EM

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