OPINIÃO

Sambista consciente

Correio Braziliense
postado em 02/03/2021 06:00

Por Irlam Rocha Lima

Na interminável quarentena, determinada pela nefasta pandemia de covid-19, Teresa Cristina tem sido responsável por oferecer, com seu canto, momentos de diversão e deleite a quem vive o necessário isolamento social. Não por acaso chamada de “rainha das lives”, além de entreter, ela trouxe aos milhares de espectadores que acompanharam suas aparições na telinha a possibilidade de reflexão a respeito de temas como preconceito e intolerância — tão em voga nos tempos de agora.

Teresa brilha desde que surgiu para a música, em 2000, no Semente, bar que existia na Lapa, bairro boêmio no centro do Rio de Janeiro, onde por quase cinco anos manteve público cativo, formado por cariocas e turistas. A Brasília veio pela primeira vez, logo que começou a se destacar, para apresentação no, desde já saudoso, Feitiço Mineiro. Depois, voltaria outras vezes — a última foi em 2018, quando fez um show gratuito em tributo a Cartola na Praça das Palmeiras do Terraço Shopping, acompanhada pelo violonista Carlinhos 7 Cordas.

Assisti a todos os shows da cantora aqui na cidade e a alguns no Rio. Certa vez, ela cumpria temporada no Centro Cultural Carioca e na plateia estava Marisa Monte. Como já tinha intimidade com as duas, no intervalo, depois de conversar com Marisa, sugeri a Teresa que a convidasse para dar uma canja, o que acabou ocorrendo. A vi também no Clube Renascença, no Andaraí, bairro da Zona Norte, como convidada de Moacyr Luz, que comanda ali, às segundas-feiras, o Samba do Trabalhador, projeto com característica de resistência cultural. Por último, a encontrei no Teatro Rival, mas, naquela noite, estava lá como espectadora. Quem ocupava o palco era Mart’nalia, que lançava o disco + Misturado.

Domingo passado, um ano depois do seu último show — durante o desfile das escolas de samba, na Marquês de Sapucaí, no camarote da Portela — Teresa Cristina, acompanhada por sua banda, soltou a voz no Vivo Rio (sala que faz parte do complexo do Museu de Arte Moderna, no aterro do Flamengo). Pelo show virtual foi cobrado R$ 20 aos que desejaram assistir. Nada mais justo para uma artista que, a exemplo de outros companheiros de ofício, já há bastante tempo não conta com qualquer recurso como pagamento por seu trabalho.

Em 20 anos de carreira, Teresa lançou nove discos. Aos que queiram conhecer melhor a obra da cantora, sugiro ouvir três deles: Samba é minha nobreza, A música de Paulinho da Viola e Teresa Cristina canta Noel Rosa, que registram a voz, a interpretação e o bom gosto musical de uma das mais importantes e conscientes sambistas da atualidade.

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