Por ARNALDO NISKIER — presidente do CIEE/RJ
As necessidades impostas pela própria crise obrigaram os nossos professores a enormes exercícios de imaginação. A criatividade foi colocada à prova, como elemento fundamental de sobrevivência. O marasmo simplesmente seria o pior dos inimigos. Uma série de fatos foi noticiada, com iniciativas de diversos mestres do país, a começar por uma professora de Santana do Parnaíba (SP): “Foram sete meses de contato virtual, para ensinar Química (ácidos e bases). Mas tudo deu certo. O que mais senti falta, disse a professora, foi do abraço dos alunos.”
Outro, de Itambé (Pernambuco), utilizou jogos de tabuleiro para prender a atenção dos jovens. “A gamificação do currículo deu muito trabalho, mas os resultados foram amplamente satisfatórios.” Numa escola do Rio, vocacionada para o pré-escolar, com turmas de 2 a 4 anos, a solução foi recorrer às gravações. Foram elaborados vídeos com histórias focadas no cotidiano do público-alvo (sucos, brinquedos, fraldas). Uma forma também de manter viva a lembrança do professor. Quem não retornar às aulas presenciais poderá manter esse tipo de diálogo.
Em Niterói, foram oferecidos livros, devidamente higienizados, dados aos pequenos alunos (turma de alfabetização). Segundo um dos professores, depois de tantos dias sem aulas, o maior desafio é reconquistar a atenção das crianças. E chegamos ao Distrito Federal, para focalizar alunos autistas. Para interagir com os alunos, foram utilizados aplicativos, lives, tutoriais e um avatar. Assim, a suposição de que se teria um ano perdido foi se modificando. Houve, sem dúvida, um aproveitamento pedagógico bastante razoável.
Uma medida provisória do governo flexibilizou o ano letivo de 2021. Atividades remotas passaram a ser permitidas, com o aval das redes de ensino e/ou instituições especializadas. A flexibilização vale para a educação básica e, também, a superior. Assim, os currículos puderam ser reorganizados, com a divisão da carga horária entre atividades presenciais e remotas. Foram igualmente flexibilizados os critérios de avaliação, mas com uma forte recomendação de que os alunos sejam aprovados em seus esforços, e não reprovados. Há um grande empenho para que haja uma clara recuperação da aprendizagem, sem dúvida prejudicada pelos muitos meses de quarentena.
É nesse aspecto que entramos com a sugestão de que, ao geminar os anos de 2020 e 2021, façamos o seguinte procedimento: as aulas de 2021 serão dadas de acordo com os programas daquele ano. O uso remoto do processo contemplará os conteúdos de 2020, devidamente cobrados pelos respectivos professores. O ensino básico deve ser devidamente monitorado para reorganizar as perdas havidas.
Devemos nos preparar para riscos facilmente previsíveis. O primeiro deles é a precarização em instituições privadas, com a provável redução no número de professores. Haverá, sem dúvida, uma febre de aulas gravadas e, talvez, a ampliação do número de alunos em classe. Escolas que só visem ao lucro serão grandemente beneficiadas, pois o que menos preocupa os seus dirigentes é o bom cumprimento dos ideais da Base Nacional Comum Curricular, com os seus sagrados postulados.
Estudiosos da educação brasileira temem que isso afete especialmente os futuros alunos do 1º ano do ensino médio e do 6º ano do fundamental, onde as médias são mais sujeitas às flutuações da avaliação descuidada. A volta às aulas presenciais não pode ser feita de qualquer maneira. Ela deve estar sujeita aos naturais cuidados sanitários. Os horários de entrada e saída precisam ser organizados de forma a evitar as condenáveis aglomerações e a oferta generosa do álcool em gel, para alunos, professores e funcionários. A covid-19 é traiçoeira e pode voltar quando menos se espera, como aconteceu em diversos outros países.
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