O Produto Interno Bruto (PIB) fechou 2020 com queda 4,1% — o pior resultado em 25 anos da série histórica, iniciada em 1996 —, segundo os dados do Sistema de Contas Nacionais Trimestrais, divulgados, ontem, pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). O recuo não surpreendeu. Reflete os danos econômicos causados pela pandemia do novo coronavírus, que impôs um isolamento social no planeta a fim conter a proliferação da covid-19.
As restrições levaram ao fechamento de vários segmentos da indústria e de serviços (bares, restaurantes e hotéis), este último, ainda longe de uma recuperação. Com isso, houve quedas nesses setores de 3,5% e 4,5%, respectivamente. Consequência direta do baixo consumo das famílias, que encolheu 5,5%, mesmo com a ajuda do auxílio emergencial. A agropecuária, por sua vez, cresceu 2%, devido à soja (7,1%) e ao café (24,6%), que tiveram produções recordes e têm forte demanda no mercado externo. Em contrapartida, as culturas de laranja e fumo apresentaram resultados negativos, pela ordem, tombo de 10,6% e 8,4%.
O resultado do PIB, mais uma vez, indica que a saúde da economia depende de cidadãos sadios. Não há como dissociar esses dois fatores. À medida que a população é estimulada a ignorar as orientações de especialistas para bloquear o aumento do número de infectados, a covid-19 se expande. O desrespeito é medido em números: hoje, o país está próximo a 10 milhões de infectados e a 300 mil mortos e a economia patina, em frangalhos.
O estrago foi tamanho que o Brasil deixou de figurar entre as 10 maiores economias do planeta e, agora, volta-se à estaca zero com a retomada de restrições mais rigorosas de circulação da população e das atividades produtivas ante o colapso nas redes pública e privada de saúde. Hoje, médicos estão sendo obrigados a escolher quem vai viver e quem vai morrer e hospitais têm contratado contêineres para estocar corpos.
Infelizmente, a reação do poder público ao vírus foi letárgica. As compras de doses de vacinas não foram negociadas no tempo certo, devido ao negacionismo. A produção de imunizantes virou bandeira eleitoral e, até agora, não há um plano nacional rigoroso de ataque ao novo coronavírus, que leve em consideração a expertise do Sistema Único de Saúde (SUS). Em contrapartida, a crise vem se expandindo muito mais violenta do que em 2020, devido às novas variantes do vírus. Estamos chegando a 2 mil mortes por dia pela doença.
A recuperação da economia, que voltou a flertar com a recessão, depende da saúde pública. Mas não só isso. A pandemia exige que medidas avaliadas como indispensáveis à superação da crise sejam discutidas e aprovadas pelo Congresso Nacional. Há mais de um ano, adormecem no Legislativo as reformas estruturantes, como a tributária e a administrativa, bem como a revisão do pacto federativo. Impõem-se que os poderes da República se concentrem no essencial: vacina para todos e reformas. Caso contrário, o país continuará patinando no pântano, sem alcançar a via do crescimento econômico e social.
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