OPINIÃO

Melhor árbitro do Brasil é mulher

Marcos Paulo Lima
postado em 06/03/2021 06:00

Em 27 de fevereiro de 2005, Silvia Regina de Oliveira tornou-se a primeira mulher a apitar um clássico paulista. Mediou a vitória do São Paulo sobre o Corinthians, por 1 x 0, no Morumbi. Depois do jogo, o então técnico alvinegro, Adenor Leonardo Bachi, o Tite, manifestou-se contra a arbitragem feminina e usou a formação em educação física como argumento.

“Não dá para admitir, ainda mais em um grande clássico, a velocidade com a qual ela acompanhava as jogadas. Em futebol de altíssimo nível, nessa intensidade, não dá para mulheres apitarem”, afirmou, questionando a não marcação de um pênalti. “Ela estava a cerca de 20m do lance. Mas quero deixar claro que isso não é preconceito contra as mulheres”. Mas insistiu: “Vou falar uma coisa como profissional de educação física: o torque da mulher, a força muscular e a velocidade dela fazem com que ela não possa acompanhar os homens”.

À época, os números da Federação Paulista de Futebol desmentiram Tite. No jogo, Sílvia percorreu 9.150m com velocidade média de 10,5km/h. Teve picos de 15,7km/h no primeiro tempo e de 15,9km/h na etapa final. Ela teve desempenho físico semelhante à média dos árbitros daquele Paulistão. Tite foi demitido após a partida devido aos maus resultados.

Dezesseis anos depois, a paranaense Edina Alves Batista provou no clássico de quarta-feira passada entre Corinthians e Palmeiras (2 x 2) que elas podem, sim, apitar futebol — independentemente do gênero. Sim, ainda há preconceito, mas as conquistas de Silvia, Edina e outras profissionais da arbitragem merecerão aplausos no Dia Internacional da Mulher.

Digo mais: o melhor árbitro do país, hoje, é uma mulher. Minha opinião não se baseia no fato de ela ter apitado nas últimas duas edições do Brasileirão, ou devido à ida ao Mundial de Clubes da Fifa. Edina apita com leveza, humildade. Diverte-se. Tem respeito de jogadores, técnicos e dirigentes por causa do profissionalismo, excelência — não porque é mulher.

Em 2019, entrevistei a paranaense de Goioerê, município de 564 km² e 29 mil habitantes. Não esqueço de uma declaração dela no perfil que escrevi para o Correio. “Quero mostrar serviço, ir bem nos jogos. Estão querendo dar oportunidade para as mulheres e temos que agarrar essas chances”. Apesar de opiniões machistas como a daquele Tite de 2005, elas conseguiram!

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