Um livro para um Dom

Fernando Brito
postado em 08/03/2021 06:00

Pedi uma sugestão de leitura de um livro para meu querido e saudoso amigo Antonio Jonathas, servidor com vocação filosófica e poética. E ele assim me respondeu:

“Livros, eu tenho alguns, Dom. E, se não tiver, podemos caçar por aí. Porque o reficofage deles é diverso, como o da vida na Terra. Portanto, não tenho todos na fauna e na flora das minhas estantes. Todos autores, assuntos, estilos e narrativas. Literatura, crônica, técnica ou autoajuda. Universos apoiados, um no ombro do outro, nas prateleiras do mundo. E por elas, o nosso eu-universo caminha à procura de mais um elemento para se expandir e se constituir. Caminha atrás de mais uma peça no quebra-cabeça do eu.

Seja outra galáxia, outro sistema, só outra estrela, mais um planeta ou só um pequeno cometa. Caminha à procura da paz, da felicidade, do norte, do tesouro, da pepita ou da joia. Do sopro, da intuição, da resposta ou somente da palavra. A palavra que é fixa, mas que se transmuta depois que passa por cada ouvido. Se eu digo “Deusa”, o cristão pensa em ninguém. O adolescente, na menina mais bonita. O índio, na Terra. O amante, na musa. O filósofo, na Grécia. E eu penso no alimento.

Pois, com ele, eu me lembro daquilo que deveria a cada segundo: de que sou fractal do Universo, além do bem e do mal. E se o Universo é infinito, eu também sou. O alimento me abre a mente e a boca. E então digo exatamente o que sinto, me encho de amor por mim e alinho o meu universo para ir buscar esse amor, além do bem e do mal. Vamos plantar para colher, Dom?

Olhar, amigo, como senhor de si que somos todos, o que habita nas suas galáxias. Qual delas você quer pinçar? Como se alinham os seus planetas? Em qual deles há vida? Que sol as aquece e ilumina? Em que fase está a lua que conduz os seus movimentos? Onde está e para onde caminha os seus habitantes e as suas obras? Se suas vias estão presas, engarrafadas, cheias, entupidas. Ou se seus cabelos viajam na estrada vazia, sem pedágios, com o céu azul e a capota baixa.

No que a sua mente se liga? Em si ou no outro? Para onde seu corpo aponta? Para si ou para o outro? Por quem seu coração bate? Por si ou pelo outro? Assim, então, antes de abrir a minha boca, eu te peço para abrir a sua, enquanto te escuto. Por qual o quê, Dom, o seu universo versa agora?”

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