Por diversas vezes, desde o início da pandemia, os brasileiros louvaram o trabalho de médicos e outros profissionais de saúde que atuam na linha de frente do atendimento a pacientes infectados pelo coronavírus. Homenagens, não resta dúvida, mais que merecidas. Todos devemos agradecer-los imensamente por se colocar em risco para cuidar da saúde de todos nós. E muitos deles tombaram nesse triste campo de batalha em que se transformou o enfrentamento à covid-19. Em outra trincheira, há trabalhadores que também se veem obrigados a deixar o lar todos os dias e se arriscam para que a maioria de nós possa ficar em casa. Eles trabalham em padarias, farmácias, supermercados, restaurantes, fábricas...
Invisíveis aos olhos de quem se orgulha de nunca ter posto os pés fora da própria residência desde que o primeiro caso de coronavírus foi diagnosticado no país, em 26 de fevereiro do ano passado, esses trabalhadores, em sua maioria, acordam quando o sol ainda nem despontou no horizonte. E muitos se expõem ao risco de pegar o vírus ao se espremer em ônibus e metrôs lotados durante a ida ou na volta do batente. São eles que garantem o pão e o leite do nosso café da manhã todos os dias. Os alimentos, muita gente parece não se dar conta disso, não nascem nas prateleiras de supermercados, frutarias, mercearias e bodegas país afora.
Há uma legião de brasileiros que ara a terra, planta e colhe o arroz e o feijão que comemos. Não apenas nós: boa parte do mundo se alimenta das toneladas de grãos, frutas, legumes e carne que produzimos e exportamos. Na hora de almoçar, dispor de centenas de estabelecimentos e poder navegar nos cardápios para escolher qual será a refeição do dia é um privilégio. Num país tão desigual, pouquíssimos podem lançar mão do aplicativo e expedir a ordem para que cozinheiros preparem o menu, que depois será entregue por um motoboy no nosso endereço. Podemos desfrutar da mesma comodidade em relação à padaria, à farmácia e às compras no supermercado.
No entanto, fora do conforto dos nossos lares, a realidade é outra. Há uma multidão que rala por nós e à qual devemos ser muito gratos. Sobretudo quando se olha para a situação geral, além da catástrofe do coronavírus. Relatório de Desenvolvimento Humano (RDH) da Organização das Nações Unidas, divulgado em dezembro de 2019, apontava o Brasil como segundo país em concentração de renda no mundo. Aqui, à época, o 1º mais rico da população concentrava 28,3% da renda nacional – atrás apenas do Catar, onde a proporção era de 29%. Enquanto isso, segundo o IBGE, um em cada cinco trabalhadores no Brasil ganha menos de um salário mínimo (R$ 1.100). É uma desigualdade absurda, que, sabemos, foi agravada ainda mais pela pandemia. É mais um motivo para rendermos homenagem a esses colegas trabalhadores que permitem a tantos de nós ficar em casa.
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