OPINIÃO

Não há vacina contra o ódio

"O país em colapso por causa de uma pandemia não precisa arrefecer uma nova onda de ódio"

Ana Dubeux
postado em 14/03/2021 06:00 / atualizado em 14/03/2021 13:54
 (crédito: JONAH SYKES/AFP)
(crédito: JONAH SYKES/AFP)

Na última campanha eleitoral, vi a imensa polarização política separar amigos queridos. Vi o Brasil entrar numa guerra bestial que deixou consequências pavorosas e dilemas irreconciliáveis. O bom senso foi para o espaço e se perdeu num emaranhado de sentimentos confusos. Recentemente, a decisão do ministro do STF Edson Fachin de absolver Lula parece reacender a fogueira que ainda faiscava. Errado? Certo? Entre a turma que não engole o “sapo barbudo” e a que deseja abreviar o desgoverno do “presidente genocida”, há outras guerras em curso: lockdown ou vai pra rua; economia ou vida.

O país em colapso por causa de uma pandemia não precisa arrefecer uma nova onda de ódio. É suicídio o desatino de polarizar o nosso destino, como se estivesse nas mãos dos políticos eleger o bem e o mal. Se já não fazia sentido antes, fará agora? Os políticos já provaram que são incapazes de gerir o básico. E nos dirão ainda o que pensar, o que fazer, como devemos nos relacionar? E você pode me perguntar: e então, em quem ou no que depositar esperanças? Eu te digo: também não sei; só sei que depende mais de mim e de você do que de qualquer um que esteja hoje nas cadeiras do poder.

Sim, precisamos nos proteger, usar máscara, não aglomerar, fiscalizar a conduta do nosso vizinho, chamar a atenção de quem amamos para quem fique em casa, denunciar festinhas privês. Ou é isso ou estaremos à mercê de um sistema de liderança político falido que nem o dever de casa fez ou faz. É inacreditável que tenhamos de suportar, a essa altura de uma guerra sanitária com quase 3 mil mortos por dia, a diarreia verbal dos estúpidos, sejam eles os donos temporários de mandatos ou as criaturas que convivem com você.

O cenário é bastante sombrio em relação à covid no Brasil, ainda mais porque quem deveria agir como autoridade tripudiou da doença, usou a força do cargo para fazer pilhéria com a vacina e esnobou os sucessivos avisos de cientistas. Portanto, não fortaleça a imbecilidade. Esqueça as tentativas de polarização, coloque tudo de lado e questione seu presidente eleito. Pergunte a ele o que fez efetivamente hoje. Indague sobre questões sérias. Cobre! Ele é um servidor da República, deve satisfações.

Já nós... somos sobreviventes; somos pessoas sofridas e feridas; não merecemos viver de mãos dadas com o ódio e antecipar uma campanha eleitoral que vai arrancar nossas tripas daqui a pouco. Concentre-se no seu bem-estar. Ninguém está preocupado com você, a não ser os seus bons amigos e a sua família. Não se contamine com nenhum tipo de vírus, entre eles a ignorância e a raiva. Sei que é difícil, mas não há vacina nem remédio pronto para as moléstias da alma. Imunize-se você mesmo contra elas.

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