
Por Sacha Calmon — Advogado
Nesse mundo, o nosso mal maior, agora mais do que nunca, é a mortandade à qual os povos estão sujeitados por força de um vírus altamente transmissível e mutável, embora — dizem os especialistas — não seja o mais mortífero.
Aí entra a questão da escala: justamente por ser altamente transmissível, mutante e replicante, o morticínio decorrente, é o mais letal dos últimos 300 anos, segundo o centro de documentação da Organização Mundial da Saúde (OMS) ligada à ONU.A princípio, infectologistas e especialistas em epidemiologia minimizaram ou não souberam, ou foram precipitados em alertar e proteger as populações humanas de cerca de 205 nações de nosso pequeno planeta, à volta de 8 bilhões de almas, umas ricas, outras pobres ou remediadas, a maioria.
Certamente por isso, alguns dirigentes máximos já no campo da política procuraram minimizar a pandemia (a palavra política deriva-se da Pólis grega). E, tudo que interessasse à cidade (Pólis) era discutido na ágora (praça pública) das cidades-estados da península greco – macedônica. Ora, isso não ocorreu no Brasil. Somos tupiniquins fardados de verde-oliva.
Quem já não ouviu falar de Platão, Sócrates, Aristóteles, Anaximandro, e tantos outros pensadores e escolas filosóficas da Grécia antiga? Uma coisa nos intriga. Depois de séculos de aprofundamento filosófico, a Grécia calou-se. Um dia o que aconteceu aqui vai ser falado muito como exemplo de desmazelo de um governo a falar demais e fazer menos do que deveria.
A filosofia ocidental que se seguiu ao renascimento após a queda de Roma e a longa idade das trevas (Idade Média como conhecida) está impregnada pelas deduções e prédicas da filosofia grega. Filósofos tão diversos como Kant, Hegel e Karl Marx são “reencarnações” modernas dos pensadores helênicos. A doutrina filosófica (não a política) de Karl Marx, está assentada na teoria dialética de Heráclito.E que esquema filosófico era esse? A dialética heraclitiana predicava que o real (as coisas existentes) quanto mais “animadas” (de anima = a alma) evoluíam por oposição. Haveria uma tese, logo o seu contrário, a antítese, que redundaria numa síntese, resultante do embate entre tese e a antítese, pois assim não fosse não haveria movimento, tudo ficaria na mesma.
Foi por isso que, no O Capital, Marx disse que os poucos proprietários a explorar o trabalho dos muitos não-proprietários gerariam um conflito entre essas classes gerando: (a) a coletivização da propriedade dos meios de produção e (b) a igualdade entre todos os partícipes das sociedades humanas sob a égide de um Estado ou governo sem classes (tese, antítese, síntese).
O padre Teilhard de Chardin, apólogo da teoria da evolução de Charles Darwin, e Jean Yvez Calvez, contestaram o marxismo. Nunca no passado ocorrera tal fenômeno e o futuro acabaria por tornar os empregados em consumidores, o que de fato ocorreu, não resultando síntese alguma. De fato, a revolução de 2017 deu-se na Rússia e não na Inglaterra, berço da revolução industrial e da exploração das massas obreiras.
A Revolução Americana criou o presidencialismo e a Federação (antes disso Portugal e Espanha fizeram o papa dividir o mundo entre os dois no tratado de Tordesilhas). Seguiu-se o colonialismo e o imperialismo europeu, que avassalaram o mundo. A Revolução Francesa aprofundou a Americana e exaltou a liberdade, a igualdade e a fraternidade, que acabaram, essas últimas, na guilhotina funcionando sem parar. A Revolução Russa perseguiu o ideal da igualdade e da fraternidade, mas sufocando a “liberté”. A Revolução Chinesa de Mao é a repetição da Russa, até para evitar guerras como a das boxers, que a Inglaterra fez para enfiar ópio em escala gigantesca nos chineses. Dois séculos durou o martírio da China imperial (nascida 2 mil anos AC). Para os chineses foram “os séculos da humilhação”. Na atualidade, 1982 foi o marco zero da gigantesca potência mundial capitalista que logo ultrapassará os EUA. Nós nem evoluímos, involuímos. Éramos a 8ª economia e agora a 12ª. Antes do apogeu a decadência!
Hoje se vê a aproximação da parusia e a emergência de uma sociedade, “quando o lobo pastará com o cordeiro” (na mística cristã) ou será a humanidade instruída e igualizada pela utopia de Morus e pelos pensadores judeus, como Spinoza e Rosa de Luxemburgo?
À altura do século XXI, as diferenças de classe e as intolerâncias raciais, sejam onde forem, nos fazem intimamente sentir vergonha da imaturidade humana, do atraso social, dos nacionalismos vazios, das pobrezas coletivas deprimentes e das almas pequenas, a ponto de um Portugal — que por primeiro navegou mares nunca dantes navegados — gerar um poeta, de cuja poema saiu uma sentença quase divinal: “Tudo vale a pena, se a alma não é pequena” (Fernando Pessoa). O Brasil já teve um papel no mundo, hoje é um país autoritário e liberalóide.Sursum corda! Um dia a parusia ou então nada terá valido a pena para a humanidade. Teremos vivido nossas existências efêmeras como as abelhas e os frutos da terra mãe. Mas haveremos de mudar.
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