O ditado popular “antes tarde do que nunca” encaixa-se, à perfeição, à PEC promulgada ontem pelo Congresso que permite a volta do auxílio emergencial, a ser pago aos brasileiros mais vulneráveis, justamente no momento em que o país amarga a fase mais devastadora da pandemia. De 6 de março até a sexta-feira passada, foram registrados os sete dias mais letais da covid-19 no Brasil: a doença tirou a vida de 12.335 pessoas. Não à toa, pela segunda vez no mês, a Organização Mundial da Saúde (OMS) chamou a atenção do governo para a necessidade de tomar sérias e urgentes medidas para frear a velocidade da disseminação do coronavírus, que ameaça se expandir pelos países vizinhos.
No ano passado, além de ajudar quase 68 milhões de pessoas a atravessar os períodos mais críticos da pandemia, o auxílio — pago em cinco parcelas de R$ 600 e quatro de R$ 300 — movimentou a economia e evitou uma queda mais drástica do Produto Interno Bruto (PIB), total das riquezas produzidas no país. Mais que amortecer o tombo, o benefício ajudou a impulsionar uma curva ascendente da atividade econômica — batizada pelo ministro Paulo Guedes de crescimento em “V” — nos últimos meses de 2020.
Realizado pelo Insper, um estudo constatou que o pagamento do auxílio emergencial chegou a reduzir a desigualdade no país a um nível recorde em 2020: evitou que até 10% da população (21 milhões de pessoas) passasse a viver na pobreza e ficou perto de erradicar a miséria. A taxa da extrema pobreza — pessoas com renda per capita abaixo de R$ 150 ao mês — caiu de 3% para 1%, a menor desde a década de 1970, quando esse tipo de pesquisa começou a ser feito.
No entanto, o recrudescimento das curvas de casos e de mortes pela covid-19 neste início de ano, bem como a interrupção da ajuda emergencial a partir de janeiro, a falta de vacinas para imunização em massa e medidas de restrição — a exemplo de lockdown e toque de recolher, que governadores e prefeitos se viram obrigados a decretar — voltaram a lançar incertezas sobre a retomada do crescimento neste início de ano. Já sem receber o auxílio em 2021, nada menos que 2 milhões de brasileiros voltaram para a pobreza em janeiro, calculou o pesquisador Naercio Menezes Filho, do Insper, a pedido do portal G1.
Diante da escalada do coronavírus, a retomada do auxílio neste momento ajudará a mitigar o sofrimento dessas famílias, que também sofrem com a falta de emprego. Afinal, entre os países emergentes, o Brasil é o que está em pior situação nesse quesito. Pesquisa do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), divulgada na quinta-feira passada, mostra que a taxa de desocupação, depois de atingir 14,6% de julho a setembro, recuou para 13,9% no último trimestre de 2020. Mesmo assim, ainda é a maior desde 2012. Corresponde a 13,4 milhões de pessoas sem trabalho no país. E, segundo especialistas, a tendência é de que essa fila cresça. Logo, ainda que tarde e em menor valor — na média, ficará em torno de R$ 250 —, a volta do auxílio é muito bem-vinda.
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