As hostilidades e agressões a um repórter fotográfico do Estado de Minas, na segunda-feira, em Belo Horizonte, e a um repórter e a um cinegrafista da TV Serra Dourada, afiliada do SBT, na BR-153, em Goiânia, ontem, além de intoleráveis e passíveis de punição, servem de grave alerta. A 18 meses das eleições gerais, há um forte indicativo de polarização na disputa presidencial, talvez ainda maior do que em 2018. Por isso, é preciso que o Ministério Público, o Judiciário e todas as instituições democráticas do país fiquem atentos ao avanço dos grupos radicais que se multiplicam nas redes sociais e vão para as ruas movidos pelo ódio. Com o falso argumento de defesa da liberdade de expressão, inclusive, atacam também quem mais zela por ela, a imprensa.
É preciso coibir os extremistas com a força da lei, ou correremos o risco de presenciar a multiplicação dessas agressões nas próximas semanas. Enquanto o inquérito das fake news caminha a passos de tartaruga no Supremo Tribunal Federal (STF), os radicais atuam com agilidade pelo país. É preciso vasculhar as redes sociais, identificar e punir esses grupos. Não basta apenas prender exemplarmente um deputado que ameaçou a Suprema Corte. É preciso muito mais.
Defender os próprios interesses políticos, apoiar ou criticar governos e adversários faz parte da democracia, como também se dizer de direita ou de esquerda. A discordância, ou dissenso, é essencial para um regime democrático, que se viabiliza pelo consenso. Mas, muitas vezes, o que é uma manifestação legítima descamba para demonstrações de intolerância e atos de violência. E, se nada for feito, nunca é demais repetir, poderemos chegar a extremos de violência na campanha eleitoral do ano que vem.
Ir para as ruas defender o fechamento do Congresso Nacional e do STF não é liberdade de expressão, é crime contra a Constituição Federal. Fazer manifestações para pedir intervenção militar é um contrassenso. Afinal, sob um regime de exceção, os primeiros atos proibidos serão exatamente as manifestações públicas.
Outro brado despropositado, para não dizer obsoleto, é o combate ao comunismo, uma retórica que segue ganhando adeptos, mesmo que a maioria dos que se dizem críticos não saiba exatamente o que é isso. Se, em 1964, a ameaça de um regime comunista serviu de motivação para os militares assumirem o poder diante da polarização EUA-URSS, no século 21, este argumento não faz nenhum sentido, porque os regimes comunistas desapareceram ou perderam força mundo afora. Quem ataca a imprensa está atacando também a democracia brasileira. E não defende nenhuma liberdade, quer apenas impor uma visão de mundo e calar – com o uso da truculência – as vozes dissonantes.
Notícias pelo celular
Receba direto no celular as notícias mais recentes publicadas pelo Correio Braziliense. É de graça. Clique aqui e participe da comunidade do Correio, uma das inovações lançadas pelo WhatsApp.
Dê a sua opinião
O Correio tem um espaço na edição impressa para publicar a opinião dos leitores. As mensagens devem ter, no máximo, 10 linhas e incluir nome, endereço e telefone para o e-mail sredat.df@dabr.com.br.