Por Valmir Campelo — Ministro emérito e ex-presidente do TCUnião, ex-deputado Federal Constituinte e ex-senador da República
Era o início de 2020, enquanto ainda comemorávamos a chegada de um novo ano, na esperança de dias melhores, um elemento hostil a todos e sobremodo incomum se armava para modificar totalmente a vida dos seres humanos em todo o planeta.
Esse inimigo invisível nos foi apresentado pela Organização Mundial da Saúde com o nome de vírus Sars-Cov-2 ou novo coronavírus, causador da grave enfermidade denominada covid-19, capaz de repercutir em escala global nos campos da biomedicina e da epidemiologia, com impactos sociais, econômicos, políticos e culturais sem precedentes na história.
O elevadíssimo número de infectados, com alto nível de mortalidade, e a necessidade de ações governamentais para a contenção da mobilidade social, como isolamento e quarentena, vêem tendo como resultados o estrangulamento dos sistemas de saúde e a crise insuperável na sustentação das economias das nações, com reflexos diretos na vida das pessoas, que se veem atingidas, em grande parte, não só pela falta de assistência médica, como também pela taxa média de desemprego recorde, dificultando o acesso a bens essenciais.
Passado o primeiro ano sem que tenha sido possível debelar o agente infeccioso que já matou mais de 2,5 milhões no planeta, quase o mundo inteiro continua diante de um grande desafio, que é, além de fazer as economias voltarem a funcionar, dispor de estrutura hospitalar capaz de combater a doença e salvar o maior número possível de vítimas e, ao mesmo tempo, avançar com a vacinação.
O fato é que, frente à lamentável tragédia, o que vemos atualmente é o que se convencionou chamar de novo normal, em face das mudanças impostas aos costumes e hábitos sociais, surgindo, assim, as novidades do trabalho e da educação em casa, dos empregos com jornadas reduzidas ou suspensas e salários proporcionais, da intensificação das regras sanitárias, afora novas palavras ou expressões introduzidas no cotidiano, a exemplo de distanciamento social, lockdown, máscara, oxímetro etc.
Em meio ao caos instalado, viu-se abrir um espaço excepcional para a criatividade humana e uma oportunidade incomum para o abandono da inércia e da acomodação diante dos problemas e dos obstáculos, cujo aproveitamento pela maioria das pessoas é hoje uma realidade animadora, formando-se a partir dessa desejável compreensão um novo padrão de comportamento em favor da nossa sobrevivência.
Foi assim que vimos com entusiasmo a saúde e a preservação da vida serem colocadas em primeiro plano, somando-se aos cuidados com os grupos de maior risco o valoroso e incansável trabalho dos profissionais da área de saúde, como médicos e enfermeiros.
Acrescente-se a isso a atuação de outros heróis, como os policiais militares e do Corpo de Bombeiros, os profissionais de limpeza e vigilância junto aos hospitais, afora outros especialistas e voluntários.
De outra parte, a pandemia colocou à mostra as consequências negativas da desigualdade social ao redor do mundo, na medida em que o coronavírus vem tornando mais vulneráveis as camadas menos favorecidas das populações.
Com certeza, a pandemia de covid-19 transformou radicalmente as sociedades do mundo inteiro, levando os indivíduos a se adaptarem a uma nova forma de convívio coletivo, com nítida mudança de prioridades.
Efetivamente, não se tem mais a aproximação acolhedora entre as pessoas das comunidades, pelo receio de contaminação, enquanto o interesse pela vida em face do perigo iminente passou a prevalecer sobre a proteção das atividades econômicas, essas seriamente prejudicadas pelo isolamento social tido por inevitável na situação crítica vivenciada.
Inequivocamente, o individualismo ou egocentrismo não condiz com a natureza humana, sendo imprescindível ver também os interesses dos outros para cada um se sentir completo.
A pandemia em referência nos mostrou que a união de todos e a solidariedade são capazes de mover o mundo para um destino mais promissor, representando a possibilidade concreta da superação de adversidades severas como a covid-19 e a desigualdade social, afora outras conquistas reveladoras da predominância dos direitos coletivos sobre os direitos individuais.
Sem querer romantizar tal crise, cabe-me lembrar que, ao lado das tristes memórias de tantos sofrimentos vividos com as inúmeras perdas, há, também, gratas recordações de superação da doença por grande parte dos acometidos, quando, normalmente, vem à tona alguma reflexão sobre o que é realmente importante na vida, na certeza de que nada será como antes.
Neste momento de tanta dor, aflição e incerteza, aproveito a oportunidade para expressar os meus sinceros sentimentos de pesar e a minha solidariedade a todos que perderam algum ente querido para a covid-19, rogando a Deus que, com a sua infinita bondade, possa confortá-los.
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