Em continuidade do que foi apresentado ontem, aqui nesse espaço, sob o título “O uso do santo nome em vão”, a pretexto de se mostrarem como legítimos representantes de Deus na Terra, vangloriando-se de uma iluminação divina, que absolutamente não possuem, muitos indivíduos chegam ao paroxismo de ameaçar seus semelhantes, mesmo que essa atitude contrarie tudo o que está expresso nas escrituras sagradas.
Não se furtam ou se avexam em se proclamarem ungidos, sobretudo quando encontram abrigo e proteção junto aos poderosos. Durante a década de hegemonia do chamado lulopetismo, que viria a findar com a deposição da tresloucada presidenta Dilma, o capelão, que fazia o ligamento entre o mundo espiritual e temporal, despachando diretamente de dentro do Palácio do Planalto, era o frei dominicano Carlos Libânio Christo, ou simplesmente, Frei Betto. Era ele quem orientava o então presidente Lula, sabidamente um fariseu materialista, nas coisas do céu. Lula fingia que ouvia e seguia a pregação, até para mostrar algum traço de caráter piedoso para a população. Obviamente que era tudo uma grande e vazia encenação. Pelo menos da parte de Lula, que, depois da mosca azul, Frei Betto desistiu.
Com a chegada inusitada da direita política ao poder, o mesmo apelo oportunista e marqueteiro ao mundo espiritual foi novamente encenado diretamente do Planalto. Nessa oportunidade, invés de um capelão, o chefe do Executivo se acercou do mais variado grupo de pastores neopentecostais. Hábeis e gananciosos, esses falsos profetas são, na verdade, proprietários de rendosos conglomerados de templos, rádios, redes de televisão, jornais e outros negócios, usando dessas igrejas para esquentar uma grande movimentação de dinheiro e para esfriar os ânimos da Receita Federal.
Por possuírem um grande rebanho de fiéis e doadores de dízimos, esses pastores, em pelo de cordeiro, são hoje os legítimos guias espirituais de um presidente afoito e que é capaz de tudo para se reeleger. Num mundo ideal e banhado pela luz da ética, seriam como náufragos que se abraçam desesperadamente para não afundarem.
A cada visita desses magos à corte, algum milagre acontece. Da última vez que lá estiveram, conseguiram o perdão de R$ 1,4 bilhão em dívidas dessas igrejas junto ao fisco. Trata-se de uma façanha e tanto, impossível de ser obtida pelo crente comum. O uso de pseudorreligiosos por políticos populistas sempre rendeu péssimos frutos para a sociedade.
Essa sexta-feira última marcou os 57 anos da realização da famosa manifestação, acontecida em 1964 em São Paulo, às vésperas do golpe militar. Intitulada “Marcha da Família com Deus pela Liberdade”, esse movimento, que chegou a agrupar entre 500 mil e 800 mil pessoas naquela distante tarde, na Praça da República, deu como frutos 21 anos de ditadura. Talvez tenha sido um castigo pelo uso inapropriado do Santo Nome em vão.
A frase que foi pronunciada
“No princípio será o verbo ou a verba.”
Ministro Carlos Fernando Mathias de Souza. Magistrado federal aposentado e vice-presidente do Instituto dos Magistrados do Brasil.
Segredo
» Por falar em Carlos Mathias, aí vai um segredo. No dia 25 deste mês, ele troca de idade.
E a contrapartida?
» Pela Medida Provisória n° 994, de agosto de 2020, a Presidência da República abriu crédito extraordinário, de R$ 1,9 bilhão, em favor do Ministério da Saúde, com objetivo de garantir ações necessárias à produção e à disponibilização de possível vacina segura e eficaz na imunização da população brasileira contra o novo coronavírus (covid-19). Verba não faltou.
Construcell
» Falta muito para o governo brasileiro se atinar ao valor do filão da criatividade de cientistas brasileiros. Leia no blog do Ari Cunha a saga de Reginaldo Marinho com a sua criação. Portas fechadas, janelas fechadas no Brasil, enquanto outros países avançam e ganham divisas. Outra cientista que pena com o descaso é Suzana Herculano-Houzel. Até vaquinha já fez para manter as atividades em laboratório.
Publicado
» Na capital de Honduras, Tegucigalpa, há algo estranho acontecendo no território da embaixada brasileira. Recebemos uma missiva dando conta de que a segunda secretária Railssa Peluti foi punida injustamente. Como temos apenas um lado da história, vamos aguardar a réplica.
História de Brasília
Hoje, com muito maior movimento, seus títulos enchem de descrédito o comércio do Distrito Federal, sem que a Interpol tome nenhuma providência, em defesa dos comerciantes de boa fé e honestos.
(Publicado em 26/01/1962)
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