Vamos eu e ela — a natureza —, selvagens amantes em um país onde é proibido sonhar. A vida é quase como na canção. A longa e tormentosa estrada. Ao fim dela, farsantes e genocidas vociferam aos devotos inebriados. Absurdos e insanidade: a cidade é uma permanente onda de violência. Mas pela via marginal, nos fragmentos de um caminho natural, a vida se desenha próspera e viável, com frutos silvestres ricos em esperança. Deixem abertas as portas de saída.
Vamos eu e ela — a noite —, encurralados pela injustiça. Açoitados por leis que ainda escravizam, fabricadas por hordas de corruptos, os psicopatas no poder, que parecem trepados uns sobre os outros, ávidos por abocanhar o quinhão que não lhes pertence. À sombra, vagueamos desobedientes, numa indômita e prazerosa cavalgada até o amanhecer, transgredindo o toque de recolher.
Vamos eu e ela — a canção assoviada pelos canários pousados na antena que nos revela o mundo. Embalados pela melodia preferida dos dançarinos rodopiantes, livres personagens do jardim das delícias terrenas. O solo de um samba, de um rock ou de um baião, arquitetando a voluptuosa silhueta da bailarina que resiste à prisão.
E quando caminho com a lua, contemplo o tempo de semear e da colheita, longe demais das capitais. Adorando a um Deus que outrora negamos, talvez por pura falta de esperança no destino humano ou por reconhecer a grandeza de uma coisa que mete medo. Às vezes, sorrimos; outras, choramos, mas confiamos no trabalho honesto que fazemos com o suor das próprias mãos.
No passeio sob a estrela, Sol escaldante do sertão, fortalecemos corpo e espírito, rumo ao refúgio oculto preservado entre vales. A água benfazeja que escorre entre pedras e despenca pelas chapadas oferece aos eleitos um banho de cachoeira. Lava-se a pele, ilumina-se e a alma, valoriza o essencial. Buscamos a verdade e a virtude em vias congestionadas de informação. Vamos eu e ela — a solidão.
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