No momento mais dramático da pandemia para o Brasil, que se tornou o epicentro mundial da enfermidade, muito se tem discutido sobre a necessidade ou não de nova paralisação das competições de futebol no país, a exemplo do que ocorreu durante parte do ano passado, quando o avanço do novo coronavírus começava a aterrorizar o planeta.
Em favor da continuidade, defendida pela CBF e pela maioria das federações e clubes, além do fato de tratar-se de uma indústria que movimenta bilhões de reais, alega-se que os protocolos de medidas protetivas seguidos, com jogadores e demais envolvidos testados constantemente, garantem ambientes seguros para as partidas, com baixo risco de infecção em campo e sem torcida nos estádios.
Ocorre que, acima dos interesses que envolvem um negócio bilionário, estão a saúde da população e a preservação de vidas. Não é razoável que em meio à maior crise sanitária de nossa história, com o sistema hospitalar em colapso em quase todo o país e as mortes se contando diariamente aos milhares, muitas vezes por falta de atendimento, o futebol prossiga “normalmente”.
Afinal, as competições exigem que delegações dos times se desloquem em viagens, não raro longas, de avião (às vezes, de ônibus), fazendo escalas em aeroportos e se hospedando em hotéis, sobretudo em torneios maiores, como a Copa do Brasil, que abrange quase todos os estados e grandes distâncias. Se nos gramados o risco de infecção é baixo, todas essas pessoas em deslocamento podem se tornar agentes transportadores do vírus. Além disso, as partidas ainda costumam gerar aglomerações de torcedores perto dos estádios e em outros locais para acompanhá-las.
A paralisação do futebol não deixa de servir ainda como mais um parâmetro para outros eventos, serviços e comércios não essenciais que foram obrigados a suspender suas atividades país afora. Por falar em parâmetro, espera-se que os jogadores, alguns deles ídolos de jovens e crianças, não deem o mau exemplo de aparecer em festas e reuniões proibidas, como foi, entre outros, o caso do artilheiro Gabigol, do Flamengo, flagrado há alguns dias num cassino clandestino lotado.
Há que se concordar que jogos de futebol transmitidos pela TV não deixam de ser divertimento e distração para muita gente nesse longo tempo de confinamento em casa. Mas a hora é de sacrifício de todos na luta contra a pandemia e em favor do bem maior, que é a vida humana.
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