Visão do Correio

Artigo: Cidades no limite

Correio Braziliense
postado em 24/03/2021 06:00

O Brasil atingiu mais uma triste marca de mortes em decorrência da covid-19. Foram registrados, ontem, 3.251 óbitos em todo o país. Um número trágico no dia da estreia de Marcelo Queiroga como ministro da Saúde. Se ele já tinha consciência do enorme desafio ao assumir a pasta, não resta dúvida de que a missão de gerir a maior crise da saúde de todos os tempos será tarefa hercúlea. E isso num momento em que as expectativas são de piora.

Até há algumas semanas, a situação de Brasília, comparada com outras capitais, era menos alarmante, reflexo das medidas de isolamento tomadas ao longo do ano passado pelo governo do Distrito Federal. O que era motivo de algum alento, no entanto, virou passado. A capital federal — assim como todas as capitais do país, cidades grandes, médias e pequenas — transformou-se em um quadro dramático, no qual pacientes e suas famílias se sentem indefesos.

Assim como em Brasília, os hospitais particulares e públicos de Belo Horizonte, capital mineira, passaram de seu limite. Mais de 100% dos leitos para covid-19 estão ocupados. E nada indica que a situação vá melhorar a curto prazo. Basta ver o que vem ocorrendo nas cidades do interior do estado, inclusive da região metropolitana, onde os leitos também se esgotaram e a única opção das famílias é trazer o doente para hospitais da capital.

O infectologista Unaí Tupinambás faz um diagnóstico preciso da situação. Em algumas frases do médico, o resumo da gravidade do que estamos vivendo: “Belo Horizonte tem um risco real de entrar em colapso”; “Estamos no pior momento da pandemia”; “A gente não achava que ia chegar nessa situação”; “É um cenário de filme de terror. Não tem para onde correr.”

É compreensível que boa parte da população relute em aceitar as medidas de fechamento de segmentos do comércio não essencial. Um lojista, ao justificar ter desrespeitado as regras, disse que “preferia morrer de covid a morrer de fome.”O desespero do comerciante tem de ser levado em conta, claro, e medidas precisam ser tomadas pelos governos, em todos as esferas — municipal, estadual e federal —, para mitigar as perdas daqueles que não têm outros meios de garantir o seu sustento.
Mas isso não pode se sobrepor às ações necessárias para conter a pandemia. E, entre elas, o isolamento é essencial, principalmente, porque não temos ainda vacinas suficientes para imunizar a população. Se não for assim, Brasília corre sério risco, como outras capitais, de viver o que aconteceu em Manaus, com pacientes morrendo na porta de hospitais, sem atendimento e sem oxigênio.

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