Desde 1960

Visto, lido e ouvido — Outros tempos, as mesmas verdades

Correio Braziliense
postado em 24/03/2021 06:00

Por Circe Cunha (interina) // circecunha.df@dabr.com.br

Diferença fundamental entre o fanatismo político e a ciência é que, enquanto um se baseia na autoridade, o outro se baseia na observação e na razão. O objetivo final da ciência é a verdade. O da política, é o poder. As consequências desse debate têm, no entanto, ido muito além das discussões entre paralisação e quarentena. No campo político, as oposições têm aproveitado o momento,não apenas para desacreditar as teses do presidente Bolsonaro, mas, também, para empurrar o país para uma crise institucional, o que, na avaliação dessa gente, renderia benefícios diretos já nas próximas eleições.

Um movimento internacional espalha carta aberta às nações, por e-mail, em italiano, inglês, português, alemão, espanhol e francês. Afirma que o texto foi feito coletivamente e contou com o apoio de dom Mauro Morelli, padre Júlio Lancellotti, Leonardo Boff, Chico Buarque de Holanda, Carol Proner, Zélia Ducan, Michael Löwy, Eric Nepomuceno, Ladislau Dawbor, Frei Betto, Yves Lesbaupin, Regina Zappa e outros. Diz que, “no Brasil, homens e mulheres comprometidos com a vida estão sendo mantidos como reféns por Jair Bolsonaro, que ocupa a presidência do Brasil, junto com uma gangue de fanáticos movidos pela irracionalidade fascista”.

Provavelmente, referem-se à pandemia. Ao contrário do que parece, se tivessem mesmo interesse pela vida lutariam pela prevenção da doença, falariam da China sem temor, não estariam lutando pela volta do dinheiro fácil, às custas do trabalhador brasileiro, estariam interessados em lutar juntos pelo país, como o pacto sugerido pelo presidente do Senado, Rodrigo Pacheco.

Diz ainda em relação ao presidente do país que: “Este homem sem humanidade nega a ciência, a vida, a proteção do meio ambiente e a compaixão.” O ódio pelos outros é a razão de exercer o poder. Ao mesmo tempo em que fazem essa afirmação, os signatários em sua maioria são a favor do aborto e a um terceiro, quarto gênero que ultrapassam o feminino e masculino, negando a ciência descaradamente.

E a missiva continua. “O Brasil hoje sofre com o colapso intencional do sistema de saúde. O descaso com a vacinação e as medidas preventivas básicas, o incentivo à aglomeração e a quebra do confinamento, aliados à total ausência de uma política de saúde, criam o ambiente ideal para novas mutações do vírus e põem em perigo toda a humanidade. Assistimos com horror ao extermínio sistemático de nosso povo, principalmente dos pobres, quilombolas (comunidades de ex-escravos) e indígenas.” Mais uma vez, desviam o olhar do culpado por tudo isso. E mais. Falam como se outros continentes não estivessem atravessando o mesmo padrão de contágio.

Esquecem-se, também, da Suprema Corte, composta por indicados do mesmo partido que negaram poder ao presidente para agir, dando essa responsabilidade aos governadores. Quando o discurso é um e a prática é outra, não conseguem mais enganar. Vieram mesmo para matar, roubar e destruir. A igreja é a próxima a sofrer ataques. Que ore e vigie. Aos poucos, essa ideologia da polarização vai ganhando espaço. Em nome do ecumênico, a CNBB sofre críticas até hoje com uma campanha nada fraterna e totalmente incoerente. No passado, a semente da discórdia foi plantada com uma intenção aparentemente positiva, onde Comunidades Eclesiais de Base tidas como comunidades inclusivistas eram incentivadas pela Teologia da Libertação nos anos 1970 e 80. Na coxia, o teatro continuava depois que saíam do palco sob aplausos efusivos. O filósofo de Mondubim gostava de repetir Abraham Lincoln: “Você pode enganar uma pessoa por muito tempo; algumas por algum tempo; mas não consegue enganar todas por todo o tempo.” Ponto. Saudações.

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