Como nunca, a pandemia da covid-19 tem nos forçado a fazer contas. Para mais e para menos. E, por enquanto, sem resultados positivos. O Brasil está longe de saber a exatidão dos estragos que serão causados pela crise sanitária. É certo que nenhum país tem, hoje, essa resposta. Mas nossa inabilidade em lidar com o novo coronavírus dá sinais de que, por aqui, o saldo será pesado.
Difícil esperar o contrário vendo gente morrendo por falta de oxigênio em UTIs e corpos espalhados pelo chão de hospitais. Isso na 12ª economia do mundo — já rebaixada em meio à crise sanitária, é bem verdade. Enquanto o Produto Interno Bruto (PIB) e nosso prestígio internacional caem, o número de vidas perdidas bate recordes sucessivos há quase um mês. O Brasil chegou a 3 mil mortes diárias, um terço das mortes do mundo, ao menos uma semana antes das projeções — era a estimativa de abril.
Também em ritmo acelerado, o Distrito Federal enterra seus mortos e, neste mês, enfrenta um aumento de 20% na demanda de oxigênio. Em outras seis unidades da Federação — Acre, Amapá, Ceará, Mato Grosso, Paraná, Rio Grande do Norte e Rondônia —, a situação do oxigênio é pior: classificada como crítica pelo próprio Ministério da Saúde.
Não é preciso ser um grande conhecedor de crises sanitárias para prever o desenrolar desse cenário. Basta a matemática simples: menos assistência é igual a mais mortos. Quem consegue uma vaga na UTI — sim, porque essa também é uma batalha travada pelos brasileiros — pode não receber o tratamento integral de que necessita e não resistir à doença, assim como os que sequer recebem o cuidado especializado. Também desassistidas, pessoas com câncer, problemas cardíacos e outros males crônicos se juntam à agonia de estar com a vida por um fio.
Em entrevista ao CB. Poder, ontem, o médico e neurocientista Miguel Nicolelis alertou que, sem medidas mais eficazes de combate à covid-19, chegaremos a 500 mil mortos em julho. Fala-se que um tsunami vai varrer o país. Enfrentaremos mais de um. Já perdemos mais brasileiros e brasileiras do que quando, em 2004, um terremoto na costa da Indonésia gerou ondas gigantes que varreram 13 países e mataram 230 mil pessoas. Há 10 anos, depois de um fenômeno parecido, os japoneses se despediram de 18 mil mortos — o equivalente a seis dias da nossa tragédia sanitária.
Quanto mais é preciso para convencer autoridades de que colapsamos? Faltam estrutura de saúde, honestidade política, educação sanitária, respeito ao coletivo e também aos enlutados. Somos um país devastado por uma soma de erros que deixa imprecisa qualquer previsão de dias melhores.
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