No mês mais letal da pandemia no Brasil, enfim uma boa notícia: a ciência no país está prestes a dar um passo decisivo para a independência na imunização contra o coronavírus. Em São Paulo, o Instituto Butantan anunciou que pediu autorização à Agência Nacional de Vigilância Sanitária para iniciar, no mês que vem, testes clínicos em humanos com a Butanvac, que pode se tornar a primeira vacina 100% desenvolvida e produzida no Brasil contra a covid-19. Horas depois, em Brasília, o ministro da Ciência e Tecnologia também anunciou ter encaminhado à Anvisa pedido para que libere ensaio com voluntários de um imunizante criado pela Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto, da Universidade de São Paulo (USP), com apoio do governo federal.
Tão logo receba o sinal verde da Anvisa, o Butantan começará o ensaio clínico, e espera concluir as três etapas do experimento até julho. Antes disso, porém, pretende iniciar já em maio a produção de 40 milhões de doses, a serem disponibilizadas até o fim deste ano. À primeira vista, os planos parecem exagerados. Mas o diretor do instituto, o hematologista Dimas Covas, explica que a aceleração do processo é viável porque o imunizante será fabricado com tecnologia já empregada na vacina da gripe, desenvolvida pelo próprio instituto. Inclusive, com aproveitamento da estrutura já existente para isso.
Além disso, o hematologista destaca que a fórmula, cujo desenvolvimento começou um ano atrás, passou pelos testes pré-clínicos realizados em animais e, até o momento, os resultados são animadores. Um laboratório da Índia, afirma ele, também teria feito testes da Butanvac com animais e chegado às mesmas conclusões positivas. Assim como a vacina da gripe, observa Covas, o novo imunizante do Butantan será produzido em ovos de galinha e não necessitará de insumo importados, um entrave que o país enfrenta hoje para a fabricação de doses dos atuais imunizantes contra a covid-19.
Com o anúncio da nova vacina, o Butantan reabre a discussão sobre a importância de investimentos estratégicos em pesquisas tecnológicas e científicas. Sobretudo, porque o Brasil sempre foi um país de vanguarda quando o assunto é vacinação, como bem lembrou recentemente o presidente da Organização Mundial da Saúde, Tedros Adhanom Ghebreyesus. Conhecedor da estrutura sanitária pública do país, que visitou diversas vezes, ele se mostrou surpreso com o fiasco nacional no enfrentamento ao novo coronavírus. “Eu esperava que o Brasil pudesse ter um melhor desempenho em pandemias por causa do seu forte sistema de vigilância em saúde”, disse, à época.
No caso da vacina desenvolvida com apoio do governo federal, Marcos Pontes não deu informações mais detalhadas. Ele afirmou que o Ministério da Ciência e Tecnologia investiu em 15 projetos diferentes. “Três dessas vacinas já fizeram os testes em animais e, agora, estão entrando na fase de testes com voluntários, testes clínicos”, disse. Em entrevista, ao lado do ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, ele negou que o anúncio tenha sido feito às pressas devido à Butanvac. Briga política à parte, o Brasil torce para que todos os imunizantes em desenvolvimento no país vençam, o mais rapidamente possível, essa corrida. A corrida para salvar vidas.
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