Visão do Correio

Felicidade foi embora

Correio Braziliense
postado em 27/03/2021 21:48 / atualizado em 27/03/2021 21:54

O mundo inteiro, com raras exceções, sofre há mais de ano com a avassaladora pandemia do novo coronavírus. No Brasil, atual epicentro dessa hecatombe planetária, parece que ninguém mais fala de outro assunto. De Norte a Sul, de Leste a Oeste, recordes sucessivos no número de mortes e de casos assombram o país e povoam o noticiário de emissoras de rádio, televisão, revistas e jornais impressos. Também invadiram sites e redes sociais, como Facebook, Twitter, Instagram... Certamente, por isso, quase ninguém tenha dado a devida atenção ao mais recente Relatório Mundial da Felicidade, divulgado na semana passada.

Estruturado para mensurar o impacto da pandemia na felicidade dos povos, o levantamento mostra que a covid-19 afetou seriamente a famosa alegria dos brasileiros: o país despencou nada menos que 12 posições no ranking da felicidade. Hoje, está no 41º lugar e perdeu para o vizinho Uruguai (30º) o posto de nação mais feliz da América do Sul. De forma geral, o estudo constatou que o coronavírus influenciou negativamente o humor das pessoas em todos os 149 países pesquisados. E a conclusão, não poderia ser diferente, é que a pandemia impôs graves perdas no bem-estar social global, levando a um aumento da infelicidade em todo o mundo.

No topo das nações onde os habitantes se sentem mais felizes, estão oito países da Europa. Pela segunda vez consecutiva, a Finlândia lidera o ranking, seguida de Islândia, Dinamarca, Suíça, Holanda, Suécia, Alemanha e Noruega. No nono lugar vem a Nova Zelândia, país cujo governo foi destaque internacional no enfrentamento ao novo coronavírus. No relatório, destacam os autores: “As evidências mostram que o moral das pessoas melhora quando o governo age”.

Coordenado pela Rede de Soluções para o Desenvolvimento Sustentável, ligada à Organização das Nações Unidas (ONU), o estudo conta com suporte de pesquisas feitas pelo Gallup, Banco Mundial e Organização Mundial da Saúde (OMS). E envolve dados relativos a uma série de variáveis de bem-estar e indicadores que medem condições econômicas e sociais de um país: PIB per capita; assistência social; vida saudável; expectativa de vida; liberdade para fazer escolhas; confiança; generosidade; ausência de corrupção.

Cada quesito recebe uma nota que vai de zero a 10. Os resultados são analisados por especialistas de diversas áreas — psicólogos, economistas, estatísticos — e servem de suporte para que a ONU avalie e acompanhe a evolução do bem-estar e do estado de felicidade da população, tanto de forma global quanto da situação específica de cada país. Em suma, o estudo alerta para o óbvio: o progresso de uma nação vai muito além de um PIB robusto. De nada adianta a riqueza concentrada nas mãos de uma minoria, enquanto a maioria fica cada vez mais pobre, mais miserável. Como ressalta um dos coordenadores do relatório, o economista Jeffrey Sachs, é preciso que, no enfrentamento dos desafios do desenvolvimento social, os países não percam o foco no bem-estar geral dos cidadãos. Senão, sentencia, a mera riqueza será passageira.

 

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Quem sou eu na fila do pão ?

Estamos vivendo naquele lapso de tempo em que pequenas coisas bonitas viram grandes coisas bonitas. A desimportância de outrora ganhou status de grande relevância. Se eu fosse de chorar, choraria quando vi a foto da Rita Lee tomando vacina ou Maria Bethânia falando e cantando numa live histórica, política e comovente. Falar verdades, cantar seu canto, caminhar ao vento, levantar todo dia de manhã com saúde, vacinar-se... O simples assim, a vida cotidiana, o abraço dos filhos, o querer bem aos amigos, a pausa para o café, o cozinhar... São as pequenas atitudes que hoje emprestam algum sentido à nossa existência. Do buraco negro, aflora aquilo que adubamos diariamente. E é isso que nos dá força para enfrentar a bestialidade.

Obviamente, entre todas essas coisas que pareciam tão triviais, impõe-se uma, que é soberana agora: a vacinação. O que já foi apenas o cumprimento de um protocolo de saúde contra velhas doenças conhecidas tornou-se uma meta de vida. Cada foto de uma pessoa oferecendo o braço ao pequeno e poderoso antídoto tornou-se um símbolo. Algo como uma tatuagem que informa: “Não vou morrer”. A vacina é a única garantia de vida e de vitória contra o coronavírus. Todo o resto é loteria.

Por essa razão e também pela morosidade do Brasil em conseguir vacinas em número suficiente para evitar que hoje estivéssemos com mais de 305 mil pessoas mortas, estamos todos ansiosos pelas nossas doses. Felizes com a notícia de uma vacina brasileira. Com cada amigo, pai, mãe, irmão, irmã que chega no início da fila...

Imersos na maior crise sanitária de todos os tempos, entorpecidos pelo isolamento, pelo confinamento, pela falta de perspectiva de controle da pandemia, divididos entre grupos que respeitam e grupos que negam, caminhamos pelo novo e contraditório normal. O novo já velho normal nos pede que o tempo pare e siga depressa. Pare de matar e corra com a vacina. O desejo eterno e doentio da sociedade pela juventude dá lugar àquela pontinha de inveja do idoso que já se vacinou.

Quando chegará minha vez? Quem sou eu na fila do pão? Sim, a gente se pergunta. E a resposta não chega mais rápido do que a notícia diária de milhares de mortes, do que as imagens aterrorizantes de pessoas morrendo em postos de saúde, com falta de UTI, de oxigênio, de socorro. Não existe nada, nada mais triste do que ser impotente diante do sofrimento de quem a gente ama. E também não há nada mais revoltante do que fura-fila de vacina. E, incrivelmente, os penetras fazem parte da ridícula elite brasileira.

O que tínhamos de sobra, a alegria e a esperança do povo brasileiro, agora nos falta. É verdade: a vida está nos ensinando da forma mais dura, e é preciso crescer na adversidade. Em algum momento, vamos recolher a dor e dar vazão ao nosso grito por liberdade. Até lá, use máscara, pratique o distanciamento social como decisão política e aguente o tranco. Bethânia canta lindamente a letra linda de Chico César: “Se a voz da noite responder/onde estou eu/onde está você/estamos cá dentro de nós...”. Não se perca de você. A vacina vai chegar.

>> Sr. Redator

Orgulho

Maravilhosa a notícia que chegou ao país na sexta-feira. O Instituto Butantan, instituição de excelência reconhecida mundialmente, anunciou a produção de vacina contra a covid-19, considerando a variante brasileira, muito mais agressiva do que as primeiras que invadiram o país e produziram mais de 300 mil mortes. Uma vacina brasileira para brasileiros! A capacidade dos nossos cientistas é fantástica. Algo que nos dá muito orgulho e alegria. Então, pergunto, por que é tão ínfimo o investimento em ciência neste país? O Brasil é um exportador de cérebros geniais, que, desprezados pelo Estado nacional, recebem apoio em outros países e contribuem com os avanços científicos e tecnológicos no estrangeiro. Aqui, são subvalorizados e ignorados pelo Estado. No mesmo momento em que sentimos grande alegria com o anúncio feito pelo Butantan, vem uma tristeza ao perceber que temos todos os ingredientes, inclusive matéria-prima, para ser uma grande e respeitada nação. Mas as prioridades são outras, que nos afastam de um patamar de desenvolvimento compatível com o que convencionamos chamar de humanidade. Prevalece, entre nós, o espírito colonizador, explorador e desumano, que massacra milhões de pessoas para favorecer uma minoria irresponsável e que detém a riqueza nacional, na maioria das vezes, via corrupção. Parabéns ao Butantan e aos cientistas brasileiros, que estão anos-luz adiante do Estado brasileiro, perverso com sua população.
» Herondina Soares, Asa Norte


Militares

Mourão diz que Bolsonaro é o responsável por tudo que ocorre na Saúde. Até aí nenhuma novidade. No início da pandemia, o presidente disse que poderiam colocar “os mortos no seu colo”. Pelo visto, a sua reeleição será soterrada por cadáveres, que se acumulam a cada 24 horas, para desespero, dor e luto das famílias brasileiras. Apesar de apontar o dedo para Bolsonaro, Mourão não pode se esquecer de que ele, bem como todos seus pares da caserna, apoiaram a eleição de Bolsonaro, um militar que saiu do Exército pela porta dos fundos e chegou ao Congresso para engrossar as fileiras dos mais ineptos parlamentares da história republicana. Portanto, tanto Mourão quanto os demais fardados endossaram a insanidade que, hoje, habita o Palácio do Planalto.
» Joaquim Gomes Silveira, Taguatinga


Centrão

Pode ser que eu esteja enganada. Porém, no discurso do presidente da Câmara a respeito da covid-19, entendi que o Centrão vai contrariar o presidente Jair Bolsonaro. Torço para que isso aconteça. Não perdoo a deslealdade do presidente para com o dr. Sergio Moro.
» Josuelina Carneiro, Asa Sul


Corruptos

Aos senhores corruptos, principalmente aqueles que sempre se dedicaram à limpeza dos cofres públicos, peço perdão pelas inúmeras vezes que bati palmas quando tomei conhecimento de que os senhores foram condenados. Eu pequei, seus julgadores induziram-me a acreditar que corrupção era crime. Estou certo de que milhões de brasileiros também pecaram. Da minha parte, peço-lhes encarecidamente que me perdoem. Acredito que buscamos em dicionários falsos a definição para corruptos. Neles está escrito que corrupto é alguém que se comporta de modo desonesto e, quando em cargos públicos, lançam mão de recursos que deveriam ser aplicados em benefício do povo. Eu vacilei, deveria ter prestado mais atenção para que não cometesse injustiça. Eu pensava que a precariedade nos hospitais públicos, a falta de moradia para os menos favorecidos, o pouco investimento em educação, a falta de saneamento básico, os baixos salários dos professores, a falta de conservação das rodovias, transporte público caótico e tantas outras mazelas que o nosso Brasil enfrenta, fosse culpa dos senhores. Mas, recentemente, homens dotados de notável saber jurídico deixaram bem claro que os senhores não são nocivos à sociedade. Os senhores não merecem condenação. Eu creio que os senhores devem ser indenizados por danos morais. Quero pedir aos milhares de familiares dos mais de 300 mil mortos pela covid-19 que não pensem que os corruptos são culpados pela precariedade dos nossos hospitais públicos.
» Jeovah Ferreira, Taquari


Vacinas

Inacreditável, simplesmente sui-generis esta notícia: a mídia publicou que a Advocacia-geral da União vai recorrer da decisão de um Juiz Federal de Brasília que autorizou que empresários possam importar vacinas, desde que doem 50% do total para o SUS. Como é que pode? Os empresários não estão concorrendo com as importações estatais, são outras vacinas, e doarão a metade de graça para o SUS, para que sejam aplicadas na população brasileira. E mais, como bem frisou o jornalista Reinaldo Azevedo, as pessoas que tomarem a vacina nas empresas privadas deixarão de procurar o serviço público para se vacinarem, sobrando mais vagas para os menos favorecidos. Portanto, não dá para entender como a AGU possa ser contra uma decisão em que todos saem ganhando! Lamentável!
» Paulo Molina Prates, Asa Norte

Desabafo

>> Pode até não mudar a situação, mas altera sua disposição

Este GDF é brincadeira! No final das chuvas, ele resolve plantar árvores ao longo da EPIA. É mole?
Sebastião Machado Aragão — Asa Sul


Pfizer inicia ensaio clínico de medicamento oral contra a covid-19. Aplausos para a ciência.
José Matias-Pereira — Park Way


Quem sabe, agora o comitê de combate à covid encontre vacinas na casa da mãe.
Eduardo Pereira — Jardim Botânico


Agora, a briga é para se saber quem é o pai da vacina brasileira. Esse país exige paciência...
Vera Cruz — Asa Norte

Charge

 (crédito: Kleber Sales/CB/D.A Press)
crédito: Kleber Sales/CB/D.A Press

Visto, lido e ouvido

Desde 1960

Marcas da ciência

Com o desenvolvimento da primeira vacina brasileira contra a covid-19, pelo Instituto Butantan, o país dá um primeiro e tardio passo para que um imunizante contra esse flagelo tenha seu epitáfio escrito e assinado com as letras de nossa ciência. Lamentos não possuem força para mudar o passado, mas permitem um desabafo de alívio, quando, enfim, se reconhece que havia, desde o início, uma saída para essa pandemia. E ela estava, bem ali, em frente às portas que dão acesso aos diversos centros de pesquisa biológicas, aos laboratórios e às universidades espalhadas pelo país.

Alguns desses centros, como é o caso do Instituto Butantan, fundado há mais de 120 anos em São Paulo, têm sido referência para o mundo. Da mesma forma, o Instituto Bio-Manguinhos, ligado à Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), fundado no Rio de Janeiro há 120 anos, é outro exemplo de centro científico de excelência e pesquisa a serviço da vida e que tem sido modelo para o resto do mundo.

Existem, ainda, laboratórios de ponta nas universidades de Minas Gerais e de São Paulo que trabalham na busca de vacinas e imunizantes contra doenças tropicais e que exibem uma extensa folha de serviços prestados aos brasileiros e mesmo ao nosso continente. Isso sem falar dos laboratórios farmacêuticos nacionais e outros multinacionais que há anos operam no Brasil, produzindo medicamentos diversos e genéricos de todo tipo.

A diferença, nessa corrida desenfreada contra o morticínio do Sars-CoV-2, é que os centros de pesquisas ligados aos países desenvolvidos recebem absolutamente todos os recursos de que necessitam para o desenvolvimento de seus projetos e estudos. Tanto do governo como da iniciativa particular. Com isso, contam não só com os melhores equipamentos que hoje existem, como com os melhores corpos de pesquisadores, recrutados em todo o mundo, com enormes salários e outras vantagens. Já se disse que o lastro capaz de identificar o mundo moderno é dado pela ciência e pela tecnologia.

Por trás dessas riquezas atuais, estão, obviamente, universidades e centros variados de pesquisa, todos atendidos em seus quesitos e onde nada falta. Trata-se, aqui, de uma estratégia hodierna capaz de fazer prolongar, com saúde e segurança, a vida humana. Por isso mesmo, esses são setores fundamentais da economia e que mais recebem atenção dentro daqueles países.

A pandemia, talvez, tenha deixado claro, para alguns refratários, que sem ciência levada a sério não há chance de sobrevivência, nem para a sociedade, nem para a economia, muito menos para a política. Talvez essa lição, experimentada à custa de centenas de milhares de vidas, tenha deixado alguma marca em nossos homens públicos, sobretudo naqueles que negam essas evidências.


A frase que foi pronunciada

“Nosso caminho é o da união, ou, então, será o caos.”
Rodrigo Pacheco, presidente do Senado

Sensatez e trabalho
» Vacinação de idosos sem agendamento é sofrimento desnecessário. Todos sabem que a permanência por horas dentro de um carro não é saudável para um idoso. Havia lugares na cidade com carros em fila por quilômetros. Telefonou, agendou. Mais rápido e com menos riscos. Confira no Blog do Ari Cunha os pontos de vacinação de hoje e fique atento ao link do GDF para agendar.


Urgente
» Por falar em covid, o banco de leite do hospital de Santa Maria está precisando de doadoras. Diante de dúvidas sobre o coronavírus, as doações diminuíram.


GDF
» Comunicação é tudo. Principalmente entre as instituições públicas. O Brasília Legal não tem acesso à emissão de alvarás. Mesmo que os dois serviços sejam do GDF. Está na hora de modernizar a rede e o sistema. Para o bem do cidadão, que não sofrerá com tanta burocracia, e para o bem do governo, que arrecadará mais taxas e tributos.


Registro histórico
» Se o anseio da população era por justiça social, moradia digna e redução da pobreza, hoje esse desejo está mais voltado para a oportunidade de educação, compromisso, honestidade e cidadania. A longa crise social, econômica e política, além da incontrolável mídia social dos últimos anos, tiveram, ao menos o condão de mudar a percepção de boa parte da sociedade, não somente para os problemas do país, mas, sobretudo para aumentar o desejo e a atitude de muitos em direção aos valores individuais, fazendo florescer nos brasileiros um sentimento mais individualista e voltado exclusivamente para as necessidades imediatas das próprias pessoas.


História de Brasília
Se há um setor em Brasília que não merece ser multado é aquele. São industriais que acreditam em Brasília, construíram, montaram, em muitos casos, maquinaria custosíssima, e hoje não têm a mínima assistência dos poderes públicos, a não ser na hora do imposto ou da multa. (Publicado em 14/01/1962)

O Defeito Borboleta

A Teoria do Caos, que serve como base para o chamado “Efeito Borboleta”, é uma lei do universo, ao mesmo tempo interessante e assustadora. Segundo a teoria, mesmo uma minúscula alteração no início de algum evento, como o bater das asas de uma borboleta, por exemplo, pode modificá-lo de forma integral, gerando uma cadeia de outros eventos completamente distintos do que seria a linha original.

Lembrei-me desse tema porque hoje, como sociedade, vivemos um eterno exercício do “se”, apontando erros evidentes dos poderes e sonhando com o lugar de superação que poderíamos estar se as decisões, desde o início, tivessem sido diferentes.

O meteorologista americano Edward Lorenz, estudioso da teoria nos anos 60, calculou que um fenômeno aparentemente insignificante, como o deslocamento de ar ocasionado pelo batimento das asas de uma borboleta, poderia causar um tornado no Texas. Quando penso nisso, é irresistível imaginar como teria sido diferente o início do ano de quem perdeu um pai, um filho, mãe, uma amiga ou um colega de profissão. Especialmente este ano perdemos muitos advogados e advogadas. Ainda mais do que no fim do ano passado, que também foi duro por sinal. Quisera eu criar um defeito nesse efeito borboleta para evitar a infindável sequência de homenagens a colegas, amigos e amigas, notáveis seres humanos que partiram vítimas da implacável covid-19.

Desde setembro do ano passado, a média de notas de pesar no website da OAB/DF tem sido superior a uma por semana, formando um obituário longo, saudoso desses grandes talentos e chocante pela velocidade do seu crescimento.

Tanto que estamos nos preparando para lançar um memorial em nosso ambiente digital, para guardar a memória da advocacia, para lembrar dos nossos e também para jamais esquecer desse momento tão difícil e das lições que nos permitirão impedir (tomara) a repetição desse cenário.

E que cenário! Nos jornais não se passa um dia sem que sejam apontados os erros muitos que nos trouxeram até aqui. 300 mil mortos! E poderiam ser tantos menos...Se as medidas sanitárias tivessem apoio incondicional das autoridades em uníssono, se tivesse havido posicionamento rápido na aquisição dos imunizantes, se o relaxamento do confinamento tivesse sido mais ordenado e gradual, se, se, se.

Enfim, não podemos voltar no tempo e reparar as coisas. Mas podemos melhorar daqui para frente, podemos descruzar os braços e nos comprometer com a solução que está ao nosso alcance.

Recentemente, o Conselho Federal da OAB, por recomendação da seccional do DF, entrou com ADPF obrigando o governo a adquirir vacinas. A própria casa estuda com rapidez a criação de um fundo para comprar outras mais. Oferecemos nossas instalações para multiplicar os pontos de vacinação e estamos apoiando a sociedade civil em diversas frentes para mudar o curso das coisas. Cada ato vale, cada minuto conta.

Aliás, sua máscara também conta, bem como o álcool que passa em mãos. A reunião presencial que você pode evitar, o delivery do comércio local que você pode pedir. Tudo ajuda muito!

Seu ato individual pode parecer pequeno, nosso esforço isolado pode parecer enxugamento de gelo, mas não devemos nos distrair de nossos objetivos pensando nisso.

Assim como o vírus se modifica, criando novas cepas mais transmissíveis e amplia sua letalidade, devemos adaptar nosso campo de ação, adquirindo posturas mais seguras, estratégias de imunização e gerando modelos alternativos de convivência segura.Potencialmente, cada um de nós pode realizar o ato que transformará tudo.

O cinismo de Calígula

 (crédito: Caio Gomez/CB/D.A Press)
crédito: Caio Gomez/CB/D.A Press

A OMS não tira os olhos de nós. O Brasil registrou 21% das mortes por covid-19 entre todos os países na semana de 7 a 14 deste mês e também ficou na liderança no número de novas contaminações globalmente, de acordo com balanço publicado ontem pela Organização Mundial da Saúde (OMS).

A tragédia brasileira vai na direção de novas mortes globalmente por causa da pandemia. O novo balanço da OMS coincide com estudo da Fiocruz O Brasil enfrenta, hoje, o maior colapso sanitário e hospitalar da história.

O avanço do vírus no Brasil causa ainda mais preocupação entre especialistas no exterior com as declarações do novo ministro indicado para a Saúde, Marcelo Queiroga, de que foi convocado pelo presidente Bolsonaro para “dar continuidade” ao trabalho realizado até o momento no combate à pandemia no país.

Em uma mensagem direta ao governo federal, o plenário do Tribunal de Contas da União (TCU) anunciou que “tudo o que estiver ao alcance” deve ser feito para viabilizar as compras das vacinas contra a covid-19. Também recomendou que sejam evitados “pretextos burocráticos” para justificar o adiamento da aquisição dos imunizantes.

O anúncio foi feito durante a análise de uma consulta protocolada no início de março pelo ministro da Saúde, Eduardo Pazuello.

Entre os questionamentos estava a possibilidade de pagamento antecipado de vacinas e as cláusulas de não responsabilização dos laboratórios por eventuais efeitos diversos. Também foram levantadas questões sobre as regras para o processo de compra de vacinas no âmbito do Covax Facility, consórcio liderado pela OMS para distribuição de imunizante entre os países em desenvolvimento.

O TCU demonstrou insatisfação com o desempenho do Ministério da Saúde e deixou claro que o órgão tem sinal verde para comprar as vacinas. “O que queremos, basicamente, é tranquilizar os gestores do Ministério da Saúde para que busquem implementar o Programa Nacional de Imunização abrindo o leque de possibilidades de contratação de vacinas”, afirmou o ministro Benjamin Zymler, relator da consulta.

Na mesma linha, o ministro Bruno Dantas afirmou que devem ser evitados subterfúgios burocráticos. “É preciso dizer com todas as letras: “Para comprar a vacina o governo pode fazer tudo o que estiver ao seu alcance. Que não sejam usados argumentos ou pretextos burocráticos para se evitar ou retardar uma decisão como essa”.

“O mundo está olhando para o Brasil como um mau exemplo nessa política de vacinação e nós temos o melhor aparato imunizatório da América Latina”, afirmou o ministro Vital do Rêgo, ao lembrar que o país imunizou 90 milhões de pessoas em uns três meses, durante o surto de H1N1.

Em agosto de 2020, o TCU determinou ao Ministério da Saúde que apresentasse um cronograma detalhado para o processo de vacinação. A pasta não apresentou os dados e, por meio da Advocacia-Geral da União, recorreu da decisão do tribunal.

Dá para acreditar em tanta incompetência?

O governo é incapaz, insensível e visto como o mais desastrado no combate à pandemia, mormente pelas populações mais pobres e críticas do Brasil, no eixo mais antigo do país (Sudeste-Nordeste). Estão decepcionados, por justas razões.

Dizer que o seu desgoverno tem feito muito é mentira. É mais fácil pegar um mentiroso do que um coxo, reza o ditado popular. Pois não foi o mesmo mitômano quem disse que governadores e prefeitos o impediram de fazer as coisas?

Por ele, estaríamos todos, de mãos dadas tecendo loas ao Imperador, como se fosse o vaidoso Calígula, o grande vencedor.

É pura retórica — não no Senado Romano, mas no Coliseu — de governante incapaz a praticar seu esporte favorito, ou seja, botar a culpa nos outros. Ora é a mídia, ora é o Congresso, ora é o Supremo Tribunal Federal.

A história dirá quem foi, é (e será) um presidente incompetente.

O novo ministro da Saúde, o quarto, nos vem com um discurso ambíguo, no qual defende a “política de saúde do presidente Jair Bolsonaro” e, ao mesmo tempo, destaca a importância das “evidências científicas” na condução da pasta, o que é uma contradição. Bolsonaro é contra as medidas de governadores e prefeitos para conter a propagação do vírus e evitar o colapso do Sistema Único de Saúde (SUS). Queiroga está deslumbrado com o cargo, mas completamente perdido diante da gravidade da situação.

Com a saída de Pazuello, não haverá uma transição, mas continuidade da política que estava sendo implementada por ele. Nenhuma mudança na equipe do ministério, formada por militares, foi anunciada. Nem será!

Até parece que estamos no coliseu romano, com uma diferença, quem está na arena a mercê das feras é o povo. As arquibancadas estão vazias e silentes como num funeral. Salve Calígula, viva o Imperador!

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