O presidente Jair Bolsonaro promoveu mudanças em seis ministérios para tentar aplacar as cobranças políticas em relação ao governo, mas, ao mesmo tempo, manter acesa a chama de seus apoiadores. As trocas, que começaram pelo Ministério de Relações Exteriores, com a queda de Ernesto Araújo, são vistas com bons olhos tanto no Congresso quanto entre agentes econômicos, mas serão necessárias ações efetivas dos novos ocupantes dos cargos para que o clima de tensão que impera hoje no país seja dissipado. Não se pode esperar seis por meia dúzia.
O Brasil vive um momento dramático em que o governo deve ser o vetor de soluções, não de problemas. A substituição de Ernesto Araújo pelo embaixador Carlos Alberto França abre um horizonte importante, pois se espera que ele recupere a relevância do Itamaraty, ao retomar o diálogo e a diplomacia em vez do confronto e do radicalismo. O Brasil, com Araújo como ministro, tornou-se um pária internacional, criando desgastes com os principais parceiros comerciais do país. Não por acaso, o Brasil enfrenta sérios problemas para adquirir vacinas e conter a disseminação do novo coronavírus.
É na mudança mais surpreendente, a do general Fernando Azevedo e Silva pelo também general Braga Netto no Ministério da Defesa, que reside, porém, as maiores atenções. Teme-se que a separação entre governo e Forças Armadas, como previsto na Constituição, seja deixada de lado, e a política entre de vez nos quartéis. Sabe-se que o presidente Bolsonaro deseja ter mais influência nos comandos do Exército, da Marinha e da Aeronáutica. O sinal de alerta para o risco de politização entre os militares foi dado pelo próprio Azevedo, em sua carta de demissão. Ele disse que sempre se preocupou em garantir o papel institucional das Forças Armadas.
O presidente também procurou agradar ao Congresso, ao entregar a Secretaria de Governo ao Centrão, na figura da deputada Flávia Arruda(PL-DF), e tentar conter o descontentamento de policiais com a nomeação de Anderson Torres para o Ministério da Justiça. Assim como necessita manter a boa relação com parlamentares, precisa impedir que um grupo importante da sua base eleitoral se esvaia. Há uma queixa generalizada das forças de segurança em relação à PEC Emergencial que permitiu ao governo congelar os salários de servidores quando as despesas superarem o limite de 95% das receitas.
A dança das cadeiras não significa que o governo não precise de mais ajuste. Há urgência em fazer com que toda a máquina pública se volte para o combate à pandemia do novo coronavírus. E esse movimento deve partir do próprio presidente da República, que ainda resiste em admitir a gravidade da crise sanitária que já ceifou a vida de quase 315 mil brasileiros. Mudanças são bem-vindas, mas desde que realmente sejam para melhor. O Brasil, infelizmente, tem a tradição de que tudo pode piorar. Sendo assim, os resultados da nova estrutura da Esplanada devem significar ganhos para a população.
O tempo será crucial para mostrar se estamos diante de paliativos ou de real intenção de corrigir erros que empurraram o Brasil para a beira do abismo. A população anseia por dias melhores na saúde e na economia. Todos querem a vida de volta. Não podemos ver as mudanças no governo como um perigo de retrocesso, mas, sim, de esperança. O relógio já está correndo.
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