OPINIÃO

Visto, lido e ouvido — Resumo da ópera

Correio Braziliense
postado em 31/03/2021 06:00

Por Circe Cunha (interina) // circecunha.df@dabr.com.br

Reforma ministerial ou uma simples dança das cadeiras, em que um ou mais dos participantes sempre vão ficando de fora da roda ou, nesse caso, do governo. Essa é uma das dúvidas, talvez a menor de todas, que vai ficando na mente da população sobre as demissões relâmpagos de alguns ministros e a realocação de outros em postos que ficaram vagos. A única certeza que se passa a quem tem acompanhado a ciclotimia vivida e induzida pelo atual chefe do Executivo é que esses remanejamentos de última hora se dão pela própria instabilidade, até emocional, experimentada diante das pressões vindas, ao mesmo tempo, do Congresso, do Supremo, das Forças Armadas e de boa parcela da população diante da montanha de mais de 300 mil cadáveres da covid-19, que, para muitos, é resultado de um conjunto errático de políticas em todas as áreas, sobretudo na Saúde.

O que se aposta nessas mudanças repentinas é que, assuma quem vier assumir, o presidente Bolsonaro não mudará significativamente seu modus de governar. Analistas políticos vem, há algum tempo, alertando para o fato de que o pretenso apoio dado pelo Centrão, dentro de uma governança e estabilidade hipotética, se dá da seguinte forma: esse bloco não vende o apoio finalizando determinada negociação. O Centrão aluga seu apoio para uma situação específica a preços altos e, depois, recolhe essa escora sem o menor constrangimento. Trata-se aqui de uma espécie peculiar de presidencialismo de coalizão.

Ao escancarar as portas do Palácio do Planalto a esse grupo por completa falta de alternativa, Bolsonaro assumiu os riscos que esse tipo de apoio traria cedo ou tarde. Preferiu seguir adiante, mesmo sabendo que esse tipo de amizade dura para sempre ou até que um “remédio amargo” surja de repente.

Com relação aos militares, para quem o atual governo, orientou seu gabinete e algumas atuações, a questão, para ficar no linguajar popular, é que o comando das Forças Armadas chegou à conclusão de que o apoio incondicional a um governo que não se entende iria “queimar o filme” da instituição, ou seja, prejudicar o delicado apoio conseguido com muito custo, depois de 20 anos de ditadura, junto aos brasileiros.

Com o Supremo, os entreveros vêm de longe, com ameaças, inclusive, de fechamento da Corte e outras rinhas nonsense, o que, de certa forma, reduziram as relações entre ambos ao que manda o protocolo. Trata-se da tão comentada solidão do poder, observada por muitos presidentes no passado e que se resume a uma espécie de confinamento do mandatário no mal-assombrado Alvorada, cercado de seus mais íntimos colaboradores e família. No caso de Bolsonaro, em que os filhos formam com ele uma espécie de gabinete consultivo permanente, esse seria no que vai se resumindo o governo atual.

 

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