OPINIÃO

Artigo — Cuba-EUA: Antagonismos e paradoxos. O que dirá Biden?

Correio Braziliense
postado em 06/04/2021 06:00

Por EMBAIXADOR PEDRO MOZON — Cônsul geral de Cuba em São Paulo

A história das relações entre Cuba e Estados Unidos depois do triunfo da Revolução Cubana em 1959 está cheia de fortes antagonismos e verdadeiros paradoxos. Por um lado, existe uma Cuba virtual funesta, que foi construída pelos poderosos vizinhos do norte e que são divulgadas continuamente por grandes meios de imprensa e, por outro, a Cuba real, que é a que desfrutam os cubanos, muitos amigos e turistas que nos visitam.

Poderia falar profusamente desse tema, uma vez que já são mais de 62 anos de agressões contra essa pequena ilha do Caribe, cujo único pecado foi apegar-se obstinadamente à sua independência, soberania e autodeterminação.

Por isso, neste artigo se opõe, sinteticamente, os qualificativos promovidos pelos Estados Unidos contra alguns atributos da realidade cubana.

EUA dizem: “Em Cuba não há democracia”.

Cuba diz: “O povo participou realmente no governo do país”. Isso é demonstrado em:
– Nas eleições a população elege seus representantes de bairro sem intervenção partidária; não importam ideologia, posição política, raça, sexo e inclinação sexual. Vota mais de 85 %, sem presença policial, nem violência. Crianças “protegem” as urnas e se elege por biografias, não promessas;
– O povo se identificou e é protagonista das políticas que distinguem o país, por isso em Cuba pode-se falar de autêntico governo do povo;
– Os cubanos participaram massivamente na alfabetização, na defesa do país, vacinações periódicas e na proteção contra desastres climáticos, etc., e são históricas as manifestações em apoio ao governo e contra o bloqueio.
– Consulta-se a população sobre governo, economia e sociedade. Múltiplas opiniões críticas se insertam nas políticas estatais. Mostra recente foi a Constituição de 2019. O povo contribuiu com milhares de opiniões ao projeto e se aprovou por mais de 86% em referendo popular, em votação secreta e frente a uma campanha antagônica de EUA;
– Os cubanos participaram massivamente em múltiplas missões solidárias. Centenas de milhares ajudaram na independência de Angola; mais de 400 mil médicos e o contingente Henry Reeve colaborou em muitos países contra a covid-19 e no auxilio contra catástrofes naturais. Cuba impulsionou projetos de alfabetização internacionais;
– O povo apoia e está orgulhoso pela decisão de oferecer atendimento médico gratuito a mais de 26 mil crianças contaminadas no acidente nuclear de Chernobyl e pela existência da Escola Latino-americana de Medicina, que formou milhões de médicos do mundo pobre;
EUA dizem: “Cuba não respeita os direitos humanos”.

Cuba diz “Os direitos humanos dos cubanos não são etéreos, são tangíveis, beneficiam a maioria do povo”. É precisamente isso o que os mantêm muito unidos no apoio ao sistema e ao governo revolucionário.

– Em Cuba desapareceu a discriminação legal e estrutural da mulher e o racismo;
– A atenção médica e educação são gratuitas e universais. A mortalidade materna e infantil está entre as mais baixas do mundo, a esperança de vida, é uma das mais altas, o nível de HIV é muito pequeno e não se transmite de mãe para filho;
– Apesar do bloqueio, há uma prevalência muito baixa de subalimentação. Não existe desnutrição infantil severa; não há adultos, nem crianças vivendo nas ruas;
É um país muito seguro com níveis mínimos de delinquência, pois está ausente a polarização crítica da riqueza, e os níveis da educação e cultura são altos;
– Embora o povo seja muito rebelde, não há manifestações populares de relevância contra o governo, nem repressão policial e tortura, o que é significativo;

O bloqueio dos EUA dificulta o acesso a recursos científicos e tecnológicos e deveria frear o desenvolvimento científico e tecnológico em Cuba.

Certo, mas, paradoxalmente, a escassez estimulou a iniciativa dos cubanos, graças aos altos níveis de educação, a política estatal e o orgulho nacional. Foi feito muito com muito pouco. Comprovado, especialmente, na educação, na medicina, na biotecnologia e na farmacêutica.

Por isso, mesmo com o bloqueio, muitos importantes medicamentos cubanos são únicos no mundo, contra o câncer, hepatites, meningites, diabetes, vitiligo, etc. Agora Cuba tem cinco vacinas candidatas contra a covid-19, duas delas em fase final. O povo estará vacinado em 2021 e poderemos exportar o medicamento para outros países.

Finalmente, vale a pena se preguntar se a administração Biden será capaz de atuar com humanismo e sentido comum em relação a Cuba.

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