OPINIÃO

Artigo:Para sempre romântico

Irlam Rocha Lima
postado em 13/04/2021 06:00

Caetano Veloso estava no exílio, por determinação da ditadura militar, quando, em 1971, depois de visitá-lo em Londres, Roberto Carlos compôs para ele Debaixo dos caracóis dos seus cabelos, na qual, em síntese, falava da saudade que o tropicalista sentia do Brasil. Sete anos depois foi a vez de Caetano retribuir o gesto solidário do Rei ao lhe presentear com Força estranha. Um trecho da letra diz: “Por isso é que eu canto/ Não posso parar/ Por isso essa voz tamanha no ar”. Desde a primeira vez que ouvi este clássico da MPB, passei a imaginar como ele soaria no vozeirão de Agnaldo Timóteo.

Ele não a gravou, mas por outro lado Roberto e Erasmo Carlos são os autores de Meu grito, a música registrada num compacto simples (vinil), em 1967, que alavancou a carreira de Agnaldo. Desde então, ele passou a ser considerado, com inteira justiça, o maior cantor romântico do Brasil. Com o apoio de Ângela Maria — de quem foi motorista — se lançou no cenário musical do país, mas foi Cauby Peixoto quem o incentivou a mudar-se para o Rio de Janeiro e seguir a carreira artística.

À época, Agnaldo cantava na noite em Belo Horizonte e foi convidado para abrir os shows de Cauby nas cidades mineiras de Caratinga, Governador Valadares e Teófilo Otoni, como ele me contou em entrevista que foi publicada no Correio em 24 de agosto de 2017. Naquele dia, ele fez apresentação na cidade para lançar o álbum Obrigado, Cauby e deixou o palco ovacionado pelos fãs brasilienses, que superlotaram o Teatro dos Bancários.

Dois anos antes, o intérprete de Conceição havia participado da gravação ao vivo do CD e DVD comemorativo do cinquentenário da trajetória artística de Agnaldo, intitulado 50 Anos de estrada asfaltada. Esse grande nome da história da música popular brasileira, que no dia 3 último se tornou outra vítima da pandemia de covid-19 no meio artístico, deixou um precioso legado para os apreciadores da legítima música romântica, representado por quase 80 discos — entre LPs, CDs, compactos e DVDs e incontáveis sucessos. Com certeza, na memória afetiva dos fãs se mantêm vivíssimas canções como Os verdes campos da minha terra, A galeria do amor, Os brutos também amam, Perdido na noite, além das versões de A casa do céu nascente, A casa de Irene e, claro, a citada Meu grito — o maior hit.

Outra grande virtude do cantor caratinguense — conterrâneo do cartunista Ziraldo e do biógrafo Ruy Castro — era a generosidade. Companheiros de ofício que enfrentavam dificuldades eram ajudados por ele. Torcedor fanático do Botafogo, pagou o velório do genial Mané Garrincha, que morreu sozinho e pobre. Recentemente, o calçadão do estádio Nilton Santos (Engenhão) passou a se chamar Agnaldo Timóteo, por meio de projeto do vereador carioca e também botafoguense César Maia. Aliás, assim como Agnaldo, César Maia teve iniciação política partidária, influenciado pelo eterno líder do PDT Leonel Brizola.

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