OPINIÃO

Visto, lido e ouvido — O povo brasileiro mudou. Para melhor

Correio Braziliense
postado em 15/04/2021 06:00

Desde 1960 Circe Cunha (interina) // circecunha.df@dabr.com.br

Estudiosos das comunicações e dos fenômenos das interlocuções humanas no Brasil foram todos, sem exceção, apanhados de surpresa com a eleição de um presidente da República consagrado pelas urnas graças ao poder de penetração e de irradiação instantânea das mídias sociais. Jornais, revistas, televisão e mesmo as rádios ficaram em segundo plano, perdendo o posto de quarto poder. Com isso, fica na poeira da estrada e do tempo os cidadãos Kane daqui e de outras bandas do mundo.

Isso é bom? É ruim? Só o tempo dirá. Colocada, desde sempre, como porta-voz da sociedade, a democracia muito deve ao papel da imprensa. Principalmente, numa América Latina acostumada a viver longos períodos com baixos índices de liberdade. De fato, o que assusta os especialistas dos fenômenos da comunicação é a chegada repentina de um novo player no jogo de convencimento da população. Claro que a eleição do candidato do PSL contou, também, com a enorme rejeição de seu concorrente e apoiadores transformados, nas mídias sociais, numa espécie de quadrilha criminosa.

Mesmo o poderio fatal das fake news, que transitam no mesmo espaço das novas mídias, foi incapaz de suplantar a vontade popular, dando vitória a um candidato que é o antípoda da turma de esquerda. Esse mesmo fenômeno havia acontecido durante a campanha de Barack Obama, nos Estados Unidos. Naquela ocasião, as mídias tradicionais também foram surpreendidas com esse novo poder que se anuncia.

De fato, ao disponibilizar a posse de um celular na mão de cada brasileiro, uma revolução silenciosa foi operada, inaugurando uma nova categoria de cidadão onipresente e de uma democracia direta e instantânea. Nem mesmo os maiores especialistas no assunto sabem ao certo se esse fato no futuro será positivo ou negativo. O certo é que essas novas tecnologias vieram para ficar e acabaram ocupando um espaço que muitos nem sabiam que existia.

Bolsonaro sempre se comunica diretamente com a sociedade e com seus apoiadores por meio das redes sociais. Utiliza esse recurso quando acha necessário ou quando um assunto passa a ocupar a preocupação dos cidadãos. O que não havia antes. Só vinha a público o recado de um presidente da República em horário nobre da TV. Era impensável ouvir a versão do comandante do país sobre qualquer assunto, em tempo real, ao alcance das mãos.

Obviamente que um fenômeno dessa magnitude em muitas partes do planeta tem sido estudado e esmiuçado de perto.

Em coletiva recente, o presidente, convencido da independência conquistada com as redes sociais, impediu, pela primeira vez na nossa história, que importantes redes de jornalismo tivessem acesso à sua entrevista. O que poucos entenderam até agora é que o poderio não é só das redes sociais.

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