Por EDUARDO CARVALHO — CEO da Dynasty Global Investments AG. Cofundador e CEO da Dynasty Global Investments, Eduardo Carvalho se dedica à empresa desde 2016
Há quanto tempo você, que lê este artigo, não paga uma conta com dinheiro em espécie? Certamente, faz muito tempo. Essa situação tende a se repetir com frequência maior ainda. Cada vez mais o chamado papel-moeda é coisa do passado e os novos tempos indicam que o futuro está acontecendo. Ou seja, o dinheiro digital e as criptomoedas deixam de fazer parte do distante universo da futurologia e já existem no dia a dia. Gigantes da economia digital como o PayPal, que recentemente liberou seus usuários para fazerem compras com criptomoeda, ou a Tesla— aceitando a mais conhecida das criptomoedas, o Bitcoin, como meio de pagamento por seus badalados carros elétricos — indicam mudanças radicais e uma nova tendência.
O sistema bancário americano, bastante relutante no início, acabou acompanhando essa nova tecnologia. O conservador Goldman Sachs abriu uma mesa de trading em criptomoedas e o Bank of America ainda não desenvolveu produtos digitais, mas declarou que o Bitcoin pode ser uma moeda para o e-Commerce. Para o Citibank, o Bitcoin tende a virar a moeda preferencialnos negócios globais, enquanto o Morgan Stanley vai mais além: seus clientes já têm acesso a três fundos de Bitcoin.
O Fidelity, gigante do varejo americano, dá mostras dessa confiança: acaba de entrar naSecurities and Exchange Commission (SEC) — a versão americana da Comissão de Valores Mobiliários — CVM) com um novo fundo em Bitcoin negociado em Bolsa. O JP Morgan foi o último dos grandes bancos a se posicionar sobre o uso das criptomoedas e recomendou, em fevereiro, que os clientes com perfil de investidor qualificado colocassem 1% do portfólio em Bitcoin.
Com esse cenário em constante transformação, os países tiveram que partir para inovações e mudanças no sistema financeiro. Enquanto a China se prepara para ter a moeda digital este ano, o Japão inicia a primeira fase de estudos para lançar o iene digital. Na Europa, os cenários variam muito. Segundo estudos do Banco de Compensações Internacionais — BIS, 36 países já se manifestaram favoráveis à digitalização. Entre os mais avançados estão China, Coreia do Sul, Suécia e Bahamas. O Banco Central Europeu, por meio da presidente, Christine Lagarde, deixou claro que o banco irá considerar o lançamento de uma moeda digital, sem abandonar o euro e o papel moeda.
Há milhares de criptomoedas no mercado. Todas têm em comum a tecnologia blockchain. Cada uma tem origens e aplicações diferentes. Para os países, por exemplo, uma das vantagens das criptomoedas é o baixo custo na distribuição do dinheiro: não há necessidade de imprimi-lo, nem de distribuição, tarefa que cabe hoje aos bancos. As empresas também buscam espaço nesse universo digital. A Atari lançou uma moeda corporativa — o Atari token — para torná-la referência para pagamentos na indústria de games.
Os Estados Unidos discutem a ideia e a Alemanha, por exemplo, não pretende emitir uma moeda digital, mas aprovou o uso legal das criptos. O Brasil, por intermédio do Banco Central, analisa a questão, mas sabe que é uma mudança de longo prazo. Afinal, 60% dos brasileiros ainda usam dinheiro vivo com frequência. Por ser um país de dimensões continentais, a realidade do Sudeste e do Sul é muito diferente da situação do Norte e do Nordeste. De qualquer forma, a internet não tem um padrão de qualidade uniforme em todo o território nacional. E isso dificulta, e muito, o uso das tecnologias digitais.
Enquanto o sistema financeiro tradicional debate, estuda e analisa essa verdadeira revolução econômica e cultural, o universo cripto vai ganhando espaço: o uso do Blockchain — a plataforma tecnológica que possibilitou a primeira criptomoeda do mundo, o Bitcoin, se amplia e ganha novos horizontes. Poderá ser usado em outros segmentos, como a energia, por exemplo. A atual estrutura dos geradores de energia solar nas residências, chamada de geração compartilhada, pode se conectar às redes de distribuição via blockchain e automatizar os pagamentos com total transparência dos processos. O setor de entretenimento também estuda o uso dessa tecnologia para desenvolver novos modelos de negócios.
Informações como essas chegam todos os dias em ritmo acelerado, o que, por enquanto, permite uma constatação segura: estamos assistindo ao surgimento do futuro que muitos imaginavam ainda estar distante, em algum ponto do horizonte. Seja qual e como for esse futuro, ele chegou, e é agora.
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