Por SACHA CALMON - advogado
“Bolsonaro: 300 mil vidas perdidas e crescendo. Você tem culpa.” A frase dura foi disparada por Rodrigo Maia (DEM), no Twitter. Isso porque o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) culpou o ministro da Saúde, general Eduardo Pazuello, pelo atraso na campanha de vacinação do Brasil e pela perda de popularidade. A revelação foi feita pela revista Veja, que apurou que Bolsonaro culpava Pazuello pelo atraso das vacinas.
Mais cedo, nas redes sociais, Maia (DEM) criticou diretamente o presidente e afirmou que “Bolsonaro é covarde” À noite, Maia repetiu, ao vivo, no programa Brasil Urgente, o que afirmou no Twitter. Procurado pelo apresentador do programa, Bolsonaro disse a Datena que não se pronunciaria sobre as críticas. “Não vou dar palanque para ninguém”, disse Bolsonaro rapidamente.
“Chamei, porque quem nomeia os ministros, quem determina a política é o presidente. Se o ministro errou, quem errou foi o presidente. O ministro é um subordinado do presidente. Quando ele quer transferir para o ministro a responsabilidade, é um sinal de covardia total”, afirmou ainda que se Bolsonaro “quer transferir para terceiros ou para o próprio ministério a responsabilidade, não merece estar onde está. Mas nós respeitamos o resultado das urnas, mas ele precisa respeitar também o seu papel. Quando ele transfere para terceiros a sua responsabilidade, ele é um covarde”. Ataque tão arrasador há tempos não se via e bem estruturado, além de veraz.
Maia também disse esperar que a imunização dos brasileiros não seja mais politizada nem leve em conta apenas sua origem. “Eu espero que tenha responsabilidade e respeite a decisão da ciência. A vacina do Butantan está aprovada, não precisa ficar procurando a vacina da Oxford na Índia para poder superar essa disputa boba entre ele e o (João) Doria, qual é a vacina que vai vacinar os brasileiros. O importante é que a gente reduza essa perda de vidas”, finalizou. A verdade é que hoje o Butantan fornece 80% das vacinas disponíveis (chinesa).
O governo federal, por meio de medida provisória, tentou requisitar vacinas, seringas e agulhas adquiridas pelos Estados para viabilizar a campanha nacional de vacinação; e outra, o jogo bruto do Palácio do Planalto para eleger os presidentes da Câmara e Senado, com apoio ostensivo, à base de liberação de verbas e loteamento de cargos, ao deputado Arthur Lira e ao senador Rodrigo Pacheco (DEM-MG), respectivamente. Essa é a nova, mas tão avelhantada política? Se é deu chabu, pois os dois são independentes e jogam para si próprios.
A medida provisória que pongava vacinas, seringas e agulhas dos estados foi uma saída do ministro da Saúde, Eduardo Pazuello, para resolver um problema criado por sua própria equipe: a não aquisição dos insumos básicos para a campanha nacional da vacinação em tempo hábil e a aposta numa única vacina, a de Oxford (produzida pela FioCruz). São tarefas que as equipes do Ministério da Saúde, em todos os governos, e todos os ministros que o antecederam, tiravam de letra, porque havia expertise de gestão no setor. Essas equipes foram desmanteladas e substituídas por militares arrogantes e inexperientes, a começar pelo secretário-executivo da pasta, que anda com uma faca ensanguentada na lapela, o broche de ex-integrante da unidade de operações especiais do Exército.
Decisão do ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Ricardo Lewandowski, proibiu a requisição das vacinas, seringas e agulhas adquiridas por alguns governos estaduais e prefeituras, entre os quais o de São Paulo. Por ironia, a vacina produzida pelo Instituto Butantan, em parceria com os chineses, a CoronaVac, que o presidente Jair Bolsonaro tentou desacreditar, acabou sendo comprada pelo Ministério da Saúde. São 100 milhões de doses que salvarão o governo federal do vexame de não ter como vacinar imediatamente a população.
Mas isso é toada já tocada. Atualmente a vacinação continua lenta. Irritantemente lenta. Mas nos Palácios de Brasília, estão todos vacinados. Nem o Presidente mostra sua cartela de vacinação. O Brasil que se dane. É preciso entoar loas aos governadores e prefeitos do imenso Brasil, cujo povo cordato não merecia sofrer tanto e ainda ser chamado de “maricas” pelo dono do poder presidencial. Mas algo nos agrada. Os chefes militares nomeados recentemente, como os antigos, são uníssonos ao falar das funções das Forças Armadas: são instituições de Estado. Servem à nação e não às pessoas, sejam elas um general ou um simples e passageiro presidente da República. Com isso, a fala de Bolsonaro que ousou falar em “meu exército” só pode ser o exército de milícias, jamais o Exército do Brasil.
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