Estamos diante de uma semana que pode se tornar histórica. Quis o destino que coincidisse com o aniversário de 61 anos de Brasília, cidade que traz no gene arquitetônico soluções tão necessárias ao mundo. Um dia após a celebração pela capital do país, líderes mundiais estarão em conferência virtual, na quinta e sexta-feira, para tratar sobre estratégias de enfrentamento às mudanças climáticas. Que possa ser, de fato, um marco rumo à construção de uma ampla economia voltada à sustentabilidade, pois todos temos a ganhar. Do contrário, igualmente, continuaremos a sofrer duras consequências, especialmente as populações mais vulneráveis. Por isso, é inteligente e oportuno que abracemos a causa.
Surpreeendentemente, na semana passada, o presidente Jair Bolsonaro, sempre tão contestado pela gestão ambiental – capitaneada pelo controverso antiministro Ricardo Salles — expressou em carta enviada ao chefe de Estado dos EUA, Joe Biden, a intenção de zerar o desmatamento ilegal no país até 2030 – desde que receba apoio internacional (milhões de dólares, para que fique claro). O objetivo é nobre, o financiamento é justo e necessário, mas há quem duvide da real capacidade do atual governo.
O primeiro motivo é óbvio e um tanto vexatório. Até agora, Ricardo Salles, que em alto e bom som explicitou o desejo de “passar a boiada” por cima do regramento ambiental, coleciona polêmicas de desserviço à sustentabilidade. Na mais recente, foi alvo de uma queixa-crime ao STF, apresentada por um delegado da Polícia Federal, por suposta proteção a madeireiros ilegais na Amazônia. Com uma personalidade desse porte à frente do Meio Ambiente, fica difícil acreditar em alguma solução verdadeira.
Há de se registrar, além disso, um tom quase chantagista do governo brasileiro ao reivindicar apoio financeiro para a proteção das florestas. O auxílio de outros países para essa missão é muito bem-vindo, mas o Brasil deveria, há muito tempo, ter assumido a tarefa de preservar esse patrimônio. Mas sob este aspecto, a atual gestão não é a única responsável, pois as administrações passadas falharam vergonhosamente em oferecer um plano que compatibilize geração de renda e proteção ambiental. Sim, é possível. Existem práticas que demonstram — permacultura, sistemas agroflorestais, bioconstruções, agricultura urbana, etc.
A pandemia vem ressaltando a proclamada necessidade de estabelecermos uma nova dinâmica de ocupação do planeta. A sexagenária Brasília nos oferece pistas nesse caminho. Cidades com mais espaços verdes, com possibilidades de produção de alimentos e menos dependência de transporte automotivo nos ofereceriam um mundo mais seguro e saudável. Infelizmente, nossa governança (e também a população em geral) ainda não compreendeu isso. Veja o recente exemplo da horta comunitária que foi destruída no Setor Comercial Sul, sob a alegação de que servia de esconderijo para traficantes — uma evidente perversão de valores: pois prendam os criminosos e libertem as hortas! No momento, com aumento de famílias em situação de insegurança alimentar, proibir as pessoas de plantar para comer é praticamente um crime hediondo. Como são desumanos alguns dos gestores do país...
Temos no Brasil mais de 14 milhões de desempregados. Seria oportuno perceber que é possível gerar postos de trabalho e renda com a prática de uma economia voltada à sustentabilidade. Toda a população, especialmente a mais carente, teria muito a ganhar em qualidade de vida. Que a cúpula de líderes mundiais para o combate às mudanças climáticas, nesta semana, possa ser frutífera na construção de soluções práticas.
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