Por Circe Cunha (interina) // circecunha.df@dabr.com.br Desde 1960
Em meio ao clímax da pandemia no país, pelo menos no que diz respeito à chamada segunda onda, a questão do meio ambiente, principalmente o problema dos altos índices de desmatamento, parece ter saído do foco da opinião pública, resumindo-se, agora, em preocupação central apenas para os ambientalistas de sempre e para outros devotados à causa da defesa de nossas florestas.
Nesses tempos incertos, obviamente que a questão central passou a ser a manutenção das vidas. Cientes desse vácuo e longe dos holofotes e da atenção geral, os grileiros e os madeireiros nunca tiveram tantas oportunidades e espaço para agirem. Com os órgãos de fiscalização esvaziados e colocados em descréditos pelo próprio governo, e com a Polícia Federal mantida em rédea curta pelo Executivo, as clareiras abertas, como chagas dilaceradas por bombardeios, vão se multiplicando ao longo do tapete verde.
Não fossem as observações contínuas e as medições realizadas por satélites de muitos países, esses seriam crimes que iriam permanecer para sempre escondidos de todos. O mundo observa o que vai se sucedendo com nossas florestas, e não há discursos ou promessas que nossas autoridades possam fazer nas assembleias e foros internacionais que eles já não saibam de antemão e com dados mais precisos do que os que possuímos.
Estamos mal na fotografia e não serão promessas vãs, do tipo que comumente são feitas em campanhas eleitorais, que irão convencer os outros países de que temos feito a lição de casa no tocante aos efeitos das mudanças climáticas. O mundo quer ver resultados e, por isso mesmo, fechou as torneiras de ajuda financeira destinadas à proteção do meio ambiente. São recursos que fazem falta ao setor, principalmente agora que o dinheiro vai ficando mais curto.
Por certo, não se faz política pública apenas com recursos. Antes de tudo, é preciso responsabilidade socioambiental emanada claramente pelo governo. Com ações efetivas, e não com projetos desenhados apenas no papel branco. Na falta de um conjunto de medidas concretas nessa área, muitas carteiras de investimento que poderiam vir para o Brasil simplesmente são encerradas.
Países como Canadá, Noruega e outros, que contam com fundos exclusivos para ser investidos em boas práticas ambientais, já desistiram do Brasil e do governo Bolsonaro. Nosso ministro do Meio Ambiente é visto lá fora como persona que trabalha contra a própria pasta e a favor dos madeireiros e garimpeiros, sendo costumeiramente citado por políticos de muitos países como alguém que mereceria ser investigado por sua conduta e declarações contra o meio ambiente.
A propaganda difundida em todo o mundo contra a política ambiental do Brasil não poupa nem o presidente nem seu ministro. Essa história de “passar a boiada”, confessada pelo próprio Ricardo Salles em reunião no Palácio do Planalto, já é de conhecimento mundial e tem prejudicado não só a imagem do país, como a questão dos fundos que poderiam vir ajudar na conservação.
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