Opresidente Jair Bolsonaro terá, nesta quinta-feira, exatos três minutos para tentar mudar a sua imagem perante o mundo em relação ao meio ambiente. O chefe do Executivo brasileiro participará da Cúpula de Líderes sobre o Clima, convocada pelo presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, encontro que será um marco da nova geopolítica internacional. Bolsonaro é visto como um defensor da devastação da Amazônia, do genocídio de populações indígenas, da grilagem de terras públicas e do desmonte da fiscalização ambiental.
É de enorme valor para o Brasil que Bolsonaro mude sua postura ante esse tema, visto como crucial para o futuro do planeta. Para isso, deve apresentar metas realistas. Só assim conseguirá convencer autoridades mundiais de que o país retornará ao rumo seguido até que ele chegasse ao governo, em janeiro de 2019. A desconfiança, porém é grande. Está certo que o líder brasileiro repetirá o mantra de que o Brasil já está cumprindo com sua parte na defesa do meio ambiente e na redução de gases de efeito estufa, com meta de zerar o desmatamento até 2030. Também reforçará que a preservação da Amazônia depende da ajuda de recursos internacionais.
Esses posicionamentos fazem parte da carta que Bolsonaro encaminhou a Biden na semana passada, documento que foi visto com ceticismo tanto pelo governo norte-americano quanto por especialistas em questões climáticas. A visão é de que de nada adianta o presidente brasileiro remodelar o discurso, mas manter à frente da política ambiental do país Ricardo Salles, acusado pela Polícia Federal de integrar uma organização criminosa especializada em desmatar a Amazônia para explorar madeira ilegalmente. A notícia-crime contra o ministro do Meio Ambiente já chegou ao Supremo Tribunal Federal (STF).
Bolsonaro, inclusive, reciclará “cinco eixos específicos” que são repetidos insistentemente por Ricardo Salles e que foram frisados na carta ao presidente dos Estados Unidos: aumento de ações de comando e controle em fiscalização policial, busca por regularização fundiária para identificar os donos das terras, zoneamento econômico e ecológico para apoiar áreas de produção, medidas de apoio à bioeconomia e cobrança por serviços ambientais, como a venda de créditos de carbono. O ministro estará ao lado do chefe na hora do discurso.
O Brasil, como se sabe, sempre foi referência na questão ambiental. Nas últimas três décadas, liderou todas as discussões sobre o tema. Agora, é visto como um pária, o que faz o país chegar acuado à Cúpula dos Líderes. A preservação do meio ambiente está no centro do debate econômico e tornou-se guia para decisões de investimentos e de comércio internacional. Não por acaso, empresários e banqueiros entraram com tudo no assunto. Também governadores e parte da sociedade civil se posicionam contra o governo federal, cuja agenda prevê, por exemplo, mineração em terras indígenas.
É verdade que parte da terrível imagem que o Brasil ostenta no exterior é amplificada pelo protecionismo de países que querem barrar produtos agrícolas brasileiros. Mas essa guerra se vence com ações concretas de combate ao desmatamento ilegal e às queimadas, ou seja, com políticas consistentes na área ambiental. Infelizmente, não é o que se tem visto. As porteiras abertas pelo ministro do Meio Ambiente para passar a “boiada” transformaram o país em um território livre para grileiros e madeireiros criminosos. Isso é inaceitável.
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