Um dos fatos estarrecedores no assassinato de Henry Borel, 4 anos — além, claro, da perversidade do crime —, é a quantidade de pessoas no entorno do garotinho que sabiam ou desconfiavam do sofrimento dele, mas nada fizeram que pudesse salvá-lo. Gente que se omitiu ou minimizou os pedidos de socorro e os sinais emitidos por ele.
Quando não denunciam os abusos, seja porque ainda não sabem falar, seja porque estão amedrontadas, crianças vítimas de violência dão demonstrações da tortura a que são submetidas. São indícios como choro sem motivo aparente, vômitos, diarreia, ansiedade, agressividade, tristeza constante, pesadelos frequentes ou insônia, distúrbios de alimentação, tendência ao isolamento, medo diante de certas pessoas, dificuldade de confiar em adultos. Lesões físicas, sem explicação plausível, também falam por elas.
Henry contou e sinalizou que estava em sofrimento profundo. A frase dele para o pai, de que “o tio machuca”, é de destruir a alma. Ele mudou de comportamento, vivia aterrorizado, chorava e tremia quando estava diante do sádico que o martirizava. Também aparecia com lesões pelo corpo. Mesmo com todas as indicações, ninguém agiu para mudar o destino atroz dele.
Marco Gama, presidente do Departamento Científico de Segurança da Sociedade Brasileira de Pediatria, diz no site da instituição: “As situações de violência doméstica que levam à morte crianças e adolescentes costumam ser casos crônicos, repetitivos, de violência progressiva, em que a vítima não recebeu a assistência e as medidas de proteção que deveriam ter sido tomadas para mantê-la viva, tanto dos outros familiares quanto da sociedade e do Estado”.
Crianças e adolescentes dependem de nós para viver com dignidade e segurança. Temos de ficar atentos aos sinais de maus-tratos contra eles e dar crédito aos relatos que fazem. Quem souber ou desconfiar de abusos físicos, psicológicos ou sexuais precisa denunciar, acionar a polícia, o conselho tutelar. E nem precisa se expor, se não quiser. Plataformas e canais, como new.safernet.org.br/denuncie, Disque 100 e o aplicativo Proteja Brasil, garantem o anonimato.Para Henry, o socorro não chegou. O que resta, agora, é a Justiça condenar severamente a escória que o trucidou. Mas há um sem-número de crianças que vivem rotina de terror e ainda podem ser salvas. Uma atitude e uma denúncia têm o potencial de livrá-las de sequelas e até da morte.
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