Desde 1960 Circe Cunha (interina) // circecunha.df@dabr.com.br
Nada como a pressão externa, a falta de recursos e algumas gotas de realidade para fazer o Executivo adotar um discurso totalmente oposto ao que vinha fazendo, com relação ao meio ambiente. Caso o governo adote na Cúpula do Clima, diante de 40 líderes mundiais e de uma plateia de bilhões de ouvintes, compromissos semelhantes àqueles feitos durante a campanha para a Presidência da República, abandonando depois uma a uma as promessas e dando uma guinada de 180º em sua administração, o preço da ousadia será impagável. Cúpulas mundiais não são como campanhas políticas eleitorais onde cada candidato promete o céu aos eleitores e, depois de eleito, descarta o discurso no lixo.
Até a Conferência, denominada COP 26, em novembro próximo, na Escócia, cada ação do governo, no tocante ao meio ambiente brasileiro, será acompanhada de perto pelos membros da Cúpula, já demasiadamente informados sobre a distância entre o que disse o presidente em seu discurso e a realidade do país. O desmonte promovido em órgãos vitais ao meio ambiente, como Ibama e ICMBio, para ficar apenas nesses dois exemplos, com cortes de verbas, demissões em massa, seguido de um processo de militarização dessas instituições, além do pedido de demissão de vários pesquisadores nos últimos dois anos, reflete o que é a política deste governo na área ambiental.
Essas medidas, algumas até de perseguição explícita a ambientalistas, refletem diretamente não apenas na quase inexistência de fiscalizações e multas, mas no aumento do desmatamento, extração ilegal de madeira, conflitos e mortes de índios, aumentos das invasões de terras, surgimento de garimpos ilegais, inclusive em áreas restritas e de proteção ambiental, além de uma quantidade nunca vista antes de conflitos generalizados, principalmente, na região amazônica e nas áreas de fronteira.
Todas essas informações são repassadas quase que imediatamente a muitos líderes mundiais, por pesquisadores e ambientalistas que, nesses últimos anos, têm feito seguidos pedidos de socorro ao mundo sobre a situação no Brasil. A urgência planetária para impedir que o planeta eleve a temperatura acima de 1,5ºC, ainda neste século, é uma medida conjunta sem precedentes, baseada em estudos científicos feitos pelos mais renomados cientistas de todo o mundo para salvar a humanidade de uma catástrofe iminente, por isso mesmo, irá requerer seriedade acima da média de todos os dirigentes comprometidos com esse objetivo.
É chegada a hora de o governo Bolsonaro dar um giro imediato de 180º em sua política ambiental, caso pretenda continuar ainda atuando como presidente. Trata-se aqui de um assunto por demais revestido de seriedade e de uma corrida, sem precedentes, contra o relógio do clima, a poucos minutos de marcar a meia-noite para a humanidade, por isso mesmo, não deveria ser confiado a políticos daqui e d’além mar e muito menos àqueles que já demonstraram, na prática, como não proceder com um assunto tão delicado e urgente.
É o que temos em mãos, e cabe a nós todos acompanhar e pressionar para que esse enredo tenha um final feliz, até em atenção e respeito às novas gerações.
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