Desde 1960

Visto, lido e ouvido

Revirando vestígios

Circe Cunha (interina) // circecunha.df@dabr.com.br
postado em 24/04/2021 20:01

Observando alguns catadores de papel, em sua labuta diária pela sobrevivência, o professor aposentado Zequinha Dantas, sentado calmamente em frente a padaria, como fazia todas as manhãs, teve subitamente a mente invadida por um turbilhão de imagens que o levou a recuar aos tempos do descobrimento do Brasil. Mas antes que recuasse tanto no tempo, viu-se na obrigação de introduzir sua jornada pelos caminhos naturais, que vai do início ao meio e ao fim. Em tom professoral, começou sua digressão: “Pelos hábitos de consumo de uma sociedade, é perfeitamente possível levantar dados que indicam quem são, o que pensam, o que esperam do futuro, qual o grau de desenvolvimento humano alcançado e uma infinidade de outras informações de inestimável valor histórico e antropológico.
Para os pesquisadores, uma área de descarte de lixo de uma cidade pode vir a se tornar um maravilhoso sítio de pesquisa, capaz de fornecer uma gama tão diversa e abundante de dados, por metro cúbico, que daria para preencher dezenas de livros narrando a saga e o destino de um determinado povo. É assim, por exemplo, que trabalham os antropólogos, quando se deparam com um sítio histórico qualquer, levantando cada centímetro quadrado do terreno em busca de vestígios deixados por antigas habitantes do local.
E por que essa tarefa de bisbilhotar fragmentos é tão importante para os seres humanos, que não existe sociedade que não a pratique desde sempre? A razão pelas quais sempre se prospectam as pegadas humanas sobre a Terra é porque elas indicam exatamente de que ponto do horizonte vieram essas marchas e para onde rumaram depois. Apenas essa informação pode dizer tudo sobre os caminhos traçados pelos seres humanos nesse planeta.
Com base nessa apresentação e diante do fato de estarmos atualmente na presença de uma sociedade, em grande parte, vorazmente consumista e, portanto, produtora, como nenhuma outra na história, de enormes volumes de lixos e de descarte diversos, que ideias farão os futuros antropólogos desse nosso tempo, quando se debruçarem sobre esses sítios, formados por verdadeiras montanhas de lixo e detritos, produzidas ao longo de séculos, desde a primeira fase da revolução industrial? Alguns dirão: o processo de reciclagem e reaproveitamento do lixo, cada vez mais usual e necessário, fará desaparecer os vestígios deixados por esses povos.
Nesse ponto, os seres humanos terão atingido um outro patamar de evolução, mais perto, quem sabe, de um equilíbrio com a natureza. E é justamente nesse exato ponto de evolução humana que estão aqueles a quem ironicamente denominamos silvícolas ou índios. Chegamos agora, talvez, num porto de águas calmas, onde é possível refletir, com mais clareza, sobre 500 anos de aculturação europeia em terras tupiniquim.
Diante da imagem de um índio que hoje percorre algumas praias paradisíacas da Bahia, vendendo seus artesanatos tradicionais aos turistas pouco interessados nessas quinquilharias, é possível se perguntar, olhando para o passado: em que praia, coberta por grandes camadas de areia, estariam enterrados os primeiros colares oferecidos aos primeiros navegantes, em troca de espelhos e outros apetrechos de além-mar? Quinhentos anos depois, e sob montanhas de lixo que irracionalmente acumulamos em nossas cidades, o que foi feito de todos nós? Indagou, para logo em seguida responder: ficamos aqui parados todo esse tempo, vendo nossos concidadãos revirarem nossos fragmentos, em latas de lixo, em busca de nossa identidade perdida”, finalizou com um gole de café frio e se foi.

 

A frase que foi pronunciada

“Lixo é o excesso do objeto de desejo.”
Zygmunt Bauman, sociólogo

 

Ainda Sedes

» Recebemos mais informações sobre o imbróglio sem fim acerca das nomeações no concurso realizado para a Secretaria de Desenvolvimento Social em 2018. A justificativa para a dificuldade em dar posse aos aprovados é a Lei Federal n°173/2020, que restringe nomeações ao número de vacâncias ocorridas durante a pandemia de covid-19. No entanto, os aprovados afirmam, com base em documentos oficiais, que há vacâncias a serem preenchidas.


Falta administração

» Os aprovados para o cargo de Especialista em Assistência Social para a Sedes entraram em contanto com as três secretarias que compõem a pasta da Assistência Social no Distrito Federal: Sedes, Secretaria da Justiça (Sejus) e Secretaria da Mulher (SM). O objetivo era obter, de forma clara e oficial, quantas vacâncias específicas para o cargo existem hoje na pasta. Há oito vacâncias para o cargo Especialista em Assistência Social na Especialidade Administrador! As respostas foram publicadas no Blog do Ari Cunha.


Trapaceio

» No entanto, como já não bastasse toda a ilegalidade do arredondamento das notas para baixo, já relatada muitas vezes por esta coluna, e, apesar da clareza de que essas vacâncias pertencem aos administradores aprovados no concurso, após acordo realizado entre Sedes, Secretaria de Economia e o Sindicato dos Servidores da Assistência Social e Cultural do GDF, sob o aval da Procuradoria Geral do DF, em dezembro de 2020, ficou acordado de que as vacâncias poderiam ser ocupadas por qualquer outra especialidade da carreira, colocando em risco a nomeação desses aprovados, que já sofrem com a quantidade excessiva de cargos comissionados na área.


Não dá pra piorar

» Para finalizar o show de horrores, na última sexta-feira, a Secretaria de Economia do Distrito Federal, publicou, em sua página oficial no Instagram, os planos para a retomada dos concursos públicos no DF com base na Lei de Diretrizes Orçamentárias 2022, cuja audiência pública acontecerá no dia 28 de abril. Pasmem!
A área da Assistência Social não foi mencionada como uma das prioridades. A publicação
pode ser visualizada no
Blog do Ari Cunha.


Convite

» Depois de tudo isso, o que
se espera é a atenção da secretária Mayara Noronha (Sedes), e as secretárias Marcela Passamani (Sejus) e Ericka Filippelli (SM), para essa causa, e que essa audiência pública para a LDO 2022 renda bons frutos para os Administradores aprovados no concurso da Sedes. Em meio à crise resultante da pandemia e suas consequências concretas na Assistência Social — ou falta dela — vivenciadas por todos os habitantes do DF, é indispensável que a área da administração seja considerada como prioritária. Leia, no Blog do Ari Cunha, o texto enviado pelos aprovados para o cargo de Administrador.

 

História de Brasília

O Hospital Distrital, que inaugurou sua nova mesa telefônica com champanhota e tudo, está no mesmo caso. Não melhorou coisa nenhuma. E se melhorou foi tão pouco que não deu para o público notar. Quem quiser tente para experimentar. (Publicada em 01.02.1962)

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