OPINIÃO

Artigo: Faces da violência

Cida Barbosa
postado em 29/04/2021 06:00

Durante meses, uma menina de 11 anos, de Belo Horizonte, sofreu abusos sexuais do marido da tia. Quando o crime foi descoberto por um parente, a criança tornou-se alvo de outra violência: familiares a culparam pelos estupros e tramaram para proteger o molestador.

A própria tia, esposa do predador sexual, foi uma das mais cruéis com a menina. Disse para os familiares não acreditarem na criança “porque era muito mentirosa e que, se fosse comprovado, que era uma safada”! Meus Deus, que pessoa deplorável. A avó da garotinha, responsável pela guarda dela, não ficou muito atrás. Defendeu veementemente que o crime não fosse denunciado. Outros parentes concordaram. Mas o primo que descobriu a barbárie se negou a participar do pacto nefasto e levou o caso à polícia.

Um drama como esse se repete com uma frequência aterradora. Além de terem o corpo violado, crianças são desacreditadas e até hostilizadas pela própria família. Fazem-nas sentir como se tivessem procurado a violência de que foram vítimas. É o horror em diversas formas.

Meninos e meninas, muitas vezes, não têm o discernimento de que estão sofrendo abusos, justamente porque o crime costuma ocorrer no ambiente familiar, cometido por alguém de quem eles gostam: pai, irmão, tio, avô, por exemplo. Eles ficam submetidos à atrocidade até que compreendam o que está acontecendo ou alguém denuncie.

Quando crianças e adolescentes revelam as agressões é preciso acreditar neles, apoiá-los, fazer com que se sintam seguros. Lembrá-los de que são vítimas, não culpados pela violência que sofreram. Desacreditá-los é revitimizá-los.

Os abusos sexuais têm consequências profundas na saúde física e mental e no desenvolvimento psicossocial de meninos e meninas. Muitos apresentam alterações cognitivas, atrasos na escola, agressividade, pesadelos frequentes, depressão, ansiedade, baixa autoestima, isolamento, culpa. As sequelas continuam na vida adulta.

Quem desconfia ou sabe do crime hediondo e nada faz se torna cúmplice. Com o silêncio, permite a pedófilos seguirem sua trajetória de ataques a indefesos, impactando para sempre a vida deles.

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