CAPITAL

Sobre escolhas, lugares, pessoas e pandemia

O dia passou, mas Brasília não passa nunca. Na última quarta-feira, esta cidade fez 61 anos. E posso dizer, sem sombra de dúvida, que já não moro aqui simplesmente

O dia passou, mas Brasília não passa nunca. Na última quarta-feira, esta cidade fez 61 anos. E posso dizer, sem sombra de dúvida, que já não moro aqui simplesmente. Brasília é que mora em mim. Pode parecer um joguete bobo de palavras, mas o fato é que tem grande diferença entre uma coisa e outra. Quando a gente entende que um lugar nos pertence, com tudo o que há de bom e ruim, passamos a ser abrigo em vez de apenas ter um abrigo.

Quando falo em ser uma morada, falo de abrir o coração e acolher. Escolhi Brasília para assentar meus sonhos de crescer, lá atrás, no jornalismo. Escolho todos os dias amar a cidade das minhas oportunidades, dos meus filhos, dos muitos amigos que fiz. Nas minhas longas caminhadas por aqui e por ali, acolho a capital com tudo o que ela representa, inclusive os defeitos de cidade grande que aparta pessoas e é profundamente desigual. Reconhecer e lutar diariamente para jogar luz sobre os problemas faz parte da minha convivência com Brasília.

Em meio à pandemia, ainda tenho a sorte de olhar para o verde da minha janela. Também tenho a sorte de estar à frente de um jornal que, desde o nascimento da capital, conta a história de brasilienses incríveis. Por essa razão, juntamos as duas coisas no caderno especial, editado pelo jornalista José Carlos Vieira, que publicamos no dia do aniversário e que permanece em nosso site.

Em meio à pandemia, esta cidade me apresenta e nós apresentamos ao leitor histórias de pessoas, que, mesmo diante da necessidade de confinamento, conseguem ver além. Enxergam o outro. Como dona Gracilda, de 77 anos, que acorda bem cedinho para fazer o café da manhã que será servido a pacientes da oncologia do Hospital de Base. Tantos mais...

Para esses brasilienses, solidariedade é atributo que independe de estarmos ou não no momento mais crítico deste século. Olhar para o exemplo deles deixa mais fácil responder à pergunta que tenho feito a amigos nos últimos tempos: o que a pandemia mudou em você? Eu confesso que a pandemia direcionou meu olhar. Para o outro, para as escolhas que tenho de fazer, para o que temos aqui e agora. Me levou a estreitar os laços com amigos queridos e que acrescentam demais à minha caminhada.

Esse vírus nos provou que o futuro chega rápido demais e pode ser assombroso. É uma terra sem lei nem ordem, que não podemos controlar. Precisamos cuidar do futuro olhando para o presente, para a cidade, para as pessoas em volta. Faça a coisa certa hoje, todo dia, por você, pelo próximo, por Brasília. Só assim temos chance de colher melhores frutos adiante.